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Não há interesse em resolver a questão nuclear?

Peter Philipp (gh)23 de agosto de 2006

EUA e europeus entortam as regras do jogo e o Irã usa a tática da protelação. Peter Philipp analisa a briga nuclear entre o Ocidente e o governo em Teerã.

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Quem não respeita as regras do jogo é expulso – tanto no jogo quanto na política. Esta é a impressão que os Estados Unidos vêm tentando transmitir há tempo na briga nuclear com o Irã. Para eles – como também para muitos europeus – é certo que o governo em Teerã joga com cartas marcadas e por isso não merece confiança. Pelo contrário, deve ser castigado. Mesmo que oficialmente não sejam conhecidos detalhes da resposta iraniana de 22 de agosto, Teerã novamente será culpado por não se comportar conforme se espera.

No entanto, os EUA e os europeus precisam admitir a acusação de que eles mesmos entortaram as regras do jogo para pressionar o Irã. Assim, o embaixador norte-americano na ONU, John Bolton, anunciou que Teerã estava transgredindo o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNPN) e por isso precisava ser freado. Isso é aceito sem protestos, embora exatamente este seja o ponto crucial da briga nuclear: há anos, o Irã cumpre as exigências do TNPN por ele assinado.

Em Washington, Jerusalém e também em Bruxelas, porém, não se quer acreditar nisso. Um Estado tão rico em petróleo estaria interessado em energia nuclear? Por trás disso, supõe-se, deve haver a tentativa de produzir armas atômicas. Uma tese facilmente aceita quando se observa há anos como Teerã tenta ganhar tempo em vez de buscar uma solução. Ao que tudo indica, a resposta iraniana de terça-feira (22/08) é mais uma tentativa nesta direção.

Mas a resposta e a tática de protelação iranianas não são prova de que o Irã ambicione ter armas nucleares. Esta prova não existe até agora. Por isso, teria sido melhor que o Conselho de Segurança da ONU tivesse acertado um procedimento conciliatório, que não tivesse dado um ultimato e ameaçado Teerã. Com isso, se fortaleceu a linha dura em Teerã, dificultou um entendimento e, além disso, se colocou em questão o Tratado de Não Proliferação Nuclear em si. Qual é o valor de tal tratado, se as regras nele contidas podem ser interpretadas a bel-prazer?

A falta de avanços na briga nuclear não pode nem deve ser atribuída apenas a uma das partes. O Conselho de Segurança e a Alemanha evidentemente se deixaram arrastar demais pelos EUA, esquecendo os princípios elementares da política e da diplomacia. E o Irã protela as coisas, fica devendo respostas claras e não se esforça para reduzir a desconfiança no exterior.

Mesmo assim, se Teerã agora está disposto ao início imediato de negociações, isso deve ser saudado. Mas uma resposta destas o Irã já poderia ter dado há três meses. Desde então, desperdiçou-se tempo valioso, e a desconfiança aumentou.

Peter Philipp, jornalista da Deutsche Welle, perito em Oriente Médio, trabalhou durante 23 anos como correspondente em Israel.