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"Nature" descreve reeleição de Bolsonaro como ameaça

27 de outubro de 2022

Em editorial, renomada revista científica afirma que "só há uma opção" no segundo turno das eleições brasileiras e que um segundo mandato de Bolsonaro representaria um risco "à ciência, à democracia e ao meio ambiente".

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Mulher segura cartaz de Jair Bolsonaro em rua iluminada por postes de luz
Foto: ADRIANO MACHADO/REUTERS

Um editorial da revista científica Nature, uma das mais relevantes do mundo, abordou o segundo turno das eleições presidenciais brasileiras, afirmando que um segundo mandato do presidente Jair Bolsonaro representaria uma "ameaça à ciência, à democracia e ao meio ambiente".

Intitulado "Há apenas uma escolha na eleição do Brasil – para o país e para o mundo", o texto opinativo publicado na terça-feira (25/10) afirma que o Brasil está diante de uma de suas eleições mais importantes desde o fim da ditadura militar em 1985.

O editorial descreve Bolsonaro como um populista e ex-capitão do Exército que assumiu o cargo em 2019 "negando a ciência, ameaçando os direitos dos povos indígenas, promovendo armas como solução para questões de segurança e promovendo uma abordagem de desenvolvimento a todo custo para a economia".

"Bolsonaro foi fiel à sua palavra. Seu mandato foi desastroso para a ciência, o meio ambiente, o povo do Brasil – e do mundo", escreve a revista, acrescentando que o "histórico de Bolsonaro é de arregalar os olhos".

O texto segue listando que o meio ambiente "foi devastado" quando o presidente retirou proteções legais e menosprezou os direitos dos povos indígenas, e que o desmatamento na Amazônia atingiu níveis alarmantes.

A Nature ainda traçou paralelos entre Bolsonaro e o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, afirmando que ambos "tentaram minar o Estado de direito", bem como ignoraram os alertas dos cientistas sobre a covid-19 e negaram os perigos da doença.

"Bolsonaro também minou os programas de vacinas, questionando a segurança e eficácia das doses. Mais de 685.000 pessoas no Brasil morreram de covid-19. A crise econômica que se seguiu à pandemia atingiu duramente os brasileiros", afirma.

O editorial também aponta que o financiamento para ciência e inovação continuou a diminuir sob a gestão Bolsonaro, "a ponto de muitas universidades federais estarem lutando para manter as luzes acesas e os prédios abertos".

Contrastes com a gestão Lula

Segundo a revista, a situação contrasta com o cenário de uma década antes de o presidente ultradireitista assumir o Planalto, "quando o Partido dos Trabalhadores fez grandes investimentos em ciência e inovação, fortes proteções ambientais estavam em vigor, e oportunidades educacionais foram expandidas".

O texto destaca outros feitos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) – que concorre contra Bolsonaro no segundo turno em 30 de outubro –, como o Bolsa Família, um programa de transferência de renda que permitiu que "pessoas de baixa renda tivessem ganhos em riquezas e oportunidades".

Além disso, "o Brasil exibiu sua reputação de líder ambiental aumentando a aplicação da lei ambiental e reduzindo o desmatamento na Amazônia em cerca de 80% entre 2004 e 2012", diz a revista.

"Por um tempo, o Brasil rompeu o vínculo entre o desmatamento e a produção de commodities como carne bovina e soja, e parecia que o país poderia ser pioneiro em sua própria marca de desenvolvimento sustentável. Muito desse progresso já foi desfeito."

"Dano pode ser irreparável"

Ao lembrar que Lula chegou a ficar 19 meses preso como resultado de uma investigação por corrupção e que suas condenações foram posteriormente anuladas, a Nature afirma que "nenhum líder político chega perto de ser perfeito".

"Mas os últimos quatro anos no Brasil são um lembrete do que acontece quando aqueles que elegemos desmantelam ativamente as instituições destinadas a reduzir a pobreza, proteger a saúde pública, impulsionar a ciência e o conhecimento, proteger o meio ambiente e defender a justiça e a integridade das evidências", escreve.

O editorial conclui afirmando que "os eleitores do Brasil têm uma oportunidade valiosa para começar a reconstruir o que Bolsonaro derrubou".

"Se Bolsonaro conseguir mais quatro anos, o dano pode ser irreparável."

Não é a primeira vez que a Nature publica um editorial comentando as eleições brasileiras. Após a vitória de Bolsonaro em 2018, a revista descreveu o resultado como "ruim para a pesquisa e para o meio ambiente", bem como uma "ameaça à ciência".

ek (ots)