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O Brasil na imprensa alemã (04/09)

4 de setembro de 2019

As queimadas na Amazônia continuam a dominar o noticiário. Jornais e revistas levantam dúvidas sobre comprometimento de Bolsonaro com o meio ambiente e sugerem que europeus devem elevar o tom com o brasileiro.

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O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro
"Bolsonaro é um homem que se vê cercado de inimigos"Foto: Reuters/A. Machado

Süddeutsche Zeitung – Bolsonaro só entende a linguagem dura (01/09)

Frequentemente o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, é comparado a Donald Trump. Isso é injusto porque, ao lado do brasileiro, o presidente americano parece um cavalheiro. Isso foi vivenciado nesta semana pelo presidente da França, Emmanuel Macron. Depois de ter criticado o fraco combate aos incêndios na Amazônia, o francês teve que aguentar insultos a sua mulher por parte de Bolsonaro nas redes sociais. Esse é um nível ao qual nem mesmo Trump desceu.

Não. O presidente do Brasil não é um Trump tropical. Ele pertence a uma categoria dos que glorificam a violência, como o presidente filipino, Rodrigo Duterte, ou de intransigentes autocratas, como o venezuelano Nicolás Maduro, cujas ações são somente influenciadas por questões como a manutenção do seu próprio poder e do sistema de compadrio que eles representam. Infelizmente, a União Europeia tem mostrado uma tendência de embalar e acalmar Bolsonaro.

Mas alguém como Bolsonaro, que se comporta como se estivesse no século 19 ou como um bandeirante, só compreende a linguagem dura. Não é suficiente lembrar que, no planejado acordo de livre-comércio da UE com o Mercosul, há cláusulas que exigem a preservação da floresta. Já existem leis suficientes de conservação no Brasil, mas Bolsonaro deu a entender aos membros do agronegócio e aos fazendeiros que eles não precisam respeitá-las. É preciso deixar claro para o Brasil que o acordo de livre-comércio não será ratificado se Bolsonaro continuar a ameaçar um patrimônio mundial como a Amazônia, como se ela fosse um jardim particular que pode ser queimado.

Stern – Brincando com fogo (29/08)

Dificilmente uma mentira poderia ter sido mais ousada quanto a do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, ao se dirigir ao país pela televisão em meio à crise: "Tenho profundo amor e respeito pela Amazônia", disse ele, diante dos incêndios florestais devastadores, que ocorrem em uma região na qual ele vem incentivando o desmatamento com todas as suas forças. "A proteção da floresta é nosso dever. Somos um governo de tolerância zero com a criminalidade, e na área ambiental não será diferente", afirmou.

Mas se você quer saber como o homem realmente encara questões ambientais, basta ver seu histórico. Em janeiro de 2012, ele foi flagrado pescando ilegalmente em uma reserva marinha na costa do Rio de Janeiro. Um funcionário do Ibama, José Morelli, lhe aplicou uma multa de 10 mil reais.

Para Bolsonaro, então deputado federal, essa foi a ocasião para uma vendeta sem precedentes: primeiro, ele apresentou uma lei para reduzir o poder do Ibama. Em seguida, ele entrou com um mandado de segurança para obter direitos exclusivos de pesca na reserva. Não foi o suficiente para ele. Finalmente, após sua eleição como presidente, ele passou a difamar o Ibama como uma mera "indústria de multas" controlada por ambientalistas radicais. No final de março, o servidor Morelli – a essa altura atuando como fiscal na Amazônia – foi exonerado do cargo.

Bolsonaro é um homem que se vê cercado de inimigos. E o Ibama, um reconhecido instituto ambiental, é algo como o seu inimigo principal – seguido dos índios da Amazônia; do Inpe; dos cientistas; do Greenpeace; de Merkel e Macron, cujo compromisso com a Amazônia é criticado por ele como um comportamento colonial. Enfim, todos aqueles que estão comprometidos em preservar o pulmão verde do mundo.

Die Zeit – Europa pode empregar seu poder para salvar a floresta. Macron acabou de fazê-lo (29/08)

As colunas de fumaça das queimadas que podiam ser vistas do espaço demonstram dramaticamente um dilema central da política internacional: o mundo precisa lidar com questões que se chocam com os limites da soberania nacional. Se a Amazônia é crítica para o clima global, nenhum governo poderia lidar sozinho com ela. Então é preciso urgentemente de mais cooperação. Por outro lado, o nacionalismo está ressurgindo mundo afora.

O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, encarna esse espírito de um modo particularmente gritante. Como um apologista da ditadura militar, um homofóbico orgulhoso e um amigo do lobby da agropecuária, ele oferece uma imagem ideal de inimigo para todos aqueles interessados em direitos humanos e proteção do meio ambiente. Ele acredita que o Brasil pode fazer o que bem entender com a floresta.

Mas o presidente francês, Emmanuel Macron, entendeu diferentemente quando atuou como anfitrião da cúpula do G7, chamando a floresta de "patrimônio universal" e classificando as queimadas de "catástrofe global". Bolsonaro rejeitou as declarações como "mentalidade colonial". Mas ele acabou recuando. O mesmo homem que inicialmente havia negado os incêndios e depois grosseiramente acusou ambientalistas de provocá-los, decidiu no final enviar militares para a região e prometeu indiciar os responsáveis pelas queimadas ilegais de acordo com as leis brasileiras

Ainda há dúvidas se Bolsonaro está falando sério. Ele rejeitou 20 milhões de dólares em ajuda emergencial por parte dos países do G7. Ainda assim, seu recuo mostra que a Europa pode jogar bem na nova ordem dos homens brutos e barulhentos.

JPS/ots

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