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O Brasil na imprensa alemã (09/01)

9 de janeiro de 2019

Em podcast e edições impressas, jornais alemães repercutem semelhanças entre Trump e Bolsonaro. Governo voltado para classe média alta brasileira e figura controversa de Sérgio Moro também foram destaque.

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Jair Bolsonaro
"Brasil acima de tudo", lema de Bolsonaro, é variação do "America First" de Trump, destaca jornalFoto: picture alliance/dpa/E. Peres

Süddeutsche Zeitung – Irmãos de alma, 04/01/2019

"O populista Donald Trump e o extremista de direita Jair Bolsonaro têm tom e estilo semelhantes. Com métodos parecidos, conseguiram conquistar os cargos políticos mais altos no Brasil e nos Estados Unidos. E, como presidentes da segunda e da quarta democracia do mundo, perseguem projetos semelhantes e com potencial de ameaçar justamente a democracia.

Trump e Bolsonaro, os dois foram inicialmente subestimados de forma completamente grotesca. Quando tornaram públicas suas ambições à presidência, foram vistos como palhaços políticos que não deveriam ser levados a sério. Quando subiram nas pesquisas, dizia-se que seriam derrotados no máximo no segundo turno. Mas escapou a muitos observadores o fato de que Trump e Bolsonaro conseguiram incendiar um ânimo que os levou até a presidência. Os dois se apresentaram como outsiders que romperiam com as estruturas políticas, acabariam com a corrupção e a paralisia e que estimulariam a economia – projetando-se como aqueles que finalmente entregariam resultados.

Mas, naturalmente, esses resultados não são os mesmos para todos. Assim como Trump, nove anos mais velho, Bolsonaro, de 63 anos, reverencia o nacionalismo. 'O Brasil não pode ser um país de fronteiras abertas', disse Bolsonaro diante dos muitos refugiados venezuelanos, soando de forma muito parecida com Trump quando ele falou dos imigrantes na fronteira sul dos Estados Unidos. Seu programa de governo diz 'Brasil acima de tudo', o que não passa de uma variação do lema 'America First'.

Outra semelhança: supostamente, tanto Trump quanto Bolsonaro tiveram apoio ilegal durante a campanha eleitoral. O chamado escândalo da Rússia nos EUA encontra seu equivalente brasileiro num escândalo envolvendo o serviço de mensagens WhatsApp. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, diversas empresas teriam ajudado a financiar secretamente uma campanha de difamação contra o adversário de Bolsonaro no segundo turno. Foram disseminadas milhões de notícias falsas.

Lembrando que, segundo a perspectiva dos dois presidentes, a imprensa tradicional é a responsável pelas chamadas fake news."

Podcast 'Was Jetzt?' (Die Zeit) – A nova luta de classes do Brasil, 04/01/2019

"É preciso dizer que o clima no Rio de Janeiro está muito bom, este é o bastião do bolsonarismo e de Jair Bolsonaro, que vive aqui com sua família e tem muitos apoiadores. No sul da cidade, vivem muitos membros da classe média alta e das elites do país, para os quais Bolsonaro faz uma política forte.

É uma política para as classes médias altas, que se sentem fortemente negligenciadas pela política dos últimos 15 a 20 anos, quando classes mais baixas passaram a ser mais integradas à sociedade. É em parte um clichê: essas pessoas (de classe média alta) reclamaram, por muito tempo, de não conseguirem mais encontrar empregados ou empregadas domésticas porque as pessoas que antigamente eram pobres e que costumavam trabalhar por muito pouco dinheiro agora têm mais reivindicações e obtiveram mais direitos. Isso fez com que a raiva se acumulasse entre os mais ricos. Não digo que seja o único fenômeno que se pode observar por aqui, mas é uma parte importante, é uma espécie de luta de classes que aconteceu por aqui."

Frankfurter Allgemeine Zeitung – Herói popular ou traidor?, 04/01/2019

"Para muitos brasileiros, ele é um herói popular. Para muitos outros, um golpista e traidor. De qualquer forma, o ex-juiz federal Sérgio Moro é uma das figuras centrais do governo do novo presidente populista de direita Jair Bolsonaro. Moro assume o Ministério da Justiça e Segurança Pública, cujas atribuições foram largamente ampliadas e que também assumirá funções do extinto Ministério do Trabalho. Além disso, Moro será responsável pelo controle de transações financeiras e também pela defesa do consumidor e pela regulação da concorrência. 

Por muito tempo, Moro garantiu que não ambicionava uma carreira política e que, com suas investigações e julgamentos, não perseguia nenhum outro objetivo além do combate à corrupção. Contudo, é difícil acreditar nisso. Pelo menos na história recente do Brasil, Moro atuou extrapolando suas competências para influenciar decididamente o curso das coisas. Um exemplo foi quando ele decidiu pela condução coercitiva bastante mediatizada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para depor. Na ocasião, Lula foi surpreendido pela ação, mas a imprensa foi informada antecipadamente. (...)

Muitos de seus admiradores também estão decepcionados com a passagem definitiva do juiz para a política. Mas, para muitos outros brasileiros, Moro é agora uma nova esperança. Ninguém representa a esperança e a expectativa de que algo mude para melhor no Brasil como Moro. Alguns observadores consideram Moro o ministro mais poderoso na equipe de Bolsonaro, até mais poderoso do que o ministro da Economia, Paulo Guedes. A luta contra a corrupção e outros crimes foi um dos temas centrais na campanha eleitoral de Bolsonaro, bem mais significativa do que a política econômica. Sem dúvida, Moro teria sido um forte candidato a presidente em 2018. Agora, ele, que tem 46 anos, poderia ser um dos principais aspirantes a sucessor de Bolsonaro, contanto que possa coroar seu trabalho de superministro com sucesso."

RK/ots

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