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Miragens arquitetônicas

Simone de Mello10 de maio de 2003

Com a exposição "Construção de um novo mundo — Visões arquitetônicas do expressionismo", o Museu Paula Modersohn-Becker, de Bremen, apresenta uma retrospectiva dos projetos utópicos do período entreguerras.

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Einsteinturm em Potsdam, projeto de Erich MendelsohnFoto: AIP

"A minha prancheta aqui no escritório continua vazia. Todo dia o mesmo nada. Flutuo no ar como um 'arquiteto imaginário'", escreve Bruno Taut, em 1919, referindo-se à recessão que estagnou toda a atividade de construção após a Primeira Guerra Mundial. O efeito da crise política e econômica da Alemanha sobre a geração de arquitetos do período entreguerras não foi paralisante, no entanto. Muito pelo contrário: livres das amarras do funcionalismo e do racionalismo, eles puderam se dar ao luxo de esboçar visões arquitetônicas, independentemente da probabilidade de os projetos serem construídos ou não.

Com mais de 120 desenhos, pinturas, maquetes e documentos, o Museu Paula Modersohn-Becker, de Bremen, mostra até 8 de junho um panorama das utopias arquitetônicas do expressionismo, reunindo obras de Erich Mendelsohn e Hans Scharoun, Peter Behrens e Hans Poelzig, Mies van der Rohe e Walter Gropius, Bruno e Max Taut, Wassili e Hans Luckhardt. Entre os documentos expostos, encontram-se marcos da arquitetura de vanguarda, como a maquete do Einsteinturm, observatório projetado por Erich Mendelsohn em Potsdam, ou o esboço de Mies van der Hohe para um edifício de vidro na Friedrichstrasse, em Berlim, além de obras até então nunca expostas, como uma série de desenhos de Hans Poelzig, em que o pensar arquitetônico não se deixa desvincular do gesto pictórico.

A arte de esboçar

A exposição de Bremen destaca o esboço como mídia fundamental da arquitetura expressionista. Com seu caráter espontâneo e provisório, o desenho capta a "caligrafia" individual e expressiva do arquiteto e o dinamismo de uma visão arquitetônica ainda não materializada. O esboço arquitetônico, como gênero já estabelecido, rompe os limites do factível. A folha de papel é vista como um terreno onde as chances de realização não importam. Não o real, mas sim o provável é o que conta.

Einsteinturm nach einer Skizze des Architekten Mendelsohn
Esboço de Mendelsohn para seu projetoFoto: AIP

Apesar de inúmeros projetos terem ficado no papel, não foram poucas as visões arquitetônicas que chegaram a se concretizar. Extrapolando o dinamismo dos espaços criados pelo Jugendstil (Art Nouveau), a arquitetura expressionista rompeu de forma mais radical a estática do edifício, explorando a complexidade da iluminação e a maleabilidade dos materiais — seja através de formas cristalinas, como o pavilhão de vidro projetado por Bruno Taut para a Exposição do Werkbund de Colônia, ou através do teor escultural, visível no Einsteinturm de Mendelsohn. O próprio edifício do Museu Paula Modersohn-Becker, em Bremen, projetado em 1926 por Bernhard Hoetger, é um exemplo da arquitetura expressionista de caráter mais ornamental.

Da "Corrente de Vidro" à Bauhaus

Em 1919, os arquitetos expressionistas se agrupam em instituições como a Bauhaus de Weimar ou o círculo de correspondência Gläserne Kette (Corrente de Vidro). Acompanhando o intercâmbio das vanguardas, Bruno Taut inicia esta correspondência estética com 14 outros artistas, entre os quais Hermann Finsterlin, Hans Scharoun, Walter Gropius.

Sob a aura de uma maçonaria artística, caracterizada pelo uso de pseudônimos e compromisso de sigilo, a correspondência do grupo revela a variedade de posições e as controvérsias da arquitetura de vanguarda da década de 20 — entre socialismo e nazismo, apologia da natureza e fascínio pela técnica. Partes das cartas do grupo foram publicadas na revista Frühlicht, editada por Bruno Taut.

No último número da revista, editado em 1922, já se articula nitidamente a virada que culminaria na dissolução da utopias expressionistas. O diagnóstico é de que a arquitetura tenderia a se prender cada vez mais ao material, distanciar-se da projeção de ambientes impressionistas, para criar espaços puros através da simplicidade da iluminação, das cores e das formas. Com isso, estava anunciada entre os arquitetos expressionistas a hegemonia da Bauhaus.