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No centro, o ator

5 de maio de 2009

As dez produções teatrais mais 'notáveis' da Alemanha, Áustria e Suíça são mostradas na capital alemã. Alvo de críticas, a fixação nos grandes teatros e grandes nomes.

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'A diaba'Foto: Georg Soulek

Dez das cerca de 5 mil produções estreadas nos mais de 400 teatros da Alemanha, Áustria e Suíça têm a honra de ser convidadas a cada ano para o festival Theatertreffen de Berlim. A seleção cabe a um júri de sete críticos. Além de uma festa do teatro, trata-se de uma bolsa para os artistas, um trampolim importante para suas carreiras.

Bilder vom Theatertreffen 2009
'Aqui e agora'Foto: Matthias Horn

O programa paralelo amplia o evento, transformando-o num fórum de discussões sobre o teatro de língua germânica. Por exemplo: o ministro do Exterior debate com dois diretores sobre "Política e privacidade: Identidades e biografias na ribalta". E cada montagem convidada é discutida entre os participantes e os espectadores.

Após a última apresentação, os críticos-jurados também se submetem à opinião do público. Num "Mercado de Peças", novas obras da Europa são apresentadas em leituras cênicas e discutidas. E 45 profissionais de teatro de todo o mundo se reúnem durante duas semanas no "Fórum Internacional".

Voz aos grandes teatros

Neste ano, apenas nove das dez produções escolhidas viajam até a capital alemã. O projeto de Christoph Marthaler, realizado em um hotel num bosque na Suíça, depende demais de sua localização específica. Os demais selecionados provêm exclusivamente de teatros metropolitanos.

É verdade que a tarefa do júri consistia em eleger não as melhores, e sim as mais notáveis montagens. Porém uma grande parte da paisagem teatral não passou por seu controle de qualidade – ou pelo pudor de apresentar em Berlim o teatro excepcional, porém não perfeito, de palcos menores.

Isso é uma pena, embora as produções convidadas sejam maravilhosas: duas vezes Viena, duas Hamburgo, e – uma vez cada – Munique, Colônia, Zurique e Berlim.

Do festival Ruhrtriennale comparece Eine Kirche der Angst vor dem Fremden in mir (Uma igreja do medo do estranho dentro de mim), de Christoph Schlingensief. Nesse "oratório de fluxo" o provocador teatral, que sofre de câncer, se ocupa – de modo tão fundamental quanto pessoal – da relação entre a arte e a vida.

Theatertreffen Eine Kirche der Angst vor dem Fremden in mir
'Uma igreja do medo do estranho dentro de mim'Foto: © Ursula Kaufmann

Milionários hamburgueses e suicídio multimídia

O diretor Volker Lösch, do Teatro Municipal de Hamburgo, lança mão de um coro de leigos desempregados em Marat, was ist aus unserer Revolution geworden (Marat, o que foi feito de nossa revolução), baseado numa peça de Peter Weiss.

Os coros bradam sua cólera e miséria, salvadores ideológicos de Lenin a Fidel Castro entram pairando, e no fim são lidos os nomes e os bens dos mais ricos hamburgueses, com a exigência de um imposto sobre grandes fortunas. Com essa intensamente controvertida montagem, Lösch mostra uma forma totalmente diferente do teatro politicamente engajado.

Já a inglesa Katie Mitchell encena Wunschkonzert (Concerto a pedidos), de Franz Xaver Kroetz, como espetáculo multimídia, com orquestra e filmagem ao vivo da ação cênica. A peça mostra o dia-a-dia monótono de uma mulher silenciosa, que ouve rádio antes de cometer suicídio.

No centro, o ator

Bilder vom Theatertreffen 2009
'Os assaltantes'Foto: Arno Declair

O fabuloso ator Joachim Meyerhoff é autor, diretor e intérprete de Alle Toten fliegen hoch ("Todos os mortos voam alto" ou "explodem"). Também de Viena vem a versão de Martin Kusej de Der Weibsteufel (A diaba). Graças à atuação poderosa de Birgit Minichmayr, a peça de triângulo amoroso se transforma numa dança existencial à beira do abismo.

Com sua busca pela verdade na vida e no palco, o diretor Jürgen Gosch está presente em dose dupla no festival: com A gaivota, de Anton Tchekhov, numa produção berlinense, e a estreia de Hier und jetzt (Aqui e agora), de Roland Schimmelpfennig, trazida de Zurique.

A versão cênica de O processo, de Franz Kafka, por Andreas Kriegenburg (Munique), é um virtuosístico jogo de imagens, tendo um Josef K. setuplicado como protagonista. Por sua vez, em Os assaltantes, de Friedrich Schiller, Nicolas Stemann (Hamburgo) faz Franz Moor articular quadruplamente seu protesto.

No total, como nos últimos anos, só se pode apontar uma tendência comum neste programa que abarca tantos estilos teatrais: no centro está o ator – e não tanto o diretor.

Autor: Hartmut Krug
Revisão: Roselaine Wandscheer