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Nord Stream 2 e a luta pelo poder entre Ocidente e Rússia

Nik Martin
6 de fevereiro de 2022

Gasoduto russo no Mar Báltico, construído para suprir as futuras demandas energéticas da Alemanha, é objeto de polêmica com vizinhos e aliados e está sob ameaça devido a impasse entre Moscou e potências ocidentais.

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Estação na Alemanha do gasoduto Nord Stream 2
Nord Stream 2 custou 9,5 bilhões de euros. Com 1.230 quilômetros, é o gasoduto submarino mais extenso do mundoFoto: Nikolai Ryutin/Nord Stream 2

O que é Nord Stream 2?

O Nord Stream 2 é o segundo gasoduto de gás natural entre o oeste da Rússia e o nordeste da Alemanha, passando sob o Mar Báltico. Assim como o Nord Stream 1, inaugurado em 2011, ele tem uma capacidade de transportar 55 bilhões de metros cúbicos de gás natural por ano. Ao todo, as duas instalações enviariam 110 bilhões de metros cúbicos de gás natural anualmente à Alemanha.

A construção do Nord Stream 2 custou 9,5 bilhões de euros e, com 1.230 quilômetros de extensão, é o gasoduto submarino mais longo do mundo. Seu projeto esteve no papel por mais de uma década, mas a construção só foi iniciada em maio de 2018 e concluída em setembro de 2021.

Apesar de concluído, o Nord Stream 2 ainda não entrou em funcionamento, pois sua licença de operação foi adiada por questões burocráticas envolvendo regulamentos europeus e alemães.

Por que o Nord Stream 2 é necessário?

Para suprir suas necessidades energéticas, a Alemanha depende quase inteiramente das importações de gás natural e, de acordo com dados de 2020, compilados pelo provedor de informações IHS Markit, a Rússia é responsável por mais da metade dos suprimentos.

A economia mais forte da Europa precisa se livrar do carvão e da energia nuclear para alavancar sua transição energética. E pretende usar o gás como ponte até que possa gerar ou importar energia renovável suficiente para sua demanda interna.

A necessidade de gás natural se tornou mais aguda com o fechamento de três das últimas seis usinas nucleares na Alemanha, em 31 de dezembro de 2021. As três unidades restantes serão fechadas em dezembro deste ano.

Embora o Nord Stream 2 ajude a Alemanha a aumentar seu abastecimento, a maior parte do gás será canalizado para Áustria, Itália e países da Europa Central e Oriental. Alguns grupos ambientalistas insistem desde sempre que o gasoduto é desnecessário.

Quem está envolvido no Nord Stream 2?

O gasoduto pertence à estatal russa Gazprom e foi construído com o apoio de cinco empresas europeias de energia: OMV da Áustria, a anglo-holandesa Shell, Engie, da França, e as alemãs Uniper e Winterhall – esta última uma filial da multinacional Basf. As cinco aportaram cerca de metade do investimento inicial.

Infografik Gaspipelines von Russland nach Europa PT

Por que o Nord Stream 2 é tão controverso?

Desde o início dos planos, os Estados Unidos e vários parceiros europeus da Alemanha se posicionaram contrários ao Nord Stream 2 e pressionaram o governo da então chanceler federal alemã Angela Merkel a desistir do acordo.

Os aliados alertaram que o Nord Stream 2 tornaria a Europa dependente demais do gás russo, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, poderia usar essa dependência como ferramenta de persuasão e pressão em disputas com o Ocidente.

Atualmente, grande parte do gás natural da Europa chega ao bloco via Ucrânia, que recebe taxas de trânsito de Moscou. A Polônia desaprova o Nord Stream 2, pois o governo gostaria de intensificar seu papel como país de trânsito para o gás russo.

Enquanto isso, Berlim tem insistido há bastante tempo que o gasoduto é uma questão puramente econômica.

Por que o projeto Nord Stream 2 quase foi arquivado?

Em 2018, enquanto o gasoduto estava sendo construído, o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, impôs sanções a todo indivíduo ou entidade envolvidos no projeto.

Cerca de 18 empresas europeias desistiram, incluindo a alemã Wintershall, por medo de sanções financeiras. A russa Gazprom declarou que continuaria a instalação do gasoduto, e o projeto foi concluído, apesar das ameaças americanas.

Em maio de 2021, o governo Biden anunciou renunciar a todas as possíveis sanções relacionadas ao Nord Stream 2, para não prejudicar as relações de Washington com Berlim.

Operários celebram a conclusão da construção do gasoduto Nord Stream 2 em setembro de 2021
Operários celebram a conclusão da construção do gasoduto Nord Stream 2 em setembro de 2021Foto: Axel Schmidt/Nord Stream 2

Por que o Nord Stream 2 está novamente sob ameaça?

O gasoduto ocupa atualmente um lugar de destaque na crescente crise entre a Rússia e as potências ocidentais sobre a Ucrânia. Os EUA e a Otan afirmam que a Rússia estacionou mais de 100 mil soldados ao longo de sua fronteira com a Ucrânia, e que os russos estão prontos para uma invasão. Moscou tem negado essas informações.

O Ocidente voltou a ameaçar impor sanções contra a Rússia, desta vez visando bancos do país. Uma possibilidade teórica é excluí-los do sistema global de pagamentos SWIFT, responsável por 35 milhões de transações financeiras diárias, no valor de cerca de 5 trilhões de dólares.

Outra proposta é adiar ainda mais a aprovação formal do Nord Stream 2 – e, consequentemente, o início de sua operação –, como capital de barganha para forçar a Rússia a abdicar de uma guerra.

Numa reviravolta recente, Berlim sinalizou que não descarta mais o engavetamento do projeto. No entanto, a Europa enfrenta uma crise energética neste inverno europeu. Os preços do gás natural dispararam nos últimos meses e os estoques nos países da União Europeia estão no nível mais baixo em cinco anos.

Em meio a tudo isso, o órgão regulador de energia da Alemanha comunicou recentemente ser improvável que o Nord Stream 2 obtenha aprovação antes da metade do ano de 2022 devido a entraves burocráticos.

A regulamentação da União Europeia sobre gás natural determina uma separação entre a operação do gasoduto e a venda do combustível. Formalmente, o único acionista da Nord Stream 2 é a empresa russa Gazprom. A sociedade anônima Nord Stream 2 tem sede em Zug, na Suíça, o que representa outro entrave, pois o regulador alemão exige que a firma operadora da rede de transporte do gás seja registrada na Alemanha, sob o direito alemão.

Para satisfazer as autoridades, criou-se recentemente uma filial com o nome Gas for Europe Ltd., com sede em Schwerin, no extremo norte da Alemanha. Mas a papelada ainda não foi entregue às autoridades alemãs.