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O Brasil na imprensa alemã (23/12)

23 de dezembro de 2020

Jornais da Alemanha destacam recusa de Bolsonaro em tomar vacina, sua declaração sobre imunizantes transformarem pessoas em "jacarés" e lentidão do governo federal em organizar uma campanha nacional de vacinação.

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O presidente Jair Bolsonaro e seu ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. Apenas este usa máscara, estampada com meia bandeira do Brasil e o símbolo do SUS
Bolsonaro e Eduardo Pazuello. Ministro apresentou plano vago de imunizaçãoFoto: Evaristo Sa/AFP

Frankfurter Allgemeine Zeitung - O presidente dos antivacinas (17/12)

[O Brasil] tem experiência com campanhas de vacinação e possui grande capacidade de produção própria. Mas a aquisição e produção de vacinas contra o coronavírus e a organização de uma campanha de vacinação se tornaram parte de uma guerra política. O governo é desinteressado e desorganizado. Ao mesmo tempo, cresce o número de opositores da vacinação no país, com o presidente Jair Bolsonaro na liderança: "Eu não vou tomar vacina e ponto final", disse nesta semana, acrescentando que esse é um problema que só diz respeito a ele mesmo.

Bolsonaro já sobreviveu ao vírus uma vez. Mas milhões de brasileiros não podem dizer o mesmo. A segunda onda também chegou aqui. Embora as primeiras campanhas de vacinação já tenham começado em outros países, o Brasil parece estar perdendo a largada. Foi somente por ordem do Supremo Tribunal Federal que o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, apresentou um plano vago para uma campanha nacional de vacinação.

O Brasil já tem uma vacina. Também tem uma vantagem logística em relação a outros países da região, graças às amplas capacidades e às boas conexões aéreas. As maiores esperanças estão atualmente na Coronavac, da empresa chinesa Sinovac. Milhões de doses da vacina já estão no Brasil. O governador de São Paulo, João Doria, negociou acordos com outros estados para disponibilizar o material. De acordo com seus planos, São Paulo começará a vacinar em janeiro.

No entanto, a Coronavac é uma pedra no sapato de Bolsonaro. Por um lado, o produto simboliza o sucesso do governador Doria, um dos maiores rivais políticos do presidente. Brasília apostou na vacina da AstraZeneca por meio de um acordo de cooperação com a Fiocruz. Com a Pfizer, o Brasil está na fila. A politização da vacinação como resultado da luta entre Doria e Bolsonaro põe em risco uma abordagem nacional. Mas não só: a Coronavac vem da China, embora esteja sendo produzida pelo Instituto Butantan, de São Paulo. Bolsonaro adotou uma atitude fundamentalmente negativa em relação à China – por razões ideológicas. [...]

Mas conforme a vacinação se aproxima, os mais absurdos rumores se espalham nas redes sociais: "globalistas" estariam promovendo uma vacinação que muda o DNA, escreveu uma deputada próxima da família Bolsonaro no Twitter, fazendo ainda uma conexão com Bill Gates. Outros bolonaristas seguiram a mesma linha. A vacina da China e do governador Doria é um alvo preferencial. [...]

Em uma entrevista, Bolsonaro alertou que os desenvolvedores das vacinas não querem aceitar qualquer responsabilidade pelos efeitos colaterais. Ele também está considerando lançar uma "campanha de informação" sobre supostos riscos da vacinação. O efeito dissuasor já é perceptível: de acordo com uma nova pesquisa, 22% dos brasileiros não querem ser vacinados. Em agosto, eram 9%.

Saarbrücker Zeitung - A vacinação obrigatória e a cólera de Bolsonaro (18/12)

O Supremo Tribunal Federal decidiu, por dez votos a um, que as autoridades podem impor sanções aos brasileiros que se recusarem a ser imunizados. As sanções variam de multas à proibição de renovar seu passaporte ou usar transporte público local, apontou o tribunal. Mas "ninguém vai arrastar ninguém pelos cabelos para tomar vacina", garantiu o ministro Luiz Fux.

O Brasil é um dos países mais afetados pela pandemia, com 7,1 milhões de casos confirmados. Mundialmente, em termos de infecções, o país sul-americano ocupa o terceiro lugar, atrás dos Estados Unidos e da Índia. As 184.000 mortes perdem apenas para os Estados Unidos.

Apesar desses números, o chefe de Estado de extrema direita Jair Bolsonaro sempre minimizou a pandemia. Recentemente, ele declarou que ela estava chegando ao fim em seu país. Agora, ele critica duramente a decisão do Supremo Tribunal Federal. "Nós estamos mexendo com vidas. Cadê nossa liberdade? Aqui é democracia. Não é Venezuela, não é Cuba", afirmou em um vídeo nas redes sociais. "Ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina." Bolsonaro – que também é criticado por sua política em relação ao meio ambiente e às minorias – já havia garantido que não seria vacinado.

O Brasil, que tem uma população de mais de 200 milhões, espera 37,7 milhões de doses da vacina até fevereiro. O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, garantiu que mais 31 milhões de doses devem ser entregues em março. Ele afirma que o país tem um calendário de vacinação preciso e que estaria até mais avançado do que muitos outros países industrializados. "Estamos na vanguarda da imunização no mundo." Mas, até agora, o Brasil assinou apenas contrato com a farmacêutica AstraZeneca.

Frankfurter Rundschau - Bolsonaro critica vacina: "Pode te transformar em jacaré" (19/12)

O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, alertou seus compatriotas sobre a vacina contra a covid-19 da empresa BioNTech, de Mainz, e de sua parceira americana Pfizer. "Lá no contrato da Pfizer, está bem claro nós [a Pfizer] não nos responsabilizamos por qualquer efeito colateral. Se você virar um jacaré, é problema seu", disse Bolsonaro.

O presidente populista de direita repetidamente minimizou o perigo da covid-19 no passado. No início da pandemia, Bolsonaro disse que a doença não era nada mais do que uma "gripezinha". Ele disse que o vírus era uma "pequena crise" que não poderia prejudicar um país grande como o Brasil.

Jair Bolsonaro ressaltou agora que não quer ser vacinado. [...] "Se você virar super-homem, se nascer barba em alguma mulher aí, ou algum homem começar a falar fino, eles [a Pfizer] não têm nada a ver isso", disse o presidente, referindo-se à vacina da BioNTech-Pfizer.

Segundo Jair Bolsonaro, não existe vacinação obrigatória no Brasil. A vacinação seria voluntária. Mas o Supremo Tribunal Federal do país contradiz isso. Segundo os ministros: em tese, a vacina é "obrigatória" para a população, mesmo que as pessoas não possam ser obrigadas a se vacinar. As autoridades podem muito bem impor multas aos oponentes da vacinação.

O Brasil está no meio da segunda onda da pandemia. Embora a curva tenha se achatado durante o verão, o país relatou um aumento significativo de novas infecções em novembro. O número de mortes diárias também está crescendo acentuadamente de novo.

JPS/ots