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"O Irã será o maior beneficiado em um acordo"

Sven Pöhle (fa)8 de julho de 2015

A negociação em torno do programa nuclear iraniano foi mais uma vez prorrogada. Em entrevista à DW, o especialista Mark Dubowitz diz que o Irã conseguiu virar o jogo e está em posição de vantagem nas negociações.

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Atomverhandlungen in Wien
Foto: Reuters/C. Barria

Em Viena, na Aústria, representantes dos países do P5+1, grupo composto pelos cinco membros com poder de veto no Conselho de Segurança da ONU – Rússia, China, Estados Unidos, França e Reino Unido –, mais a Alemanha, estão reunidos com o ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohamed Javad Zarif. O objetivo é resolver o imbróglio em torno do programa nuclear iraniano, cuja discussão se arrasta por quase uma década.

Inicialmente marcado para 30 de junho, o prazo o fim das negociações foi primeiro prorrogado para 7 de julho, e mais uma vez para o fim desta semana. Para Mark Dubowitz, diretor-executivo da Fundação para a Defesa das Democracias, um think tank apartidário com sede em Washington, um acordo nas condições atuais pode ser perigoso para o Ocidente.

Deutsche Welle: O prazo para o acordo sobre a questão nuclear do Irã já está indo além do previsto. O senhor acredita que as potências mundiais conseguirão finalmente chegar a um entendimento com Teerã?

Mark Dubowitz: Não tenho dúvidas de que haverá um acordo. O governo norte-americano fez concessões suficientes ao Irã, abandonando a posição inicial e se esforçando para atender às reivindicações da república islâmica. Seria ridículo se o líder iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, rejeitasse esse acordo.

Isso soa como se o Irã fosse o único lado capaz de se beneficiar desse pacto.

O Irã estava particularmente vulnerável quando entrou nas negociações. O país estava isolado, sofrendo duras sanções e sendo submetido a diversas resoluções do Conselho de Segurança da ONU. Porém, em menos de dois anos, os iranianos viraram o jogo completamente.

A estratégia de Teerã foi manter sua posição inicial: não se comprometer com exigências fundamentais, como o desmantelamento do programa nuclear, a desativação do projeto de mísseis de longo alcance ou a interrupção do enriquecimento de urânio. Além disso, o Irã simplesmente deixou em aberto as perguntas sobre a dimensão do seu projeto nuclear e ignorou os pedidos de acesso irrestrito para inspeções em suas instalações.

O governo iraniano manteve essa posição e rejeitou as exigências de Washington. Ou seja, o processo do acordo começou com negociações entre um país mais fraco e uma potência mundial, mas os iranianos conseguiram negociar como se fossem eles mesmos uma potência. E isso é uma evolução e tanto.

Mas como foi possível para o Irã virar o jogo desse jeito?

O governo iraniano lidou com a questão de forma muito inteligente. No começo das conversas, o país deixou bem claro que interromperia as negociações caso houvesse novas sanções ou sofresse qualquer aumento da pressão externa. E, se como se não bastasse, que ampliaria o programa nuclear se isso acontecesse. Aí, haveria apenas uma forma de resolver a situação: uma intervenção militar. Porém, sabemos que Obama não se envolveria num conflito militar nem ampliaria as sanções. O presidente norte-americano não interromperá o acordo e, mesmo se o fizer, irá rapidamente procurar outra forma de negociação, simplesmente porque se sente na obrigação de chegar a um acordo.

Não é incomum que se façam concessões em negociações como essas.

Sim, mas ceder não significa aceitar a vontade do outro lado na maioria dos pontos. Ainda menos quando esse outro lado contraria diversas resoluções do Conselho de Segurança que tenham a ver com o seu programa nuclear ilegal e de propósitos militares. Não há dúvidas de que a maior parte das pessoas acredita – incluindo aí o próprio aiatolá Khamenei – que Obama quer impreterivelmente chegar a um acordo. Com os problemas no Oriente Médio, a invasão russa na Ucrânia e o crescimento do Estado Islâmico, as negociações com o Irã são o que sobrou para Obama conseguir alguma coisa na política internacional. O próprio presidente norte-americano já deixou bem claro que quer, de qualquer forma, chegar a um entendimento. Mesmo que se diga que, às vezes, acordo nenhum é melhor que um mau acordo.

Na sua opinião, o que poderia fazer deste um mau acordo?

O problema fundamental é que pontos cruciais da negociação têm uma validade de dez anos e o restante não estará mais em vigor após 15 anos. Com isso, o Irã terá novamente a possibilidade de retomar, sem supervisão externa, o seu programa nuclear – sem que a Agência Internacional de Energia Atômica possa avaliar se os objetivos são pacíficos ou não.

Entretanto, Teerã já declarou estar disposto, por exemplo, a diminuir consideravelmente o número das centrífugas e da capacidade de enriquecer urânio. Além disso, as sanções podem ser retomadas a qualquer momento.

Tudo segue um padrão bem definido, que faz com o que ambos os lados possam se sentir os verdadeiros vencedores da negociação. O governo iraniano pode afirmar que conseguiu uma redução das sanções, enquanto os norte-americanos podem dizer que isso só foi possível porque o Irã se comprometeu a restringir seu programa nuclear.

O fim das sanções acarretará, entretanto, um crescimento econômico para o Irã. Com isso, a economia iraniana se fortalecerá e ficará mais resistente. O governo de Teerã quer que o país seja, no futuro, forte o bastante para suportar possíveis novas sanções. O objetivo, na verdade, é que o país seja capaz de atrair bilhões em investimentos de países como Alemanha, Rússia e China. Esses países veriam então novas sanções como problemáticas, tanto do ponto de vista político como econômico. Na verdade, o que o Irã quer é tirar do Grupo P5+1 o instrumento das sanções econômicas.

E os partidários da linha dura no Irã? Eles sairão fortalecidos no caso de não haver um acordo?

Pelo contrário. O acordo é do interesse da linha dura, pois são eles quem mais irão se beneficiar. É preciso sempre lembrar que os radicais controlam a economia do país. Eles controlam o programa nuclear, são responsavéis por repressão e brutalidade contra a população, comandam o exército, a Guarda Revolucionária e a Força Quds.

Com o acordo, eles lucrarão bilhões e terão meios para continuar a sua expansão regional. Em contrapartida, terão de ser pacientes, mas por pouco tempo, com o programa nuclear. Após o fim desses dez anos, eles poderão retomar o programa, em proporção industrial, com possibilidades ilimitadas de enriquecimento de urânio – o que tornaria novamente possível a construção de uma bomba atômica.