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Balanço decepcionante

20 de maio de 2008

América Latina, o continente esquecido: este foi um fato durante mais de uma década. Agora a Europa tenta recuperar o tempo perdido. Contudo, o giro da premiê alemã foi uma oportunidade perdida. Johannes Beck opina.

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Fala-se da década de 1980 como "os anos perdidos" na história da América Latina. Nessa época, muitos países retrocederam do ponto de vista econômico: crescimento limitado, alta inflação e dívidas externa opressivas ditavam ao tom.

Deutsche Welle Experte Johannes Beck
Johannes Beck

No que concerne a relação com a Alemanha, os anos 80 não foram tampouco uma boa década para a América Latina. Com a queda do Muro de Berlim e o fim do comunismo em 1989, o país se voltou para o Leste. Para políticos e empresários alemães, os mercados vizinhos do Leste Europeu – e mais tarde também as promissoras economias do Sudeste asiático e da China – pareciam mais atraentes do que os sofridos latino-americanos.

O projeto de um acordo de livre comércio entre a União Européia e o Mercosul mostra quão pouco as relações entre a Europa e a América do Sul avançaram desde o final dos anos 80. Embora se discuta o assunto desde 1992, até hoje não existe nem mesmo um esboço de acordo.

Isto, apesar de em 1994 a Comissão Européia já haver declarado o projeto como prioritário. Passados 14 anos, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, e seus colegas europeus e latino-americanos não avançaram nesta questão, durante a cúpula em Lima.

De um modo geral, o balanço da viagem de Merkel é parco. Com o presidente mexicano, Felipe Calderón, ela marcou para o próximo encontro do G8 em julho, no Japão, uma iniciativa comum contra a alta dos preços de alimentos. O que os dois políticos pretendem fazer para baixar os preços? Nada a declarar!

Poucos dias antes, no Brasil, Merkel fechara com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva um acordo sobre energias renováveis e emprego mais eficiente da energia. Também aqui, pouco de concreto. Um grupo de trabalho teuto-brasileiro estabelecerá critérios para que nenhuma floresta seja destruída na produção de biocombustível.

Entretanto, diante do desflorestamento galopante, seria de esperar uma maior pressão por parte da Alemanha. E Angela Merkel poderia proteger a Região Amazônica de modo mais eficiente a partir de Berlim e Bruxelas. Pois a explosão mundial do mercado de biocombustíveis se deu desde que a União Européia decretou a adição de 10% de etanol à gasolina e ao diesel. Só que, através da produção regional, a UE não tem como cobrir a demanda de biocombustível que ela própria criou.

Sabe-se bem das conseqüências catastróficas do cultivo da palmeira com este fim, na Indonésia. Menos conhecido é que quase um quinto do biodiesel europeu provém da soja, e que para esta finalidade são queimadas e aradas gigantescas áreas florestais no Brasil, Argentina e Paraguai. Angela Merkel deveria se empenhar junto à UE para dar fim à adição de biocombustível proveniente do óleo de palmeira e da soja.

Como grande ponto alto do giro pela América Latina, permanece o fato de o continente haver finalmente recebido a atenção que merece. Foi um grande erro negligenciar deste modo os estreitos laços culturais e lingüísticos com a América Latina. (av)

Johannes Beck é chefe da redação da DW-RADIO em português para a África.