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"Migração não deve ser punida com morte"

Peter Hille (av)7 de agosto de 2015

Mais uma vez, barcos com corpos de refugiados aportaram em Palermo. Em entrevista à DW, o prefeito da cidade italiana, Leoluca Orlando, defende direitos humanos e acusa a União Europeia de genocídio.

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Foto: Reuters/G. Mangiapane

Após um trágico naufrágio na costa da Líbia nesta semana, mais uma vez embarcações trazendo refugiados mortos do Norte da África aportaram na ilha italiana da Sicília nesta quinta-feira (06/08).

Em entrevista à DW, o prefeito de Palermo, Leoluca Orlando, faz graves acusações à União Europeia (UE) por seu papel na catástrofe humanitária no Mediterrâneo. "É uma grande vergonha a UE não entender que migração não deve ser punida com a morte", afirma.

Com várias interrupções, Orlando ocupa o cargo de prefeito da capital da região autônoma da Sicília desde 1985. Figura legendária por ter praticamente livrado a cidade da máfia, o político e advogado é também conselheiro comunal.

DW: Quantos cadáveres de refugiados o senhor teve que receber no porto de Palermo nesta quinta-feira?

Leoluca Orlando: Tivemos que preparar caixões para 25 mortos. Entre eles estavam três crianças, que não tinham mais de quatro anos de idade. É uma tragédia. Não, isso é mais que uma tragédia, é genocídio.

Leoluca Orlando
Prefeito Leoluca Orlando combateu a máfia em PalermoFoto: Getty Images/AFP/M. Paternostro

Genocídio é uma palavra bastante forte. Então, em sua opinião, a Europa está assassinando sírios, eritreus e afegãos em massa?

Se visse o que está acontecendo em Palermo, toda a Europa teria que estar envergonhada. Os refugiados vêm de todos os países possíveis, também de Bangladesh. Eles enfrentaram uma longa viagem, primeiro até a Líbia, para, então, chegar à Europa pelo mar.

A Europa precisa assumir responsabilidade pelo genocídio desses seres humanos. A União Europeia viola os princípios sobre os quais foi construída. É uma grande vergonha ela não entender que migração não deve ser punida com a morte.

No início deste ano, aprovamos no conselho comunal a Carta de Palermo 2015. Para nós, mobilidade é um direito humano. Somos a favor da abolição dos vistos de permanência. Todo italiano, britânico ou alemão pode viajar para Bangladesh. Para um refugiado de Bangladesh, porém, as leis de imigração europeias podem significar uma pena de morte.

O que vai acontecer com os sobreviventes que chegaram à sua cidade?

Em nossos portos, vigora a solidariedade humana. Aqui há organizações humanitárias que cuidam dos sobreviventes. Hoje saudamos quase 300 deles. Os familiares dos mortos vão certamente permanecer aqui, de início, para poder prantear seus entes queridos. Outros vão seguir viagem para o norte.

Palermo não está sobrecarregada com a chegada de tantas embarcações?

Sim, os abrigos estão lotados. Mas mesmo assim estamos sempre prontos a dar boas-vindas a essas pessoas. Aqui não temos barracas para migrantes. Depois do trauma pelo qual passaram, eles precisam de moradias sólidas. Isso é um direito humano, pelo menos aqui em Palermo, na Sicília.

Hoje as câmeras estiveram na sua cidade. Amanhã a Europa já vai ter esquecido o que ocorre no sul do continente?

Não podemos aceitar essa lógica da mídia. Nesta quinta-feira, 25 corpos foram trazidos para Palermo e viraram notícia. Mas todo mês há centenas de mortos sobre os quais ninguém fala.

O que o senhor exige de Bruxelas?

Bruxelas tem que simplesmente lembrar que uma União Europeia sem direitos humanos não faz mais nenhum sentido.