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Hessen dissolve Assembléia

Luna Bolívar Manaut (rr)21 de novembro de 2008

Em Hessen, cinco partidos foram demais: a Assembléia Legislativa foi dissolvida e as eleições regionais serão antecipadas. DW-WORLD-DE falou com o politólogo Ulrich von Alemann sobre os rumos da democracia no país.

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Partidos pequenos roubam fatia dos grandes e embaralham o jogo políticoFoto: Fotomontage/AP Graphics/AP/DW

Esta foi até hoje a legislatura mais curta da história do estado de Hessen, durante a qual nem mesmo um governador definitivo chegou a ser nomeado. Após as eleições do último 5 de abril, constituiu-se a Assembléia Legislativa, na qual o partido A Esquerda obteve pela primeira vez uma representação. Mas ninguém somou votos suficientes para poder governar – nem um partido sozinho, nem uma das coalizões tradicionais.

Oito meses depois, a Assembléia foi dissolvida. Os social-democratas em torno da candidata Andrea Ypsilanti tentaram diversas vezes formar um governo de coalizão com os verdes, apostando na tolerância do partido A Esquerda. Mas a manobra supunha a quebra de uma promessa eleitoral e membros do próprio SPD acabaram oferecendo resistência.

Desde então, muito se discutiu na Alemanha sobre o futuro de um sistema partidário com cinco integrantes. DW-WORLD.DE falou com Ulrich von Alemann, cientista político, autor de diversos livros sobre política alemã e decano da Faculdade de Filosofia da Universidade Heinrich Heine de Düsseldorf.

DW-WORLD.DE: A maioria das democracias ocidentais tende ao bipartidarismo. A Alemanha, entretanto, está passando de um sistema de quatro a um sistema de cinco partidos. A que se deve esse fato?

Ulrich von Alemann: Na Alemanha, dois grandes blocos vêm dominando o sistema partidário desde o fim da Segunda Guerra Mundial: a União Democrata Cristã (CDU) e seu parceiro regional, a União Social Cristã (CSU), de um lado, e o Partido Social Democrata (SPD), de outro. Havia também aquele que se convencionou chamar um "meio partido", que era o Partido Liberal Democrata (FDP). Naquela época, se dizia que a Alemanha tinha um sistema de "dois partidos e meio". Com o FDP, tanto a CDU/CSU quanto o SPD podiam formar coalizões.

Este foi um período muito estável, mas que acabou nos anos 80, quando surgiu o Partido Verde. A partir daí, tudo se tornou um pouco mais difícil, embora o SPD pudesse formar coalizões tanto com verdes quanto com liberais. Nos anos 90, após a reunificação da Alemanha, surgiu um quinto partido que se chamava Partido do Socialismo Democrático (PDS) e hoje se chama A Esquerda.

Isso acabou complicando ainda mais, pois os grandes partidos não conseguem obter mais que 30% dos votos e já não basta formar uma aliança apenas com um pequeno partido para obter maioria. Foi essa situação que levou em 2005 à atual grande coalizão entre social-democratas e democrata-cristãos. A alternativa seria um governo de três partidos, o que atualmente não é possível, pois os três partidos pequenos com representação parlamentar – FDP, Partido Verde e A Esquerda – não estão em condições de coligar uns com os outros.

Mas por que esta proliferação de partidos? Na última eleição regional na Baviera, a CSU perdeu a maioria absoluta que lhe parecia garantida para a eternidade. Isso indica que os eleitores estão descontentes com os partidos tradicionais?

Sim, o sinal foi claro. Os grandes partidos estão perdendo eleitores fiéis, aqueles que votavam por tradição e que haviam herdado sua tendência política dos pais e avós. Hoje a tradição não tem mais tanta importância e o voto se tornou mais político. Isso beneficia os partidos pequenos, que têm programas muito mais concretos e perfis políticos mais agressivos. Os grandes partidos são como uma espécie de loja de departamentos, onde é preciso haver um pouco de tudo para todo mundo.

Deutschland Hessen Wahlen Andrea Ypsilanti SPD
Candidata social-democrata Andrea Ypsilanti: tentativas frustradas em HessenFoto: AP

Depois do que aconteceu em Hessen, qual seu prognóstico para as eleições parlamentares de 2009? A Alemanha sucumbirá ao caos?

Não, não creio. O sistema de cinco partidos continuará funcionando, mas estou convencido de que as possibilidades de coalizão e a disponibilidade em coligar aumentará. Em Hessen, os partidos haviam descartado categoricamente determinadas formações. Para as eleições antecipadas que acontecerão agora, os partidos já mudaram de postura, pois se deram conta de que precisam ser mais abertos para não se tornarem incapazes de governar.

Espero que haja tal mudança de postura também no nível nacional, ainda que nesse caso seja mais difícil. Atualmente, as diferenças quanto à política exterior, com A Esquerda exigindo que a Alemanha saia da Otan e se opondo ao envio de tropas alemãs ao exterior, torna impossível que esse partido forme uma coalizão com qualquer um dos grandes partidos. Mas chegará o momento de A Esquerda entrar no governo: ela já faz parte dele nos governos estaduais do leste do país e governa sem problemas com o SPD em Berlim.

Mas o próximo governo federal será eleito no ano que vem e não num futuro distante...

Enquanto não for possível formar um governo de três partidos no nível federal, sempre se poderá repetir a grande coalizão, que é relativamente bem-sucedida.

Muitos eleitores se queixam de que desapareceram as diferenças entre a CDU e o SPD, o que os leva a votar em terceiros. Mas se os grandes partidos se entendem melhor entre si que com os pequenos, não estão obliterando ainda mais seu próprio perfil?

O que os dois grandes partidos querem, em primeiro lugar, é governar, pois isso significa poder e influência. Mas se formarem mais uma vez uma grande coalizão, está claro que vão perder votos e minar sua base eleitoral. Eles estão diante de um dilema e terão que optar pelo mal menor.

O modo como se desenvolve o sistema partidário alemão é um enriquecimento político ou põe em perigo a estabilidade do país?

Creio que é um enriquecimento. No futuro, a maioria dos partidos estará disposta a formar coalizões entre si. Até há pouco tempo, era impensável que a CDU/CSU pudesse formar uma aliança com os verdes e hoje existe uma coalizão desse tipo em Hamburgo. Até há pouco tempo, também era impensável que o SPD formasse uma coalizão com A Esquerda nos estados da ex-Alemanha Ocidental e agora já se avalia essa possibilidade no âmbito regional.

O problema do SPD com A Esquerda está relacionado com o fato de que o partido simboliza uma cisão na social-democracia ou trata-se de uma questão puramente ideológica?

É uma mescla de fatores, uns políticos, como o problema da política exterior, outros ideológicos, como o fato de que lá continuam existindo pequenos grupos de orientação marxista, e também pessoais, como o fato de que Oskar Lafontaine, que deixou o SPD, ser agora um de seus líderes. Uma aliança com A Esquerda no âmbito federal só será possível quando Lafontaine, visto como um traidor da social-democracia, deixar o cargo.

Voltando a Hessen, a candidata Ypsilanti teve que se sacrificar para que coalizões entre SPD e A Esquerda se tornassem possíveis no futuro para além dos estados que pertenciam à antiga República Democrática Alemã (RDA)?

Não acho que tenha sido um sacrifício, mas antes um erro de Ypsilanti. Sua estratégia era equivocada: antes das eleições, prometeu que não formaria uma coalizão com A Esquerda. Depois, quebrou sua promessa e potenciou seu erro ao tentar formar um governo por duas vezes, não conseguindo em nenhuma delas. Na minha opinião, o que aconteceu em Hessen será mais um prejuízo que uma ajuda para uma futura abertura das possibilidades de coalizão.