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"Mister Euro" quer agora a presidência da Comissão Europeia

Christoph Hasselbach (rc)23 de maio de 2014

Poucos conhecem a política europeia tão bem como o luxemburguês Jean-Claude Juncker, dos democrata-cristãos. Ele traz consigo experiência e moderação, mas é pouco conhecido por grande parte da população.

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Foto: Peter Muhly/AFP/Getty Images

Poucos conhecem tão bem a política europeia como Jean-Claude Juncker, o candidato dos democrata-cristãos à presidência da Comissão Europeia. Por quase 20 anos, ele foi o primeiro-ministro de Luxemburgo, participando de inúmeras reuniões do Conselho Europeu, que reúne os líderes dos países-membros.

Além disso, Juncker presidiu por oito anos o Eurogrupo – o órgão que coordena a política econômica da UE – numa época em que a moeda única do continente, assim como a União Europeia, enfrentava sua pior crise.

Desde então, o luxemburguês ficou conhecido como Mister Euro. Sem modéstia, ele afirma que "o euro e a União Europeia estavam em perigo. Dentro das minhas limitações, fiz todo o possível para prevenir uma catástrofe".

A crise imediata pode ter terminado, mas suas consequências ainda permanecem. Na opinião de Juncker, o desemprego, principalmente entre os jovens, é o fardo mais pesado para o continente. Para a Europa, explica, "a missão mais importante é dar perspectivas e esperanças aos jovens desempregados, que correm o risco de se tornar uma geração perdida".

Um conservador com ideias socialistas?.

Para o democrata-cristão, as políticas sociais são de grande importância. Ele condena os especuladores e os ganhos excessivos dos executivos e quer assegurar os direitos dos trabalhadores mais simples.

Entrevista com Jean-Claude Juncker

Mas não seriam estas atitudes típicas dos socialistas? Afinal, foram os governos conservadores e democrata-cristãos da Europa que impuseram as dolorosas trajetórias de consolidação orçamentária – entre eles o de Jean-Claude Juncker. E se ele não tivesse apoiado as políticas de austeridade, jamais seria o candidato do Partido do Povo Europeu (PPE) à presidência da Comissão Europeia – a chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, teria bloqueado sua candidatura.

Mas quais são as posições políticas do próprio Juncker? Pia Oppel, editora da rádio estatal luxemburguesa 100.7, afirma que é difícil defini-lo politicamente. Ela diz que, numa única resposta, Juncker é capaz de se pronunciar tanto a favor como contra e ainda ficar no meio. Ele costuma florear suas respostas com uma eloquência mordaz, tanto em francês como em alemão ou inglês.

Angela Merkel und Jean-Claude Juncker
Juncker ao lado de Merkel, na época das reuniões para salvar o euroFoto: dapd

Menor interferência de Bruxelas

Os críticos de Juncker entendem que essa indefinição de conteúdo é seu ponto fraco. Seu principal concorrente, o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, dos socialistas, tem posições claramente de esquerda. Mas quem almeja presidir a Comissão Europeia deve saber falar a todos.

Juncker parece ter assimilado isso, especialmente desde a crise. "Devemos evitar a criação de novas muralhas, novas linhas divisórias na Europa. Sou alérgico à divisão entre norte e sul, entre grandes e pequenos, fortes e fracos. Quero construir pontes, unir, criar consensos na Europa", afirma o candidato.

Juncker aprendeu ainda uma outra lição. Os cidadãos estão fartos das regulamentações de Bruxelas nos lugares errados, como a proibição das lâmpadas incandescentes. "Muita Europa nos detalhes mata a Europa dos grandes temas", diz.

Ele considera um equívoco o sonho de muitos europeus de um super-Estado no continente, afirma Oppelt. "Ele é completamente contra uma integração da UE a ponto de causar o desaparecimento dos Estados nacionais", diz. Ao contrário da comissária de Justiça, a também luxemburguesa Viviane Reding, que fala sempre em "Estados Unidos da Europa", Juncker representa o status-quo, afirma Oppelt.

Europawahlkampf Debatte Jean-Claude Juncker
Candidato demonstrou desânimo em alguns debatesFoto: DW/B. Riegert

Cansaço e desânimo nos debates

Não há dúvidas que Juncker possui muitas das qualidades necessárias a um presidente da Comissão Europeia. É experiente, poliglota e passível de ser aceito por vários governos nacionais. Mas ele também tem algumas fraquezas bem claras. Nos debates eleitorais, aparentava desânimo e cansaço. E ele são é conhecido dentro dos círculos europeus, não de grande parte da população do bloco.

Além disso, o luxemburguês é visto – e de maneira correta – como parte do sistema de Bruxelas, um sistema que é alvo de campanhas agressivas por parte de muitos partidos extremistas e antieuropeus no continente.

O comissário de mercado interno da União Europeia, Michel Barnier, adversário de Juncker durante a campanha interna do PPE para a candidatura à Comissão Europeia, já alertava que a luta contra os socialistas e Martin Schulz não será fácil. Mais difícil, porém, seria a luta contra o populismo, de direita e de esquerda.

E Juncker, assim como todos os outros candidatos, tem ainda um outro problema. Mesmo que seu partido se consagre após as eleições como a maior força dentro do Parlamento, isso ainda não significa que ele será de fato presidente da Comissão. É verdade que os chefes de Estado e de governo precisam levar em conta os resultados das eleições ao apontar o novo presidente, mas eles podem optar por outro nome.

O veterano político luxemburguês já alertou que, se isso acontecer, a democracia europeia entrará em crise porque os eleitores vão se sentir traídos. Mas é claro que ele também está pensando na própria carreira.