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Merkel e Cameron pouco avançam no impasse sobre o orçamento europeu

8 de novembro de 2012

Jantar entre líderes do Reino Unido e da Alemanha não ajuda a trazer clareza no conflito sobre o orçamento da União Europeia. Britânicos querem "Europa de 20 anos atrás", analisa especialista.

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Foto: Reuters

Eram sombrias as circunstâncias envolvendo o jantar entre os chefes de governo do Reino Unido, David Cameron, e da Alemanha, Angela Merkel, na noite desta quarta-feira (07/11) na Downing Street, em Londres, após Cameron ameaçar vetar o orçamento europeu se Bruxelas não se mostrar disposta a economizar.

Pouco antes, o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, anunciara que a economia da zona do euro permaneceria debilitada e que até mesmo a economia alemã está regredindo significativamente.

Com Cameron e Merkel apresentando posições enrijecidas e nenhuma perspectiva de declarações oficiais, era difícil ver como o encontro na sede do governo britânico poderia ajudar a resolver o conflito orçamentário.

O jornalista Carsten Volkery, correspondente do site Spiegel Online no Reino Unido, disse à Deutsche Welle que a prometida "ofensiva de simpativa" de Merkel "se desfez numa nuvem de fumaça" e que pouca alteração houve no posicionamento original dos dois líderes.

"Mas isso nunca iria acontecer, de qualquer modo. Esses encontros bilaterais pré-cúpula [o encontro de líderes da União Europeia está marcado para 22 e 23 de novembro] são bons para entender o trabalho que precisa acontecer na conferência, para ver onde há espaço para concessões e como a coisa pode funcionar quando chegar o encontro oficial", comentou Volkery.

"Conversa séria"

Diante das atuais acusações de que não consegue controlar seu partido, Cameron talvez tenha sentido que devia prometer uma "conversa séria" durante a reunião, numa tentativa para aplacar a maioria eurocética do Partido Conservador.

Merkel, por sua vez, prometeu apostar na "simpatia", ansiosa como está por manter todos do seu lado, até mesmo os britânicos, à medida que se aproximam as negociações sobre o orçamento da União Europeia.

Talvez ela pudesse se dar ao luxo de ser simpática, sabendo, como sabe, que, de fato, o premiê britânico se encontra numa situação de "perder ou perder", como definiu Volkery. Ele pode ter prometido dureza, mas está em minoria dentro da Europa e, em seu próprio país, vem perdendo popularidade em certos meios.

Volkery comenta: "Acho que o que o Reino Unido quer é retornar à União Europeia de 20 anos atrás e mantê-la nesse estado, na conhecida abordagem de 'só escolher os melhores pedaços para si', para que o país tenha acesso ao mercado livre e possa implementar certas leis europeias, mas não outras".

Porém, no mundo de hoje, isso não é possível, e Cameron sabe disso. Ele fala em ser mais como a Noruega ou a Suíça (não pertencentes, mas associadas à União Europeia), mas no fundo sabe que esses países carecem do poder de decidir sobre leis que depois serão obrigados a adotar para ter acesso ao livre mercado. Retirando-se da União Europeia, o Reino Unido perderia poder e ficaria mais isolado.

Orçamento da UE: "risível"

Antes do jantar, Cameron já tachara como "completamente risível" a decisão da União Europeia de elevar seu orçamento de sete anos, contados a partir de 2014. Ele prometeu lutar pelos contribuintes britânicos e de toda a Europa, forçando a redução do orçamento ou, "no pior dos casos", seu congelamento. O primeiro-ministro sugeriu que a União Europeia corte seus próprios gastos administrativos, em vez de esperar que os cortes sejam efetuados apenas pelos países-membros.

"Cortamos o salário dos ministros, congelamos o dinheiro para o Parlamento, reduzimos o volume do funcionalismo público, massacramos o número das quangos [organizações quase não governamentais, na abreviatura em inglês], enxugamos os orçamentos centrais em bilhões. Não estamos fazendo isso na Grã-Bretanha para ver a União Europeia não fazer nada parecido", protestou Cameron.

"De fato, Merkel concorda com a maior parte dessa análise", diz Volkery, "mas ela é também realista, e tem consciência que as coisas mudaram desde 2010, a crise do euro se agravou e há mais gente exigindo dinheiro, é simplesmente impossível manter os mesmos níveis de 2010."

Crescimento alemão

Naturalmente, Merkel também está interessada em defender seus próprios interesses nacionais, mas, como declarou à imprensa na noite desta quarta-feira, considera que ultimatos pouco contribuem, neste momento.

"Se se quer aproximar os interesses dos 27 Estados-membros da UE, geramente não ajuda começar com ultimatos", observou, quando indagada sobre as ameaças veladas do comissário europeu do Orçamento, Janusz Lewandovski.

Fabrizio Fiorilli, porta-voz do político polonês, disse à DW que "o fio de esperança é que todo o mundo se dê conta de que, se não sair nenhum orçamento, todos nós seremos prejudicados". Entretanto, apesar de tais pronunciamentos, muita gente na União Europeia parece estar irritada com a atitude de Londres, e aguarda de perto qualquer sinal de que esta venha a se alterar.

O presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, deixou claro que espera que os britânicos decidam se estão a favor ou contra a Europa, ao dizer: "As portas da União Europeia estão abertas para o Reino Unido, mas cabe ao país a decisão de atravessá-las".

Zona do euro x Europa

Agora, todos os olhos estão pregados na conferência de cúpula da União Europeia, a se iniciar em 22 de novembro, na qual a prioridade dos governantes europeus será chegar a um consenso quanto ao orçamento do bloco.

Para o jornalista Carsten Volkery, há dois cenários possíveis nessas negociações: ou "o Reino Unido decide vetar novamente – e o segundo veto em um ano seria uma mensagem bem forte – ou se dá conta de que tem que fazer concessões para poder permanecer na União Europeia".

Quais dessas duas alternativas será posta em prática, somente Cameron e assessores sabem. Mas os alemães esperam que o tranquilo jantar londrino tenha auxiliado, e não agravado, a situação.

Os alemães "teriam pena" de ver o Reino Unido sair, afirma Volkery, mas no final das contas, "é preciso fazer uma análise de custo-benefício". E se o país seguir vetando e se recusando a votar, então não faz mesmo muito sentido que siga na União Europeia.

Autora: Emma Wallis (av)
Revisão: Alexandre Schossler