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Membros de ONG são presos na Amazônia

27 de novembro de 2019

Anistia Internacional manifesta preocupação com ação. Polícia Civil do Pará acusa grupo de brigadistas voluntários de provocar incêndio em área de proteção ambiental e desviar doações.

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A área atingida pelo incêndio fica no balneário Alter do Chão, um distrito de 6 mil habitantes de Santarém que é um dos principais destinos turísticos do ParáFoto: Imago/AGB Photo/R. Aguiar

A Polícia Civil do Pará prendeu nesta terça-feira (26/11) quatro membros de uma ONG formada por brigadistas voluntários. Eles foram acusados de provocar queimadas que destruíram em setembro parte de uma Área de Proteção Ambiental (APA) em Santarém.

Os quatro suspeitos presos são membros da Brigada Alter do Chão, uma ONG que começou a atuar no combate a incêndios na região em 2018. Além das prisões, a Polícia Civil cumpriu mandados de busca e apreensão na sede do Projeto Saúde e Alegria, uma ONG que já recebeu vários prêmios por sua atuação na Amazônia. Computadores e documentos do grupo foram vasculhados.

Em nota, a Polícia Civil do Pará informou que as investigações para apurar as causas do incêndio duraram dois meses, e escutas telefônicas apontaram para o envolvimento dos brigadistas no incêndio.

Mais tarde, foi a vez de o delegado José Humberto Melo Jr., afirmar ao jornal O Estado de S. Paulo que os investigadores possuem "farto material" sobre uma suposta atuação irregular de ONGs no Pará. Segundo ele, membros de três ONGs locais – Brigada Alter do Chão, Aquíferos Alter do Chão e Projeto Saúde e Alegria (PSA) – receberam repasses da ONG internacional WWF para combater incêndios na região. Só que, de acordo com o delegado, parte dos recursos teria sido desviada.

"Começamos a acompanhar toda a movimentação dos quatro suspeitos. Percebemos que a pessoa jurídica deles conseguiu um contrato com a WWF, venderam 40 imagens para a WWF para uso exclusivo por 70 mil reais, e a WWF conseguiu doações como do ator Leonardo DiCaprio no valor de 500 mil dólares para auxiliar as ONGs no combate às queimadas na Amazônia", disse Melo Jr à imprensa no mesmo dia.

No entanto, a WWF-Brasil informou, em nota, que, de fato, fez um repasse de 70 mil reais para a Brigada de Alter do Chão, mas que ele foi destinado para a compra de equipamentos para combate ao fogo, e que a ONG nunca comprou qualquer foto. A WWF ainda negou que tenha recebido alguma doação do ator americano. "Tais informações que estão circulando são inverídicas", diz o texto.

Ainda na coletiva de imprensa, o delegado Melo Jr. leu alguns dos diálogos que foram interceptados nas escutas telefônicas. Um deles, reproduzido pelo O Estado de S. Paulo, não sugere algum indício de  crime. O delegado também não detalhou qual teria o papel de cada um dos presos nos incêndios.

De acordo com Melo, os brigadistas estavam no local quando as primeiras chamas atingiram a APA. Ele citou como prova um vídeo que teria sido publicado pelos próprios voluntários no YouTube. "Eles publicaram uma imagem de um local onde estão só eles e o fogo está começando", disse Melo.

Depois da repercussão da operação da Polícia Civil, a Anistia Internacional manifestou preocupação. "Não há, até o momento, informações sobre as investigações ou os procedimentos adotados pelas autoridades contra os acusados que justifiquem a decisão pela prisão, apenas relatos de entrada na sede da organização Saúde e Alegria, onde funcionava a Brigada de Alter do Chão, e coleta de documentação, o que inspira preocupação na Anistia Internacional em relação à transparência das investigações", disse a organização, em nota.

Já a Brigada de Alter do Chão disse que ainda tenta entender o que motivou a prisão dos brigadistas.

"Estamos em choque com a prisão de pessoas que dedicam parte de suas vidas à proteção da comunidade, e certos de que qualquer que seja a denúncia ela será esclarecida e a inocência da Brigada e seus membros, devidamente reconhecida", disse a ONG, em nota.

"Os brigadistas desde o início têm contribuído com as investigações policiais. Inclusive já haviam sido ouvidos na Delegacia de Polícia Civil e colaborado de forma efetiva no inquérito após o incêndio de setembro que eles ajudaram a combater, deixando suas famílias e trabalhos em nome dessa causa a que se dedicam."

O Projeto Saúde e Alegria negou qualquer envolvimento da entidade com irregularidades. "O Projeto Saúde e Alegria foi surpreendido nesta manhã com a busca e apreensão de documentos pela Polícia Civil. Não existe no momento nenhum procedimento contra o Projeto Saúde e Alegria, mas apenas a apreensão de documentos institucionais no âmbito de um inquérito a respeito do qual ainda não temos acesso a nenhuma informação", disse a entidade.

O incêndio que atingiu a APA Alter do Chão começou no dia 14 de setembro, em uma área de difícil acesso. No dia seguinte, brigadistas começaram a atuar no combate ao fogo. A ação também contou com a participação dos bombeiros e das Forças Armadas.

A APA fica no balneário Alter do Chão, um distrito de 6 mil habitantes de Santarém e que é um dos principais destinos turísticos do Pará. Na segunda-feira, uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo apontou que o balneário está sob pressão do mercado imobiliário e de grileiros.

JPS/ots

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