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Ação na Vila Cruzeiro é a 2ª mais letal da história do Rio

27 de maio de 2022

Operação no Complexo da Penha deixa 23 mortos. Letalidade da ação só é superada pelo massacre do Jacarezinho, quando 28 pessoas morreram em 2021. Ambas as matanças ocorreram no governo Cláudio Castro.

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Policiais armados durante operação em comunidade no Rio
Ação conjunta do Bope, da PF e da Polícia Rodoviária Federal visava lideranças do Comando VermelhoFoto: Pilar Olivares/REUTERS

A Polícia Civil do Rio de Janeiro revisou nesta quinta-feira (26/05) para ao menos 23 o número de óbitos na incursão policial realizada na terça-feira na Vila Cruzeiro, uma das favelas do Complexo da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro. 

Mais cedo, a polícia tinha divulgado o número de 26 mortos, mas três corpos que estavam no Instituto Médico-Legal (IML) eram de pessoas que tinham morrido em consequência de um confronto no Morro do Juramento, no bairro de Vicente de Carvalho, também na zona norte da cidade.

A ação na Vila Cruzeiro é considerada a segunda operação policial mais letal da história do Rio, ficando atrás apenas da que ocorreu em maio de 2021 no Jacarezinho, quando 28 pessoas morreram.

Ambos os massacres ocorreram durante a gestão do governador Cláudio Castro (PL). Segundo levantamento do Instituto Fogo Cruzado e o Geni (Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense), divulgado pelo portal de notícias UOL. Em apenas um ano, o atual governo do estado do Rio acumula 181 mortes e 39 chacinas – que são todas as ações com pelo menos três mortes, segundo pesquisas da área de segurança pública –, sendo que 31 delas ocorreram em operações policiais.

Segundo informações da Polícia Militar (PM), a maioria das vítimas na Vila Cruzeiro eram suspeitos de crimes. Uma moradora foi morta por bala perdida. Gabriele Ferreira da Cunha, de 41 anos, alvejada dentro de casa na Chatuba, que fica ao lado da favela, e morreu na hora.

Suposta migração de criminosos

O comando da PM afirmou que a operação conjunta com a Polícia Rodoviária Federal (PRF) vinha sendo planejada há meses, mas foi iniciada de modo emergencial para impedir uma migração para a Rocinha, que teria sido determinada pelo Comando Vermelho.

"Durante a madrugada, identificamos uma grande movimentação de criminosos, e por conta disso desencadeamos essa ação. Provavelmente, para haver uma invasão", afirmou secretário de Polícia Militar, coronel Luiz Henrique Marinho Pires, citado pelo portal de notícias G1.

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O porta-voz da PM, coronel Ivan Blaz, defendeu a operação e a força empregada no confronto contra a facção que atua na Vila Cruzeiro. "Precisamos desbaratar essa quadrilha, que é beligerante e já é hoje responsável por mais de 80% dos confrontos armados do Rio de Janeiro. Essa facção criminosa que opera ali na região da Vila Cruzeiro atua numa campanha expansionista em todo o nosso estado", afirmou em entrevista ao programa Bom Dia Rio, da Rede Globo.

O Ministério Público estadual e o Ministério Público Federal (MPF) abriram investigações para apurar condutas e possíveis violações de direitos pelos agentes de segurança durante a incursão. O primeiro recomendou a apreensão e perícia de todas as armas dos policiais militares envolvidos na ação, para comparar com os projéteis que venham a ser retirados das vítimas.

Críticas de entidades

Uma nota pública assinada por 22 entidades e movimentos sociais e divulgada nesta terça-feira pediu às polícias do Rio de Janeiro o imediato cessar-fogo na Vila Cruzeiro, durante a operação, que durou cerca de 12 horas.

"A situação é de explícita calamidade e requer que as agências de Estado se mobilizem imediatamente e de forma articulada para suspender a ação das forças policiais, sob o risco de ainda mais pessoas tornarem-se vítimas dessa barbárie", diz a carta aberta, endereçada ao governo do Rio de Janeiro, ao Ministério Público estadual, à Secretaria de Polícia Militar, à Polícia Federal e à Superintendência da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no estado.

A nota também afirma que "na região vivem cerca de 200 mil pessoas, que estão sob forte impacto emocional e psíquico diante do terror vivido de mais uma chacina", e lembra que 19 unidades escolares tiveram seu funcionamento afetado, segundo a Secretaria Municipal de Educação.

Entre os signatários da carta estão a Anistia Internacional, a Casa Fluminense, o Coletivo Papo Reto (do Complexo do Alemão), Observatório das Favelas, Instituto Marielle Franco, a ONG Conectas Direitos Humanos e a deputada estadual Dani Monteiro (PSOL), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do RJ.

A ONG Human Rights Watch também emitiu nota lamentando os confrontos e disse que o estado precisa de uma nova política de segurança pública. "Lamentamos que mais uma vez uma operação policial no Rio de Janeiro tenha resultado na morte de pelo menos 11 pessoas no Complexo da Penha. Os moradores passaram horas de terror. O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro e o Ministério Público Federal deveriam investigar imediata e exaustivamente as circunstâncias de cada morte e de cada ferido, além da motivação e plano da operação. O Rio precisa urgentemente de uma nova política de segurança pública que não seja a bala", afirma o texto.

Lideranças do CV eram alvo

A operação conjunta do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), da Polícia Federal (PF) e da Polícia Rodoviária Federal (PRF) realizada na comunidade, uma das 13 favelas do Complexo da Penha, visava prender lideranças da facção criminosa Comando Vermelho, que estariam escondidas na região.

Entre os suspeitos havia líderes criminosos de outras comunidades como Mangueira, Jacarezinho, Salgueiro e Providência e alguns vindos de outros estados, como Bahia, Pará e Alagoas.

A PM afirma que os agentes se preparavam para dar início à operação quando foram atacados por traficantes. O confronto teria ocorrido próximo a uma área de mata.

A PM informou que foram apreendidos na operação 11 fuzis, quatro pistolas, motocicletas e seis automóveis que teriam sido usados pelos criminosos.

md (ots)