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O Brasil na imprensa alemã (02/02)

2 de fevereiro de 2022

Morte de Olavo de Carvalho e a queda histórica do número de católicos no Brasil foram destaque na mídia da Alemanha. Ausência de Bolsonaro em interrogatório na polícia e enchentes em São Paulo também foram citados.

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Olavo de Carvalho
Foto: Terrance Mccoy/AP Photo/picture alliance

Süddeutsche Zeitung – A morte de um guru da extrema direita (27/01)

Um dia de luto nacional por um propagador de teorias da conspiração: Olavo de Carvalho, a eminência da direita brasileira, está morto.

Provavelmente era inevitável que a morte de Olavo de Carvalho fosse cercada de ambiguidades, especulações e acusações. O teórico da conspiração brasileiro, que também era considerado o guru direitista do presidente Jair Bolsonaro, morreu perto de sua casa no estado americano da Virgínia.

Carvalho tinha 74 anos e ainda não está claro qual foi a causa da morte. Mas, ao mesmo tempo, isso não é totalmente irrelevante: afinal, o autoproclamado filósofo havia aparecido recentemente sobretudo como um negador radical do coronavírus. Segundo Carvalho, o vírus não seria nada além de "uma pequena história de horror" contada para espalhar medo entre a população.

Em meados de janeiro, ele supostamente contraiu o patógeno. Embora seu médico tenha afirmado não haver ligação entre a infecção por covid-19 e sua morte, uma das filhas de Carvalho, que há muito tempo havia rompido com ele, afirmou o contrário. "Olavo morreu de covid-19", escreveu Heloísa de Carvalho no Twitter. "Que Deus perdoe ele de todas as maldades que cometeu."

Poucas personalidades polarizaram tanto nos últimos tempos, na maior nação da América do Sul, quanto Olavo de Carvalho. Outrora nada além de um grosseiro colunista de extrema direita, suas teorias de conspiração receberam grande impulso com o declínio econômico do Brasil no fim dos anos 2000. Milhares perderam seus empregos, o crime explodiu e a corrupção se espalhou por todos os partidos políticos.

Carvalho pressentiu uma conspiração de esquerda por trás de tudo isso. Lutou pelo direito de portar armas e contra a suposta decadência dos valores cristãos. Mais e mais pessoas o seguiam online, e mais e mais foram vistas em manifestações vestindo camisetas com a frase "Olavo está certo".

Nas eleições presidenciais de 2018, Jair Bolsonaro aproveitou o poder dessa corrente de ultradireita. [...] No entanto, pouco tempo após a posse de Bolsonaro, Olavo de Carvalho também começou a criticar publicamente o presidente: ele estaria sendo indeciso demais na luta contra o marxismo.

A grande questão agora é se a morte de Carvalho também pode afetar as eleições que serão realizadas este ano. O Brasil foi duramente atingido pela pandemia de covid-19 e a economia entrou em colapso. Muitos culpam o presidente pela miséria, os números de pesquisas sobre ele estão no fundo do poço, e a morte de Carvalho pode ser mais um símbolo do fim da era Bolsonaro.

Die Welt – O papa vai perdendo seus fiéis (26/01)

Com Francisco, o "papa dos pobres" da Argentina, a Igreja Católica queria reconquistar terreno perdido na América do Sul. Mas no Brasil, pela primeira vez, o número de católicos será inferior a 50%. O motivo é um problema de origem interna.

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A crítica do papa Francisco ao capitalismo é bem recebida por organizações sociais e ONGs, mas dificilmente se ouvem confissões abertas à Igreja ou à fé. Em vez disso, a Igreja Católica na América Latina enfrenta agora um desastre histórico.

Segundo cálculos do IBGE, o Vaticano perderá o maior país católico do mundo. No decorrer deste ano, pela primeira vez na história serão menos de 50% de católicos no Brasil, outrora quase inteiramente católico.   

Para o êxodo em massa não apenas no Brasil, mas em toda a América Latina, existem inúmeras razões. Primeiro, há os casos de abusos divulgados nos últimos anos em todo o continente. Mas os problemas são mais profundos.

Os cristãos conservadores estão furiosos, porque o papa não condenou sequer uma vez as graves violações de direitos humanos nas ditaduras de esquerda de Cuba, Venezuela e Nicarágua. Em vez disso, ele critica a economia de mercado e o capitalismo, num momento em que o continente está confrontado com uma enorme tarefa humanitária devido a uma onda de refugiados dos países socialistas já citados.

 Por outro lado, no campo dos católicos liberais de esquerda progressistas, reina uma grande decepção por o papa Francisco equiparar as mulheres que decidem fazer um aborto com assassinas, e também por ainda não ter aceitado casamentos do mesmo sexo ou papéis de liderança para mulheres na Igreja.

Quem sai ganhando com esses desdobramentos são as Igrejas evangélicas, que estão mais do que contentes em ocupar o terreno perdido pelo papa. As igrejas majoritariamente conservadoras pregam a economia de mercado, para a qual também oferecem cursos de treinamento prático. Ao que tudo indica, para os cidadãos dos bairros pobres isso é mais atraente do que a misericórdia.

Die Zeit – Bolsonaro não comparece a interrogatório policial (29/01)

Jornalistas esperaram em vão em frente à central policial: apesar de convocado, o presidente do Brasil não compareceu a um interrogatório sobre suas críticas ao sistema eletrônico de votação.

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Apesar de uma intimação judicial, o presidente Jair Bolsonaro não compareceu para o interrogatório policial. Por ele ter expressado repetidamente dúvidas sobre o sistema eleitoral, correm desde agosto de 2021 processos contra o chefe de Estado radical de direita no Supremo Tribunal Federal (STF) por difamação e incitação criminosa.

Bolsonaro questiona o sistema eleitoral brasileiro, que é puramente eletrônico desde 1996. Neste contexto, ele aponta falsificações sem apresentar provas e exige que na eleição presidencial de outubro sejam permitidas também cédulas em papel como garantia.

Tagesschau – Mortes por deslizamentos de terra e inundações (31/01)

Pelo menos 19 indivíduos morreram no Brasil em deslizamentos de terra e inundações, após contínuas chuvas torrenciais. Entre os mortos estão sete crianças, de acordo com comunicado do governo do estado de São Paulo. Cerca de 500 famílias perderam suas casas ou tiveram que deixá-las.

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Há três semanas, pelo menos dez pessoas morreram em deslizamentos de terra e inundações no estado vizinho de Minas Gerais. Ocorreu também uma tragédia com a queda de um paredão sobre embarcações turísticas numa barragem da Furnas, causando outras dez mortes. Não está claro se as chuvas fortes contribuíram para o desprendimento de uma grande parte do rochedo.

Antes, o estado da Bahia, que faz divisa com Minas Gerais, foi atingido pelas piores enchentes em 30 anos.

pv/av (ots)