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Maior estranhamento

Ingo Mannteufel (rr)10 de agosto de 2008

Não só a intervenção militar, mas também a guerra de informação entre a Rússia e a Geórgia atingiu um novo patamar. Rússia e Ocidente se afastarão ainda mais com o conflito, diz chefe da redação russa.

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Não há mais dúvida: a intervenção militar georgiana na Ossétia do Sul deu início a uma guerra entre Geórgia e Rússia, tradicional protetora da província separatista. Enquanto a situação militar é pouco clara, foi lançada uma guerra midiática e informacional entre os dois países. Isso não tornará mais fácil uma solução política do conflito e é presumível que até aumente o estranhamento entre a Rússia e o Ocidente.

Ingo Mannteufel
Ingo Mannteufel

Geórgia: vítima ou agressor?

O presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvili, descreve a investida militar por ele iniciada contra o regime na Ossétia do Sul como uma ação legítima. De um ponto de vista jurídico, ele não deixa de ter razão. Pois, formalmente, a República da Ossétia do Sul, não reconhecida pela comunidade internacional, pertence ao Estado georgiano, por mais que Tbilisi tenha perdido o controle efetivo há mais de 15 anos e quase todos seus habitantes já possuam passaporte russo.

Interessante é o fato de Saakashvili usar como argumento para sua investida militar na Ossétia do Sul os mesmos termos que a Rússia usou para justificar seus ataques à Tchetchênia: a "restauração da ordem constitucional" na Geórgia. A seu ver, a intervenção russa na Ossétia do Sul é uma declaração de guerra à Geórgia e uma intromissão em assuntos internos de um Estado vizinho soberano – no que ele espera contar com o apoio do Ocidente, em especial dos Estados Unidos, contra o suposto agressor russo.

Intervenção humanitária ou imperialismo russo?

Trocando os papéis, a Rússia tenta justificar sua política: apoiando-se totalmente na argumentação usada pelo Ocidente durante a intervenção militar da Otan contra a Sérvia para proteção do Kosovo, a política russa descreve sua investida militar como uma "intervenção humanitária". Moscou teria que reforçar as chamadas tropas de paz para salvar "vidas russas".

Com a ajuda desse modelo, é possível justificar – assim como a Otan o fez na Sérvia – o ataque aéreo a cidades e à infra-estrutura georgianas. E, caso a intervenção militar na Ossétia do Sul seja bem-sucedida, também seria possível justificar, seguindo o modelo ocidental de descrição da situação no Kosovo, a independência da Ossétia do Sul e mais tarde sua integração à Rússia.

Diante da atual atmosfera patriótica na Rússia, tal desenvolvimento encontraria grande apoio na sociedade russa, ainda traumatizada pela desagregação da União Soviética.

Estranhamento entre Rússia e Ocidente

Atualmente, ainda é difícil prever o desfecho militar e os conseqüentes desdobramentos políticos. Mas uma coisa já é certa: ambos aprenderam com o outro, mas não entederam nada. O estranhamento entre a Rússia e a Geórgia, entre a Rússia e o Ocidente aumentará ainda mais com a guerra na Ossétia do Sul.

Ingo Mannteufel é o chefe das redações russas de DW-RADIO e DW-WORLD.DE.