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Merkel fala com Putin sobre assassinato de jornalista russa

(gh)10 de outubro de 2006

Putin enfrenta protestos na Alemanha e classifica de "insignificante" repórter morta quando investigava tortura na Chechênia. Tensão entre Rússia e Geórgia também é abordada em encontro em Dresden.

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Putin e Merkel: opiniões divergentes sobre liberdade de imprensaFoto: picture-alliance/dpa

O presidente russo Vladimir Putin iniciou nesta terça-feira (10/10) uma visita oficial de dois dias à Alemanha, trazendo involuntariamente na bagagem assuntos que lhe são incômodos, como a situação da liberdade de imprensa na Rússia e os conflitos de Moscou com a Chechênia e a Geórgia. Em Dresden, manifestantes o chamaram de "assassino".

Oficialmente, Putin veio participar do chamado Diálogo de Petersburgo, iniciado por seu amigo, o ex-chanceler federal alemão Gerhard Schröder, em 2001. Neste ano, o encontro ressalta o significado das relações teuto-russas às vésperas de a Alemanha assumir a presidência rotativa da UE, no primeiro semestre de 2007. Putin pediu o apoio alemão à idéia de formar uma zona de livre comércio entre UE e Rússia.

Como os russos, no ano que vem, passam a presidência do G-8 à Alemanha, temas como o polêmico programa nuclear do Irã e os testes atômicos da Coréia do Norte também estão em pauta. Mas acontecimentos ocorridos nos últimos dias na Rússia dominam os debates.

Assassinato de jornalista

Getötete Journalistin Anna Politkovskaya
Anna Politkovskaya foi morta a tiros em MoscouFoto: AP

O porta-voz da Chancelaria Federal alemã, Ulrich Wilhelm, disse que Angela Merkel abordaria com Putin o assassinato da jornalista Anna Politkovskaya, ocorrido em Moscou no último sábado (08/10), data do 54º aniversário do presidente russo. Ela foi sepultada nesta terça-feira.

O jornal Novaya Gazeta, no qual Politkovskaya trabalhava desde 1999, informou que a jornalista preparava uma reportagem sobre as torturas sistemáticas na Chechênia. O jornal pretende fazer investigações próprias para esclarecer o caso.

Em entrevista coletiva em Dresden, Putin disse que Politkovskaya era uma "crítica mordaz" da política do Kremlin em relação à Chechênia, mas que sua influência política no país era "insignificante". Ela era conhecida na área de direitos humanos na Rússia e no Ocidente, acrescentou.

Na mesma entrevista, a chanceler federal alemã Angela Merkel mostrou-se chocada com o assassinato. Ela disse que na Alemanha "é óbvio que a liberdade de imprensa faz parte do desenvolvimento democrático. O assassinato diz algo sobre a relação do país com a liberdade de imprensa". Putin disse que "tudo será feito para punir este crime cruel".

Imprensa amordaçada

Segundo a União dos Jornalistas da Rússia, desde o início de 2000, quando Vladimir Putin chegou ao poder, 12 casos de assassinatos de jornalistas não foram esclarecidos. Politkovskaya, que recebeu um tiro no peito e outro na cabeça, é mais uma na lista dos mais de 300 jornalistas mortos ou desaparecidos na Rússia desde 1991.

Nascida em Nova York em 1958, Politkovskaya disse em várias ocasiões que havia recebido ameaças de morte por parte do serviço secreto russo, do Exército e de outras agências de segurança do Estado. Seu assassinato foi condenado por todas as forças políticas russas e por organizações internacionais, inclusive pelo Conselho da Europa, do qual a Rússia é país-membro.

Situação dos direitos humanos piora

A ex-ministra alemã da Justiça Sabine Leutheusser-Schnarrenberger (do Partido Liberal), pediu uma "investigação objetiva" do assassinato. Em entrevista ao jornal Süddeutsche Zeitung, ela disse que "praticamente não existe mais liberdade de imprensa na Rússia. Todos os jornalistas que são críticos e abordam assuntos incômodos estão em grande perigo".

Leutheusser-Schnarrenberger acrescentou que o respeito aos direitos humanos também piorou muito no país nos últimos anos. "Por um lado, através de leis que, por exemplo, restringiram drasticamente a atuação de organizações não-governamentais. E a Justiça está longe de ser independente".

O encarregado do governo alemão para direitos humanos, Günter Nooke, disse que "este assassinato político é só a ponta do iceberg. Ele torna evidente que a liberdade de imprensa e de opinião está em perigo na Rússia". Diante da reação internacional ao assassinato, Putin encarregou o procurador-geral, Yuri Chaika, de assumir pessoalmente a investigação.

Tensão entre Rússia e Geórgia

Montage: Der russische Präsident Wladimir Putin bläst die Backen, der georgische Präsident Saakaschwili mit Drohgebärde im Hintergrund
Putin baixou represálias à Geórgia do presidente Mijail SaakashviliFoto: picture-alliance / dpa/Grafik/DW

Merkel pretendia aproveitar o encontro com Putin também para se "informar" sobre a situação do conflito diplomático desencadeado entre a Rússia e a Geórgia, após a detenção de quatro militares russos acusados de espionagem, no final de setembro passado.

Moscou reagiu com fortes represálias, como o fechamento da fronteira, a interrupção das comunicações com a Geórgia e a expulsão de georgianos "ilegais" residentes em território russo. No último domingo, Belarus adiou a cúpula da Comunidade dos Estados Independentes (CEI), prevista para 17 e 18 de outubro, por causa das tensões entre os dois países.

A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) ofereceu um "diálogo intensificado" à Geórgia, um passo importante rumo a uma eventual futura integração, que, segundo Moscou, terá um impacto negativo sobre a frágil situação no Cáucaso, uma região de tradicional influência russa.

Protestos e acordo em Dresden

Quando Putin desembarcou no centro histórico de Dresden, nesta terça-feira, teve de ouvir gritos de "assassino, assassino". Um manifestante mostrou um cartaz que dizia: "Assassino, tu não és bem-vindo".

No centro de convenções da cidade, onde Putin e Merkel participaram do Diálogo de Petersburgo à tarde, cerca de 30 manifestantes da Sociedade para os Povos Ameaçados protestaram contra o presidente russo por causa de sua política em relação à Chechênia. Houve cartazes também contra o contrato de patrocínio da Gasprom com o Schalke, clube da Bundesliga.

Junto com a chefe do governo alemão, Putin visitou a chamada Abóbada Verde, no castelo de Dresden. Depois, inaugurou um monumento ao poeta russo Fiodor Dostoievski na cidade, na qual atuou de 1985 a 1990 como agente da KGB (serviço secreto soviético).

Os governos alemão e russo assinaram um acordo de cooperação na área de gás natural. "Com o gasoduto do Mar do Norte, a Alemanha recebe gás adicional nos próximos 50 anos e assume a posição de maior distribuidor do produto na Europa", disse Putin.