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Mês de escuridão e lembranças

25 de novembro de 2012

Nele as Igrejas e o Estado lembram seus mortos, com o Dia de Todos os Santos e homenagem às vítimas das guerras. Apesar de novembro ser tão escuro, maioria dos suicídios acontece com o renascer da natureza, na primavera.

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Foto: picture-alliance/dpa

Para Irina Suchan, o melhor remédio contra a depressão nos dias de frio e escuridão é uma xícara de café ou chocolate quente. À vezes, ela também ilumina o ambiente com velas, pois "nossos moradores precisam de um estímulo para a alma", comenta a diretora do serviço social de um lar para idosos em Bonn. Quando o mau tempo prende os moradores dentro de casa, muitos deles podem ficar "bem irritáveis".

Na Alemanha, novembro é um mês do luto: começa a escuridão dos meses de inverno, e as diferentes confissões religiosas reservam determinados dias para relembrar os que se foram. Para a Igreja católica alemã, o 1º de novembro, Dia de Todos os Santos, é feriado; enquanto os luteranos cultivam a memória de seus mortos no último domingo do mês. E no fim de semana anterior celebra-se o Volkstrauertag, dia de luto nacional pelas vítimas da tirania e da guerra.

O número de suicídios aumenta na primavera

"Novembro é o mês da lembrança e da penitência", explica Reinhard Mawick, porta-voz da Igreja Luterana da Alemanha, em entrevista a Deutsche Welle (DW). Porém a noção de que haja um aumento nas taxas de morte e suicídio nesse mês, não passa de um mito. A cada ano, um total de 20 a 30 internos morre no asilo em Bonn, mas Suchan não constata qualquer pico em novembro: "As pessoas nos deixam o ano todo".

Os números do Departamento Federal alemão de Estatísticas confirmam: em 2010, 854 pessoas cometeram suicídio em novembro, mas o recorde coube ao mês de março, com 957 casos.

Medo do esquecimento após a morte atormenta muitos idosos
Medo do esquecimento após a morte atormenta muitos idososFoto: picture-alliance/dpa

"É verdade que no inverno meus pacientes ficam sem esperança e desesperados, mas lhes falta o impulso", relata o professor René Hurlemann, psiquiatra-chefe do Hospital Universitário em Bonn. Segundo ele, existe uma forte relação entre luminosidade e impulso emocional e, pelo menos na Alemanha, a luz não retorna até os primeiros dias da primavera. Em alguns casos, o desabrochar da natureza é que pode exacerbar os sentimentos de desesperança e tristeza, diz Hurlemann.

Tempo da consciência

O luto faz parte da profissão de Fritz Kirchmaier. Ele é porta-voz da Associação Pública para Conservação das Sepulturas das Vitimas da Guerra. Kirchmaier participa de pelo menos quatro cerimônias fúnebres no Dia do Luto Nacional, no final de novembro.

Kirchmaier observa que, 60 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, a tristeza diminuiu, mas as lembranças permanecem. "Isso é natural, pois as pessoas não estão mais tão fortemente afetadas", explicou à DW. "Muitas esposas dos soldados caídos não vivem mais."

O Volkstrauertag, observado na Alemanha desde o início do século 20, não se dirige apenas às vítimas das duas guerras mundiais. "O luto ganhou uma nova qualidade", diz Kirchmaier, referindo-se aos soldados alemães recentemente caídos no Afeganistão. Ele acho que o serviço dos soldados alemães muitas vezes não é devidamente apreciado, por isso a importância de um mês de luto oficial, a fim de que se relembrem todas as vítimas.

Vítimas de guerras são lembradas em novembro, na Alemanha
Vítimas de guerras são lembradas em novembro, na AlemanhaFoto: Dirk-Bodo Nagel

Lembranças e comemoração são temas centrais no asilo em Bonn, e não somente em novembro. "É essencial que as pessoas não desapareçam, simplesmente", diz Irina Suchan, preocupada, em especial, com os idosos que não têm mais nenhum familiar.

Pois o medo de ser esquecido, não se bane com chocolate quente e velas.

Autora: Naomi Conrad (cn)
Revisão: Augusto Valente