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Ocidente usa conflito nuclear para conter poder do Irã no Oriente Médio

Thomas Latschan (rc)21 de maio de 2013

O especialista em Oriente Médio Michael Lüders defende que o objetivo primário do Ocidente não é o controle do programa nuclear, mas sim limitar o poder do Irã na região.

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Foto: Getty Images

DW:O Ocidente há muito tempo vem tentando limitar o poder nuclear do Irã através de sanções, buscando uma solução à força – com sucesso apenas parcial. A política ocidental para o Oriente Médio fracassou?

Michael Lüders:Se observarmos pela perspectiva dos que elaboraram essas sanções, elas não fracassaram, uma vez que colocam o Irã sob uma intensa pressão econômica. A esperança é que com essa pressão contra o governo e a sociedade iranianos, a população saia às ruas para expressar seu descontentamento com a piora progressiva de sua situação. Espera-se mudanças de modo indireto, ou ao menos desestabilizar o regime, forçando-o a ceder na questão nuclear.

Mas nos últimos dez anos essa política não obteve grandes êxitos. A política de sanções é errada?

Se entendermos a política de sanções como uma tentativa de trazer os iranianos à força até a mesa de negociações, então certamente ela fracassou. Analisando mais profundamente, o propósito não é bem esse. Oficialmente, essa política é uma tentativa de negociar uma solução com o Irã, mas seu objetivo real é desestabilizar o regime. Esse é o ponto crucial.

Michael Lüders
Michael Lüders: se o governo de Teerã tivesse postura pró-Ocidente, ninguém se preocuparia

Há sempre uma retórica de guerra, como as ameaças de um ataque preventivo de Israel ou dos Estados Unidos às instalações nucleares do Irã. Até que ponto isso é realista, e o que significaria para a região?

Com certeza, é uma projeção realista. Tanto em Israel quanto nos EUA existem hardliners, adeptos da linha dura, que consideram a opção militar. Ao mesmo tempo, vozes moderadas dos dois países, assim como de outras nações, alertam para as consequências de uma guerra contra o Irã. Não é necessário ser um profeta para prever que um ataque ao Irã possa contagiar toda a região.

As consequências e os custos de uma agressão direta seriam tão grandes e devastadoras que quaisquer benefícios dessa iniciativa seriam insignificantes se comparados aos danos causados.

É preciso considerar que, do Marrocos à Indonésia, o Irã é o único país com uma orientação não ocidental, por isso ele está tanto em evidência.

Isso tudo tem menos a ver com as violações dos direitos humanos ou com a questão nuclear, e mais com o poder regional do Irã. Quer-se evitar o reconhecimento do país como um centro de poder geopolítico no Oriente Médio.

Então há muito mais em jogo do que a política nuclear iraniana?

Sim, se o governo de Teerã tivesse uma postura pró-Ocidente, ninguém se preocuparia com isso. No entanto, a política armamentista iraniana serve como justificativa para a pressão internacional sobre o país.

Minha impressão é que não importa quais concessões os iranianos venham a fazer, as pressões irão continuar porque as sanções têm a finalidade de desestabilizar o regime, e não obter concessões do Irã.

Se fosse apenas a questão da disputa nuclear, já se poderia ter encontrado uma solução há tempos. Mas não existe de fato a intenção de buscar uma solução para o conflito. Tanto o Ocidente quanto os iranianos se recusam a falar a mesma língua.

Já a forma como são feitas as negociações é absurda: o chamado grupo "5+1" – formado pelos países com direito a veto no Conselho de Segurança da ONU, mais a Alemanha. Na realidade, os Estados Unidos teriam de assumir o papel decisivo, mas preferem se retrair. Acaba sendo a União Europeia que assume o comando das negociações.

Na verdade, seriam necessários contatos bilaterais oficiais entre Washington e Teerã, mas para os hardliners nos Estados Unidos e no Irã isso seria, obviamente, ir longe demais.

As eleições presidenciais no Irã estão marcadas para junho. O senhor acredita que a escolha de um novo presidente possa abrir novas possibilidades de negociação com o país?

Sinceramente, acho que não importa quem vença as eleições, isso não causará uma troca no regime ou o fim do sistema islâmico. Esse seria o desejo de alguns círculos influentes nos EUA e em Israel. O risco de confronto permanece, mesmo que mude o tom das negociações.

O antecessor de Ahmadinejad na presidência, Mohammad Khatami, fez em 2003 uma oferta bastante clara de reconciliação e compensação, mas a iniciativa foi ignorada. Houve a percepção que os iranianos estariam em uma posição de fraqueza, e a proposta não foi adiante.

DW:O Ocidente há muito tempo vem tentando limitar o poder nuclear do Irã através de sanções, buscando uma solução à força – com sucesso apenas parcial. A política ocidental para o Oriente Médio fracassou?

Michael Lüders:Se observarmos pela perspectiva dos que elaboraram essas sanções, elas não fracassaram, uma vez que colocam o Irã sob uma intensa pressão econômica. A esperança é que com essa pressão contra o governo e a sociedade iranianos, a população saia às ruas para expressar seu descontentamento com a piora progressiva de sua situação. Espera-se mudanças de modo indireto, ou ao menos desestabilizar o regime, forçando-o a ceder na questão nuclear.

Mas nos últimos dez anos essa política não obteve grandes êxitos. A política de sanções é errada?

Se entendermos a política de sanções como uma tentativa de trazer os iranianos à força até a mesa de negociações, então certamente ela fracassou. Analisando mais profundamente, o propósito não é bem esse. Oficialmente, essa política é uma tentativa de negociar uma solução com o Irã, mas seu objetivo real é desestabilizar o regime. Esse é o ponto crucial.

Há sempre uma retórica de guerra, como as ameaças de um ataque preventivo de Israel ou dos Estados Unidos às instalações nucleares do Irã. Até que ponto isso é realista, e o que significaria para a região?

Com certeza, é uma projeção realista. Tanto em Israel quanto nos EUA existem hardliners, adeptos da linha dura, que consideram a opção militar. Ao mesmo tempo, vozes moderadas dos dois países, assim como de outras nações, alertam para as consequências de uma guerra contra o Irã. Não é necessário ser um profeta para prever que um ataque ao Irã possa contagiar toda a região.

As consequências e os custos de uma agressão direta seriam tão grandes e devastadoras que quaisquer benefícios dessa iniciativa seriam insignificantes se comparados aos danos causados.

É preciso considerar que, do Marrocos à Indonésia, o Irã é o único país com uma orientação não ocidental, por isso ele está tanto em evidência.

Isso tudo tem menos a ver com as violações dos direitos humanos ou com a questão nuclear, e mais com o poder regional do Irã. Quer-se evitar o reconhecimento do país como um centro de poder geopolítico no Oriente Médio.

Então há muito mais em jogo do que a política nuclear iraniana?

Sim, se o governo de Teerã tivesse uma postura pró-Ocidente, ninguém se preocuparia com isso. No entanto, a política armamentista iraniana serve como justificativa para a pressão internacional sobre o país.

Minha impressão é que não importa quais concessões os iranianos venham a fazer, as pressões irão continuar porque as sanções têm a finalidade de desestabilizar o regime, e não obter concessões do Irã.

Se fosse apenas a questão da disputa nuclear, já se poderia ter encontrado uma solução há tempos. Mas não existe de fato a intenção de buscar uma solução para o conflito. Tanto o Ocidente quanto os iranianos se recusam a falar a mesma língua.

Já a forma como são feitas as negociações é absurda: o chamado grupo "5+1" – formado pelos países com direito a veto no Conselho de Segurança da ONU, mais a Alemanha. Na realidade, os Estados Unidos teriam de assumir o papel decisivo, mas preferem se retrair. Acaba sendo a União Europeia que assume o comando das negociações.

Na verdade, seriam necessários contatos bilaterais oficiais entre Washington e Teerã, mas para os hardliners nos Estados Unidos e no Irã isso seria, obviamente, ir longe demais.

As eleições presidenciais no Irã estão marcadas para junho. O senhor acredita que a escolha de um novo presidente possa abrir novas possibilidades de negociação com o país?

Sinceramente, acho que não importa quem vença as eleições, isso não causará uma troca no regime ou o fim do sistema islâmico. Esse seria o desejo de alguns círculos influentes nos EUA e em Israel. O risco de confronto permanece, mesmo que mude o tom das negociações.

O antecessor de Ahmadinejad na presidência, Mohammad Khatami, fez em 2003 uma oferta bastante clara de reconciliação e compensação, mas a iniciativa foi ignorada. Houve a percepção que os iranianos estariam em uma posição de fraqueza, e a proposta não foi adiante. Perdeu-se assim uma oportunidade histórica.

Michael Lüders é jornalista, cientista político e especialista em Islã. Ele vive em Berlim.