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América Latina precisa de cautela com Pequim

Astrid Prange (md)15 de agosto de 2014

Antiamericanismo por si só não é receita para sucesso. Cem anos após abertura do Canal do Panamá, história mostra que, também com a China, é preciso cautela ao se realizar grandes projetos, opina Astrid Prange, da DW.

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Primeiro foi a Espanha; depois os EUA. E, agora, a China. Os novos "senhores coloniais" da América Latina vêm da Ásia. Pagar e calar é o lema de Pequim, e muitos países da região aceitam o dinheiro de bom grado. Em contrapartida, indenizam a superpotência asiática com acesso às suas matérias-primas e rotas de transporte.

Fastenblog ohne! Astrid Prange De Oliveira
Astrid Prange é repórter da DW

O exemplo mais recente dessa mudança de poder é o projeto bilionário chinês na Nicarágua. Uma empresa chamada Hong Kong Nicaragua Canal Development Investment (HKND) quer cavar lá um canal entre o Atlântico e o Pacífico. Cem anos após sua abertura, o Canal do Panamá deve ganhar um concorrente.

Para realizar o sonho do "Gran Canal" na Nicarágua, o Parlamento em Manágua aprovou uma lei em junho de 2013 que transfere à empresa chinesa HKND os direitos para a construção e operação do canal para os próximos cem anos.

A nova ligação entre o Atlântico e o Pacífico deverá ter 278 quilômetros de comprimento, extensão três vezes maior que a do Canal do Panamá. Centenas de milhares de hectares de floresta tropical serão desmatados, e serão instalados também um novo oleoduto e uma linha ferroviária.

Um olhar sobre a história do Canal do Panamá mostra que projetos gigantescos para países pequenos são geralmente uma empreitada altamente arriscada. Pois, enquanto Washington administrava o canal, sobretudo os Estados Unidos embolsavam os lucros, e não a população do Panamá.

O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, aparenta não ter objeção alguma quanto a isso. E ele parece estar em boa companhia dentro da América Latina. Também no Equador, empresas chinesas receberam licença para exploração de petróleo. Isso, em plena área do Parque Nacional Yasuní.

Venezuela, Cuba, Argentina e Bolívia também pertencem à esfera de influência da China. Esses países, tomados pela crise, vendem a "cooperação" com Pequim como resistência contra Washington. Finalmente os "gringos" são colocados em seu devido lugar, e a luta contra o neoliberalismo e o imperialismo dos EUA, argumentam, começa a ter sucesso.

Mas as teorias de conspiração e as palavras de ordem muitas vezes escondem a falta de capacidade do governo. Dessa forma, o chamado socialismo do século 21 da Venezuela mergulhou em uma profunda crise econômica. O país exportador de petróleo quase não tem mais divisas para suas importações.

Na Argentina, as políticas econômicas da presidente Cristina Kirchner e de seu antecessor levaram o país ao calote técnico pela segunda vez em 12 anos.

É verdade que os governos "progressistas" da América Latina se libertaram dos ditames de Washington. Mas independência econômica ainda continua faltando. Em vez disso, cresce a dependência de Pequim. Antiamericanismo por si só não é uma receita para o sucesso. O exemplo do Panamá mostra que a luta pela independência política e econômica é longa e difícil. Acorda, América!