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"Também somos americanos"

8 de agosto de 2011

Desde o 11 de Setembro, os muçulmanos nos EUA enfrentam um problema de imagem. Entidades de muçulmanos se engajam pela integração na sociedade.

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"Temos um excelente relacionamento com o FBI, com o Tesouro Nacional, com a Secretaria de Estado e com todos os outros departamentos do Judiciário", consta do site do Centro Adams (All Dulles Area Muslim Society), referência para mais de cinco mil famílias muçulmanas nos EUA e, de acordo com suas próprias declarações, a maior comunidade muçulmana do país.

"Queremos ter certeza de que todo mundo sabe quem somos e que rejeitamos o extremismo e o terrorismo", declara Rizawn Jaka, porta-voz da organização. Segundo ele, é por isso que, do site do Adams, consta também a informação de que há igualdade de direitos entre homens e mulheres, que a comunidade tem apreço pela cooperação com outros grupos religiosos e que atividades filantrópicas são consideradas importantes.

Muslime in den USA
Rizwan Jaka aposta na importância das ofertas de lazer, não apenas para muçulmanosFoto: DW

As explicações têm seus motivos. Desde 11 de setembro de 2001, a comunidade muçulmana no oeste da capital, Washington, vem sendo vítima de muito ódio. Na noite dos ataques terroristas, sua antiga mesquita foi arrombada e as placas para a construção de novas instalações, já planejadas na época, foram incendiadas.

Ao mesmo tempo, acentua Jaka, outras comunidades religiosas da região declararam solidariedade imediata aos muçulmanos, ajudando com plantões de proteção e oferecendo ajuda para acompanhar as mulheres da comunidade islâmica nas ruas, caso elas se sentissem inseguras.

Vandalismo e violência contra muçulmanos

Na opinião de Robert Marro, que pertence, assim como Jaka, à presidência do Adams, os debates públicos, como aquele a respeito do planejado centro islâmico nas imediações do Ground Zero, em Nova York, têm razões políticas. "Assim fica fácil angariar apoio", diz ele. O fato de um exemplar do alcorão ter sido queimado por um pastor na Flórida é visto por Marro também como uma ação publicitária.

Muslime in den USA
Centro Adams: religião e culturaFoto: DW

Segundo ele, a mídia é, em parte, responsável pelo clima de exaltação. Mesmo assim, ele se mantém otimista, ao acreditar que, a curto ou longo prazo, os muçulmanos norte-americanos vão se integrar à sociedade, da mesma forma que aconteceu com católicos, italianos ou irlandeses no século passado.

Marro lembra quando John F. Kennedy assumiu, como primeiro católico na história, a presidência dos EUA. Na época, discutiu-se se ele priorizaria sua lealdade ao Papa ou ao país. De qualquer forma, vai demorar ainda bastante até que, nos EUA, não faça mais diferença ser católico ou muçulmano.

Samira Hussein, por exemplo, não quer ser fotografada ao lado de seu carro. Nascida na Palestina, ela vive em Gaithersburg, no estado de Maryland, ao norte de Washington. E já acumulou experiências negativas. Tudo começou com a primeira Guerra do Golfo. "No início, danificaram nossos carros, furaram os pneus, destruíram as portas das nossas casas, atiraram lixo e pássaros mortos na gente, arrancaram nossas plantas", conta.

Seus filhos eram espancados todos os dias na escola e perseguidos no caminho até lá. Os atentados terroristas do 11 de Setembro trouxeram ainda mais problemas, recorda Hussein, que passou, de súbito, a ser discriminada também em seu trabalho como assistente social.

Informar e prestar serviços de utilidade pública

Samira Hussein reagiu à situação com uma participação mais intensa na sociedade norte-americana: como representante de pais na escola dos filhos e no bairro em que vive. Ela explicou aos alunos por que usa o lenço muçulmano. Sua arma, diz, é a formação educacional: "Quero informar as pessoas e o melhor é começar pelas crianças", acredita.

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Apesar da discriminação, Samira Hussein se empenha pela comunidade em que viveFoto: DW

Se as crianças entenderem sua cultura e sua religião, certamente seus pais mudarão suas posições, diz. Hoje, Samira Hussein acredita que seu trabalho já rendeu frutos. Em 2002, ela foi condecorada em seu bairro por seu empenho contra a intolerância. Seu nome está gravado sob uma estátua de bronze no saguão de entrada da sala de reuniões do centro administrativo da cidade.

Tufail Ahmad também defende um engajamento maior dos muçulmanos na sociedade, a fim de incentivar sua integração. "Os hindus e paquistaneses levam a fama de viverem em casas enormes, sem ligar para os mais pobres", diz ele. Ahmad nasceu na Índia, morou no Paquistão e emigrou em 1973 para os EUA. Como membro mais velho da comunidade onde vive, resolveu, no próprio dia 11 de setembro de 2011, a se tornar mais ativo onde vive. A princípio, organizou algumas rodadas de debates e, mais tarde, grupos de ajuda a necessitados.

Melhor que em outras partes do país

Desde 2001, os muçulmanos arrecadam alimentos em Montgomery County. O próprio Ahmad não se envergonha de ficar em frente ao supermercado para pedir doações. Milhares de quilos de alimentos são recolhidos todo ano. Eles chegaram até mesmo a abater vacas para distribuir a carne entre os necessitados.

Muslime in den USA
Prática de esportes na quarta e orações na sextaFoto: DW

Ahmad reflete: "As minorias aqui na região já se tornaram maioria, mas você notou que toda a ajuda filantrópica aqui no bairro é prestada pelos brancos?", questiona. Ahmad tenta mudar a situação, mesmo que a discriminação aos muçulmanos em Montgomery County nem seja tão acentuada, como explica Waled Hafiz, um sírio que, depois de morar 20 anos na Alemanha, passou, 10 anos atrás, a viver nos EUA.

Hafiz é membro da Fundação Muçulmana de Montgomery County, a organização dos muçulmanos na cidade, que conta com a ajuda de 300 a 400 pessoas em suas ações. "Nesta região as pessoas são melhor informadas. Se você vai para o Texas ou para Virginia Ocidental, vai ver que as pessoas dali ainda não sabem onde ficam Síria ou Jordânia, e nem quem foi responsável pelo 11 de Setembro", diz Hafiz.

Guled Kassim emigrou da Somália para Montgomery County aos dez anos de idade, em 1985, e acaba de se tornar presidente da Fundação Muçulmana. Ele, que prestou serviço militar nas Forças Armadas norte-americanas, reage ao ser questionado se vê a si próprio, em primeira linha, como muçulmano ou como norte-americano. "Essa pergunta você não faria a um cristão, é uma pegada. Sou as duas coisas", diz ele. Kassim e sua geração não têm problemas em dizer que são americanos e muçulmanos ou muçulmanos e americanos. "O que vem primeiro não importa", conclui.

Autora: Christina Bergmann (sv)

Revisão: Roselaine Wandscheer