1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

O Brasil na imprensa alemã (09/03)

9 de março de 2022

Mídia alemã destaca posição dúbia do Brasil sobre a guerra na Ucrânia, além de iniciativas do governo Bolsonaro para facilitar o garimpo na Amazônia.

https://p.dw.com/p/48Ea0
Bolsonaro entra em aeronave
Jornais abordaram resistência de Bolsonaro em condenar a invasão russa da UcrâniaFoto: Eraldo Peres/AP Photo/picture alliance

Süddeutsche Zeitung – O complicado jogo de Bolsonaro (07/03)

Na ONU, parecia que o presidente brasileiro Jair Bolsonaro havia mudado de ideia. A luz no placar na sala da Assembleia Geral da ONU ficou verde, o país votou com os 141 estados a favor da resolução que condenava a invasão russa da Ucrânia. Será que o antigo amigo, que ainda assegurava a Vladimir Putin sua "solidariedade" quando Putin já havia colocado seus tanques na fronteira, finalmente se voltou contra o presidente russo?

A impressão é enganosa. O chefe de Estado brasileiro, que nos últimos anos não escondeu sua admiração pelo autocrata Putin, não está pensando em virar as costas para a Rússia agora. Bolsonaro está jogando um jogo complicado nesses dias. Por um lado, ele não quer que a reputação internacional do Brasil sofra mais danos do que já sofreu, por exemplo devido à desastrosa política sobre covid-19 no país e do crescente desmatamento na floresta amazônica.

Por outro lado, o Brasil não quer incomodar muito Moscou. Bolsonaro desautorizou seu vice após ele comparar Putin com Adolf Hitler por sua guerra contra a Ucrânia. O próprio Bolsonaro disse: "Nossa posição não é fixa". Ele criticou um jornalista que lhe perguntou sobre os "massacres" russos. A palavra era "exagerada", disse ele, o exército russo estava apenas atacando alvos militares – apesar de as autoridades ucranianas já estarem relatando a morte de muitos civis. Finalmente, Bolsonaro zombou do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski. Os ucranianos "colocaram seu destino nas mãos de um comediante", disse ele, aludindo à carreira anterior de Zelenski.

Esta não é a primeira gafe de Bolsonaro, o político de extrema direita já incitou contra os homossexuais e glorificou a antiga ditadura militar brasileira. A minimização dos crimes de Putin, no entanto, segue um cálculo estratégico. Bolsonaro teme pelas relações econômicas com a Rússia – e, em última instância, por seu poder. O que o gás natural é para a Alemanha, os fertilizantes são para o Brasil: eles são a mercadoria que torna o maior país da América do Sul dependente da Rússia. A produção agrícola é um pilar crucial da economia brasileira, e o Brasil recebe a maior parte do fertilizante artificial para suas fazendas da Rússia e de Belarus.

Há escassez de outros fornecedores. A China, por exemplo, um dos maiores exportadores, limitou muito suas exportações durante a pandemia. Se o fertilizante se tornasse ainda mais escasso, muitos brasileiros sentiriam o impacto, os alimentos se tornariam ainda mais caros, e a inflação já está em 10%. Bolsonaro quer ser reeleito em outubro, e nas pesquisas ele está atrás do ex-presidente de esquerda Lula da Silva.

die tageszeitung – América Latina: Os amigos de Putin ziguezagueando (04/03)

Não houve vozes discordantes da América Latina e do Caribe sobre a resolução aprovada pela Assembleia Geral da ONU contra a invasão da Ucrânia. Mas a guerra da Rússia também não encontrou rejeição unânime: Bolívia, Nicarágua, Cuba e El Salvador se abstiveram, a Venezuela nem mesmo participou.

Um pouco surpreendentes são os votos do Brasil e do México. Ambos os governos haviam rejeitado quaisquer medidas de sanções nos dias anteriores. O presidente brasileiro Jair Bolsonaro havia visitado Putin em Moscou há apenas quinze dias. "O Brasil depende em grande parte dos fertilizantes da Rússia", disse ele, justificando a visita. Isso explica o pisar em ovos dos últimos dias.

Agora Bolsonaro desarquivou um projeto de lei que "permite a exploração de minerais, água e recursos orgânicos em terras indígenas" na Amazônia. A invasão de Putin na Ucrânia está sendo usada por Bolsonaro para ocupar a Amazônia, de acordo com críticos.

FAZ – O preço do ouro sujo (07/03)

As fotos são em preto e branco, mas se você olhar para elas, você vê verde. O verde exuberante da floresta tropical. O premiado fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado a capturou com sua câmera. As fotos em sua exposição atual mostram a força da natureza e a infinita diversidade da floresta tropical e de seus povos indígenas. Salgado deliberadamente não mostra a destruição em si, mas o que está em perigo de ser destruído. "O que está acontecendo na floresta amazônica é uma tragédia", diz ele em entrevista à revista brasileira Istoé. "É algo que pode ser evitado, um problema que está se agravando sem razão alguma."

Salgado se refere à destruição contínua da maior floresta tropical do mundo, que está sendo devorada por atividades econômicas ilegais. Enquanto as terras de pastagem são limpas em regiões de fácil acesso, dezenas de milhares de madeireiros e garimpeiros estão abrindo caminho para áreas cada vez mais remotas, incluindo áreas protegidas e territórios protegidos dos povos indígenas. A perda de área de floresta pode ser medida visivelmente com satélites. Há menos evidências sobre a extensão do garimpo ilegal de ouro. Entretanto, pesquisas mostram que existem mais de 4 mil campos ilegais de garimpo de ouro na floresta amazônica. Mais da metade deles está no Brasil. O que acontece na mata da floresta tropical é raramente notado pelo público em geral, mesmo no Brasil.

Um desses raros momentos foi no final do ano passado, quando o rio Tapajós, um enorme afluente amazônico, de repente não era mais cristalino, mas turvo. O rio também passa pelo popular destino turístico de Alter do Chão, também chamado de Caribe da Amazônia por causa de suas praias de areia branca. Em busca da causa da turbidez, pesquisadores retraçaram o caminho dos sedimentos e se depararam com afluentes do rio Tapajós, alguns deles distantes, onde centenas de garimpeiros ilegais de ouro atuavam.

Na região, os negócios em torno do ouro têm uma influência muito grande, tanto economicamente quanto politicamente. Muitas autoridades locais na Amazônia colaboram com os garimpeiros de ouro e emitem licenças de mineração. Não é raro que os próprios políticos locais se envolvam com o negócio. Já há algum tempo, eles também têm o apoio de Brasília. Em fevereiro, o presidente Jair Bolsonaro emitiu dois decretos que classificam a mineração de ouro em pequena escala como "mineração artesanal" e facilitam os procedimentos de autorização. Mesmo antes de sua eleição como presidente, Bolsonaro havia descrito a "criminalização" dos garimpeiros de ouro como injusta e criticou o trabalho dos órgãos de controle, cujos orçamentos ele depois submeteu a grandes cortes como presidente.

bl/ek (ots)