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Morre o ícone francês Charles Aznavour

1 de outubro de 2018

Ator e cantor de origem armênia morre aos 94 anos. Ele escreveu cerca de 1.300 canções e atuou em mais de 60 filmes, vendendo 180 milhões de discos em todo o mundo.

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Charles Aznavour em foto de 1970
Aznavour em 1970: ele se considerava "mais um ator que canta do que um cantor que atua"Foto: picture-alliance/dpa

O cantor, compositor e ator francês Charles Aznavour morreu aos 94 anos em sua casa em Alpilles, no sul da França, comunicou nesta segunda-feira (01/10) um porta-voz do artista. Ele acabara de retornar de um show no Japão no mês passado.

Filho de imigrantes armênios, Aznavour nasceu em Paris no dia 22 de maio de 1924 com o nome de Shahnour Varinag Aznavourian.

O fato de ele ter nascido em Paris foi um mero acaso. Na capital francesa, seus pais esperavam em vão por um visto de entrada para os Estados Unidos, depois de escaparem do colapso do Império Otomano com o fim da Primeira Guerra Mundial. Eles acabariam abrindo o restaurante La Caucase (O Cáucaso), onde Aznavour e sua irmã cantavam e dançavam quando ainda eram muito jovens.

Durante a ocupação alemã, a família abrigou judeus e armênios que fugiam dos nazistas, incluindo o líder da resistência Missak Manouchian, que acabaria sendo capturado e decapitado. A mulher dele, Melinee, só escapou graças à família Anznavourian, que mais tarde receberia homenagens em Israel por sua bravura.

Aznavour se tornou conhecido ao abrir os shows da diva francesa Edith Piaf. Ela o levou para os Estados Unidos como gerente e compositor, enquanto ele desenvolvia sua voz, "cantando até a garganta inflamar", segundo afirmou certa vez. "Mas valeu a pena. Minha voz se desenvolveu de um décimo de uma oitava para um alcance de até três oitavas", afirmou.

Ele viveu com Piaf durante oito anos, mas dizia que nunca se tornou um de seus vários amantes. "Ela não era o meu tipo", explicou. Sua carreira solo teve um começo conturbado. "Diziam que eu era feio e baixinho, e que aos doentes não deveria ser permitido cantar."

Considerado o Frank Sinatra francês, o cantor e compositor vendeu mais de 180 milhões de discos em 80 países. Porém, ao contrário do ícone americano, ele escrevia suas próprias canções.

A primeira vez em que chegou ao todo das paradas foi em 1956 com a canção Sur ma vie, seguida por um de seus maiores sucessos, Je M'voyais Deja. Impulsionado pelo sucesso nas telas de cinema, ele teve grande êxito no famoso Carnegie Hall em Nova York, em 1963.

Suas canções foram gravadas por artistas como Ray Charles, Liza Minnelli e Fred Astaire. Ele cantou lado a lado com nomes como Frank Sinatra, Elton John, Sting e Celine Dion.

As letras de suas canções falavam de temas considerados tabus, como sexo, depressão, casamento, além de tratar das emoções masculinas e da homossexualidade, como na canção What makes a man, que falava sobre um travesti.

Ainda ativo, fazendo shows em arenas lotadas até depois dos 90 anos, ele continuava a desafiar os limites, como na canção que celebrava seus 50 anos de casamento, onde elogiava o cheiro das axilas de sua esposa. "É um tipo de doença que tenho, falar de coisas sobre as quais não se deve falar", afirmou. "Comecei com a homossexualidade e quero quebrar todos os tabus."

A mesma postura desafiadora fez com que se tornasse um militante em prol do reconhecimento como genocídio do massacre de armênios pelos turcos otomanos durante a Primeira Guerra Mundial. Ele chegou a ser o embaixador armênio na Suíça e delegado permanente do país na ONU.

Com talento para atuar, Aznavour transformava suas canções durante as apresentações em pequenas peças de um só ato.

O papel principal no filme Atirem no pianista, de François Truffaut, de 1960, impulsionou sua fama fora da França. Ele atuou no filme premiado com o Oscar O tambor, adaptação do livro de mesmo nome do autor alemão Günter Grass, no papel de um simpático comerciante de brinquedos judeu.

Ele se considerava "mais um ator que canta do que um cantor que atua". O fato de estrelar em mais de 60 filmes não o impediu de compor mais de 1.300 canções.

Pai de seis filhos, Aznavour se casou três vezes. "Na primeira eu era muito jovem; na segunda, muito estúpido; e na terceira vez casei com uma mulher de uma cultura diferente e aprendi a tolerância", afirmou.

O presidente da França, Emmanuel Macron lamentou a morte do artista e disse que ele tinha um brilho único. "Orgulhosamente francês, visceralmente ligado às suas raízes armênias, conhecido no mundo todo. Charles Aznavour acompanhou as dores e alegrias de três gerações."

RC/afp/rtr

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