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Opinião: A Europa sobrevive mais um dia

Max Hofmann
24 de abril de 2017

Somente se Emmanuel Macron conseguir restituir ao seu povo alguma perspectiva econômica e orgulho, a provável vitória sobre o populismo de direita será duradoura, opina o jornalista Max Hofmann.

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Max Hofmann é correspondente da DW em Bruxelas

Os eleitores franceses fizeram a coisa certa – ou pelo menos, um quarto deles. Eles evitaram que os dois candidatos com devaneios socialistas ou comunistas (Benoît Hamon e Jean-Luc Mélenchon) chegassem à fase eliminatória da eleição presidencial. Também recusaram para o segundo turno o nome de um conservador marcado por escândalos e cujo único programa recente era evocar teorias conspiratórias (François Fillon).

Mas eles enviaram Marine Le Pen, o terror de todos os pró-europeus, imigrantes e pessoas de mente aberta, para o próximo turno das eleições presidenciais. E, enquanto for candidata, ela pode ser eleita.

É certo que isso não é provável. A comparação com Donald Trump não funciona de verdade, porque a diferença de intenção de votos entre os dois candidatos nas pesquisas de opinião é bem maior que na eleição americana. Ainda assim, pode acontecer um atentado terrorista ou um escândalo pode vir à tona.

Sabe-se do passado de Emmanuel Macron como investidor financeiro, como aluno da prestigiosa Escola Nacional de Administração e como ministro da Economia sob o governo de François Hollande. Mas, se nas próximas semanas, ele for atropelado por algo que lhe afaste essa fina capa de antiestablishment que ele tem usado nos últimos meses, as coisas podem virar rapidamente ao avesso.

Emmanuel Macron faz parte tão firmemente do establishment quanto o seu rival François Fillon ou o presidente Hollande. Mas, de alguma forma, ele conseguiu afastar o seu nome disso. Talvez por ter deixado o Partido Socialista e formado o seu próprio movimento "Em Marcha!". Talvez porque ele tenha somente 39 anos, e os eleitores pensem que ele está aberto para caminhos novos, inexplorados, que levarão a França de volta à antiga glória ou, ao menos, a uma menor taxa de desemprego. Talvez ele tenha se tornado a tela de projeção perfeita para os sonhos dos franceses. Em todo caso, ele precisa continuar fazendo suas mágicas por mais duas semanas.

Se conseguir, ele será o próximo presidente da França. Caso contrário, esse cargo será ocupado, talvez, por Marine Le Pen, um nome que representa o mais próximo que a Europa chegou de um infarto político no pós-guerra. Seria pior que o Brexit. Uma presidência sob Le Pen ameaçaria a moeda comum e o motor econômico franco-alemão.

Mas, por enquanto, parece que a União Europeia vai sobreviver para lutar por mais um dia. Depois do alívio sentido por muitos, é preciso ficar claro que Le Pen não vai embora. Somente se Macron conseguir, realmente, cumprir algumas de suas promessas de campanha e livrar a França da imagem de perdedor que adquiriu nas últimas décadas, somente se ele conseguir restituir ao seu povo alguma perspectiva econômica e orgulho, a provável vitória sobre o populismo de direita será duradoura.