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O silêncio dos excluídos

Udo Taubitz / sv18 de janeiro de 2004

As escolas alemãs vêm se transformando em um ambiente cada vez menos pacífico: enquanto adolescentes agressivos ocupam o centro das atenções, as vítimas da violência cotidiana acabam fadadas ao esquecimento.

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Violência no ambiente escolar: olhar indiferente da maioriaFoto: Christoph&Friends

Segundo especialistas, o problema da violência nas escolas da Alemanha vem se alastrando para muito além de regiões consideradas "socialmente difíceis". Entre outras, a pressão social visando um melhor desempenho escolar, a solidão e o isolamento são algumas das razões que levam à violência.

Hoje, no país, quase toda criança ou adolescente já passou por alguma espécie de situação violenta, seja ela real (brigas com tapas ou pancadas) ou através de exclusão e pressão. Trata-se de um tema extremamente delicado, evitado muitas vezes por pais e mestres. Em abril de 2002, por exemplo, a Alemanha se viu em estado de choque, quando um estudante de Erfurt, no Leste do país, executou 16 pessoas, tendo se suicidado em seguida. Depois disso, contudo, a violência nas escolas praticamente desapareceu da mídia.

"Os mais fracos" no palco

A pedagoga Kirstin Hess procura, através de seu trabalho com adolescentes, trazer o tema de volta à tona. Hess é uma das diretoras atuantes no Teatro Infantil e Juvenil da Schauspielhaus de Düsseldorf. Via de regra, os alunos das escolas da cidade vão até a casa de espetáculos. No novo projeto de Hess, no entanto, são atores e pedagogos que vão às escolas levar a peça O Mais Fraco, suscitando discussões em torno do tema "violência".

A peça discute as hierarquias internas presentes nas escolas, jogando com os conceitos de percepção e realidade, poder e impotência, integração e exclusão. Trata-se de um jogo brutal de poder, que poderia sem problemas ocorrer no dia-a-dia do país.

Outras possibilidades de convívio

"É o que todos nós conhecemos, uma realidade que nossos avós já viveram, nós mesmos e nossos filhos – há entre os escolares sempre os excluídos, os mais fortes, os chefões. E quase nunca é possível se livrar deste selo. Nós tentamos, através desta peça, demonstrar que outras possibilidades de convívio também são possíveis entre os alunos. E também, claro, procurar as razões da violência nas escolas", conta Hess.

Durante o processo de preparação de O Mais Fraco, a pedagoga conversou com professores, psicólogos e com uma série de escolares. A lição foi clara: as vítimas da violência são muitas vezes esquecidas, enquanto a atenção acaba com freqüência caindo apenas sobre alunos agressivos. Para inverter tal situação, a peça toma um típico outsider no ambiente escolar como protagonista e oferece ao público, após o espetáculo, uma discussão sobre o assunto.

Reflexão através da distância

Distanciar-se do próprio dia-a-dia ao observar uma situação semelhante no palco pode facilitar a reflexão, acredita Hess. "Creio que para um envolvido é muito difícil diferenciar e analisar uma cadeia de ações violentas, mas, ao observar os acontecimentos em uma peça de teatro, torna-se mais fácil verificar o próprio comportamento a partir de uma perspectiva externa. É uma possibilidade de cada um reconhecer qual função exerce no conjunto", completa a pedagoga.

O Mais Fraco

, de autoria do sueco Mattias Andersson, utiliza como fios condutores uma simbologia religiosa e elementos de contos de fadas: uma linguagem, enfim, que pode ser facilmente compreendida por crianças e adolescentes. A luta pelo poder entre os dois alunos – tema da peça – não é decidida no palco, mas deve servir como ponto de reflexão para os espectadores.

É provável que o nível de agressão nas escolas não seja reduzido, mas espera-se, pelo menos, que projetos do gênero sirvam para acordar a consciência da boa maioria, que freqüentemente "finge que não vê" quando o colega do lado apanha.