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O que está por trás da meta fiscal de Temer?

15 de agosto de 2017

Governo se prepara para anunciar aumento do rombo nas contas públicas. Uma solução "jeitinho", como criticou Maia: para sanar cofres, presidente fará concessões na Previdência e dará descontos a empresas devedoras.

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Michel Temer
Para analistas, revisão da meta fiscal é um sinal de que Temer fracassou na tentativa de restaurar as contas do governoFoto: picture alliance/AP Photo/E. Peres

Em meio à crise econômica, à arrecadação em queda e a uma série de frustrações nas receitas, o governo federal deve anunciar nesta quarta-feira (16/08) a nova meta fiscal para 2017 e 2018. A decisão estava prevista para segunda-feira e foi adiada duas vezes.

A previsão é de que a meta seja elevada em R$ 20 bilhões neste ano. O déficit primário – resultado negativo nas contas do governo, desconsiderando os juros da dívida pública – está hoje fixado em R$ 139 bilhões e passaria, portanto, para R$ 159 bilhões.

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Para 2018, a meta atual é de um rombo R$ 129 bilhões, e a previsão é de que seja elevada em R$ 30 bilhões, sendo fixada em R$ 159 bilhões assim como em 2017. Somando os dois anos, o rombo adicional ficaria, portanto, em cerca de R$ 50 bilhões.

Entre as dificuldades enfrentadas pelos cofres federais está o fato de o governo ter sido obrigado a recuar em relação a duas medidas que elevariam as receitas. O aumento do Programa de Integração Social e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (PIS/Cofins) sobre o etanol foi parcialmente revertido, reduzindo a previsão de arrecadação em R$ 501 milhões.

Além disso, o governo revogou na semana passada a medida provisória que acabaria com a desoneração da folha de pagamento para 46 dos 52 setores beneficiados pela política. A revogação resultará numa perda de R$ 4,8 bilhões.

Para definir o ajuste fiscal, o presidente Michel Temer reuniu-se durante o fim de semana e na segunda-feira no Palácio do Planalto com ministros – entre eles o da Fazenda, Henrique Meirelles, o do Planejamento, Dyogo Oliveira, e o de Minas e Energia, Fernando Coelho – e os presidente dos Senado, Eunício Oliveira, e da Câmara, Rodrigo Maia.

"As coisas não caminham bem"

Nesta terça-feira, Meirelles, Oliveira e Maia devem discutir a situação fiscal do país com líderes de partidos da base aliada. O presidente da Câmara criticou a revisão da meta, classificando-a de "jeitinho".

"Se não organizarmos as contas públicas de uma vez, vai ficar mais difícil no futuro fechar as contas do governo porque, se cada vez tem um jeitinho, se cada vez aumenta a meta mais do que precisa, você acaba gerando um gasto realmente desnecessário", disse Maia. "Fica parecendo que as coisas caminham bem, e a gente sabe que as coisas não caminham bem."

O presidente da Câmara afirma que houve uma projeção errada da arrecadação, que está abaixo da expectativa do governo. Ele destaca que o déficit da Previdência é um fator que tem agravado a condição das contas públicas.

"O déficit da Previdência aumenta de R$ 40 bilhões a R$ 50 bilhões por ano. O déficit vai continuar existindo se nós não fizermos a reforma da Previdência. E, com isso, a capacidade do Estado Brasileiro de investir e de ter recursos para programas sociais vai diminuindo."

Maia voltou a criticar a possível elevação ou criação de novos impostos, que estava entre as intenções da equipe econômica para garantir a meta fiscal. Segundo ele, a Câmara e o Senado não aprovarão qualquer aumento de carga tributária. 

Esta terça-feira é a data-limite para a equipe econômica revisar a meta fiscal, de modo que haja tempo suficiente para definir a proposta de orçamento para o ano que vem. Esta precisa ser encaminhada ao Congresso até o fim de agosto.

Concessões dificultam equilíbrio fiscal

Com déficits contínuos, o Brasil corre o risco de ser rebaixado por agências de classificação de risco. Para analistas, a revisão da meta fiscal é um sinal de que Temer fracassou na tentativa de restaurar as contas do governo.

Para se salvar de uma admissão pela Câmara da denúncia criminal por suspeita de corrupção, estima-se que o presidente tenha gastado bilhões de reais em emendas parlamentares e verbas destinadas para governos e prefeituras. Cedendo em projetos dispendiosos de deputados e criando mais cargos, Temer jogou também uma pá de cal na política de ajuste fiscal prometida no início do governo.

Também em relação à reforma da Previdência, considerada vital para sanar as contas públicas, o governo fez concessões. Estas devem diminuir a poupança fiscal planejada em 25% em dez anos e quase 30% em 30 anos, segundo Meirelles.

Para fechar o déficit em R$ 159 bilhões neste ano, sem o aumento de impostos e sem novas concessões e privatizações, o governo conta com a aprovação do programa de refinanciamento de pessoas físicas e jurídicas dívidas com a União, conhecido como novo Refis.

A medida provisória (MP)  referente ao programa recebeu 300 emendas e deve ser votada pelas duas Casas do Congresso até o dia 11 de outubro. Em maio, a comissão mista do Congresso que analisa a MP, aprovou um parecer que concede desconto no valor das multas e nos juros das dívidas parceladas e autoriza empresas em recuperação judicial a aderirem ao programa, entre outras medidas.

Com essas mudanças, a arrecadação com o Refis aumentaria no curto prazo, mas cairia de R$ 13 bilhões para menos de R$ 500 milhões neste ano. De 2018 a 2020, o governo até mesmo perderia recursos, num valor estimado em até 543, 3 bilhões de reais.

Apesar de já ter sido usada nos governos de Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, a tática de perdoar parte das dívidas de grandes empresas é constantemente criticada por especialistas.

LPF/abr/rtr/ots

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