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O fenômeno Marie Kondo e a busca pela perfeição

Doris Pundy ek
29 de janeiro de 2019

No YouTube e na Netflix, milhões de pessoas assistem à japonesa Marie Kondo fazer sua mágica da arrumação. Especialistas explicam por que o método de reorganizar o lar é inspirador – mas não deve ser levado tão a sério.

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A especialista japonesa em organização pessoal Marie Kondo
Segundo Marie Kondo, roupas devem ser dobradas em pequenos retângulos e dispostas verticalmenteFoto: picture-alliance/AP Photo/S. Wenig

Com sua franja de corte preciso e vestindo uma blusa branca, Marie Kondo está em frente a uma pilha de roupas da altura de sua cintura, em uma residência em um subúrbio dos Estados Unidos. "Estou tão empolgada. Amo a desordem", afirma a especialista em organização pessoal, antes de anunciar ao casal que mora na casa: se desfaçam de tudo que não lhes traz alegria; o resto será dobrado em pequenos retângulos e ganhará um lugar determinado. Ela chama esse método de KonMari.

A japonesa não é a única blogueira que desenvolveu e comercializou conceitos de arrumação nos últimos anos. Mas, com sete milhões de livros vendidos em 27 idiomas diferentes, ela desponta como uma das mais bem-sucedidas.

Desde o início do ano, Marie Kondo tem sua própria série na Netflix, em que visita famílias americanas e as ajuda a organizar suas casas. Além disso, treina consultores (até agora mais de 200 mulheres e três homens) para usarem seu método e ajudarem a colocar ordem em domicílios ao redor do mundo. Por um ano, a alemã Jasmine Dünker, de Colônia, foi uma delas.

Dünker tem um palpite sobre por que tantas pessoas têm se interessado pelo método de organização pessoal. "Estamos sobrecarregados com tanta informação, tantos e-mails e redes sociais. Estamos tão cheios por dentro que muitos de nós buscamos maneiras de nos organizar", afirma.

Em relação ao método KonMari, Dünker acha particularmente interessante o conceito de que, em vez de simplesmente se desfazer do supérfluo, é preciso primeiro ter consciência sobre o supérfluo. Um jeito de fazer isso é agradecendo em voz alta pelas coisas que se possui, num sinal de respeito. "Precisamos ser gratos por viver em meio a tanta riqueza", explica a alemã.

Dünker trabalhou com marketing e depois estudou design de interiores. Por ser simples e eficiente, ela considera o método de arrumação da guru japonesa tão convincente que gastou milhares de euros em seu treinamento em Nova York.

Segundo Marie Kondo, as pessoas acumulam coisas demais e, por isso, precisam descartar o excedente. Como critério principal de escolha, usa-se a própria felicidade. "Isso me traz alegria?" é a pergunta a ser feita ao segurar na mão cada objeto. Se sim, ele é mantido; se não, é descartado. O que ficar deve ser dobrado em pequenos retângulos e guardado verticalmente (para melhorar a visualização de tudo que se tem) em um lugar determinado, separado por categorias.

Antes de reduzir o volume de coisas e reorganizar sua casa usando o método KonMari, Dünker perdia horas com arrumação. Agora que cada objeto tem um local próprio e permanente, e que eles são devolvidos ao seu devido lugar depois de usados, seu tempo livre é muito maior, afirma a alemã.

Essas pequenas regras são a principal razão de por que a técnica de organização pessoal é tão inspiradora, afirma a psicóloga alemã Uschi Grob. Segundo ela, é útil manter a ordem porque as pessoas simplesmente não precisam mais pensar onde está o quê. Assim como limpar a casa, os resultados são imediatamente visíveis. Além disso, casas organizadas trazem mais estrutura e segurança e economizam energia, diz Grob.

Cena da série "Ordem na casa com Marie Kondo", da Netflix, com a especialista japonesa em organização pessoal Marie Kondo
Na série de TV "Ordem na casa com Marie Kondo", a japonesa ajuda famílias a organizarem seu larFoto: picture-alliance/dpa/Netflix/D. Crew

Críticos temem, contudo, que o sucesso da série da Netflix, chamada Ordem na casa com Marie Kondo, possa aumentar a pressão pela busca da perfeição – algo que a consultora Dünker diz conseguir compreender. Ela afirma, porém, que essa crítica diz mais respeito a como a série foi feita do que ao método KonMari.

Segundo a alemã, quando ela própria está na estrada prestando consultorias, não faz visitas rápidas a seus clientes, nem explica as regras de um modo geral ou espera resultados impecáveis na próxima visita. Além disso, as famílias costumam doar as roupas e utensílios de casa que foram descartados, e não simplesmente os jogam fora, como acontece na série, afirma.

"Não precisamos ser perfeitos. Isso seria muito entediante", diz Dünker, lembrando que a organização deveria simplificar a vida das pessoas, e não deixá-la mais complicada.

A psicóloga Grob concorda que métodos de arrumação não podem ser encarados como uma religião. "Eles devem ser usados apenas para ajudar pessoas a lidarem com o dia a dia e adquirirem autoconsciência", afirma.

Aos ávidos por uma casa em ordem, ela sugere ainda que não se prendam a técnicas específicas. "Talvez você se envolva com uma ou outra, experimente uma terceira, e depois volte a organizar seus sutiãs seguindo um método anterior, porque ele também era bom", afirma.

E, caso acabe o prazer em arrumar, tudo bem também. "Felizmente guarda-roupas têm portas, e não existe polícia para controlá-los", diz a psicóloga.

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