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Mídia européia avalia legado de João Paulo II

(mas)4 de abril de 2005

Veja como alguns dos principais jornais europeus comentaram o pontificado do "papa da globalização".

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Foto: dpa

Die Welt (Alemanha): "Foi-se o papa do século. O pregador de uma civizilação do amor. Um homem de diálogo que adotou como meta elevar o relacionamento com o Judaismo a outro nível – admitindo os pecados de sua Igreja. Uma tarefa muito exigente para uma só pessoa em um pontificado. Os alemães compartilham uma lembrança especial deste papado.

Sua frase 'Não temeis!', após sua eleição em outubro de 1978, ajudou a derrubar o sistema comunista. Ele era, na verdade, um demolidor de muros. (…) Nem todos, nem mesmo os de sua Igreja, aceitavam suas idéias sem ressalvas. Karol Wojtyla – o homem das contradições: para os de fora um defensor dos direitos humanos, para si mesmo um defensor incondicional daquilo que achava ser a verdade."

Berliner Zeitung (Alemanha): "João Paulo II era tudo menos um partidário do capitalismo. (...) O capitalismo não seria desejável para a satisfação moral e intelectual. Para ele, a queda das ditaduras socialistas não tornou o mundo melhor. Pelo contrário, o ocidente e o mundo árabe foram observados com grande preocupação por ele, que condenou as guerras do Golfo 1991 e 2003. (...) Onde ele era ou parecia ser conservador, não o era como tradicional guardião da Igreja, mas sim como um homem que via uma ramificação espiritual na forma de vida no ocidente atual, brutalidade e inconstância."

Financial Times Deutschland (Alemanha): "Quase todos têm uma opinião sobre o chefe da Igreja Católica: (...) Ele seria um ultra-conservador, é a opinião geral. Afinal ele foi contra os bispos alemães que lutavam pelos direitos do aborto. Ele condenava o uso de preservativos na África, onde a Aids se alastra assustadoramente. Principalmente nos temas internos, referentes à Igreja, o papa João Paulo II era sem dúvida um conservador, o que se manifestou com o fato de ter apoiado de forma massiva a reacionária semi-seita Opus Dei. Mas o que é subestimado é que ele também foi um líder da Igreja que se distinguiu pelo liberalismo em relação a outras crenças, o que nunca houve antes num pontificado."

Stuttgarter Zeitung (Alemanha): "A morte de João Paulo II é uma enorme perda para a Igreja. As imagens comoventes de seu sofrimento ficarão na memória não só dos fiéis. Mas após todos os respeitosos tempos de silêncio que este grande papa mereceu e após os inevitáveis anos de reverência que estão por vir, nos quais ninguém irá executar reformas, o diálogo na Igreja Católica deve recomeçar. De cima para baixo, para vantagem dos pregadores, esta comunicação unilateral foi usada por um longo tempo. Muitas discussões ficaram sem respostas, suplantadas pela personalidade de João Paulo II. Agora elas podem voltar à tona. O papa não é tudo na Igreja Católica."

Freies Bildformat: Collage zu Papst Johannes Paul II.
Foto: AP/SO

The Guardian (Inglaterra): "O pontificado de João Paulo II foi um dos mais longos e mais ativos nos dois mil anos de história da Igreja Católica. Pelo menos nesse ponto todos os católicos concordam (...). Sem dúvida alguma, João Paulo II foi uma das poucas figuras do século 20 que influenciou a vida de milhões de pessoas. (...) Seu significado vai sobreviver à sua morte e cunhar a direção da Igreja Católica; isso ele garantiu com a nomeação de vários cardeais que deverão escolher seu sucessor."

Daily Telegraph (Inglaterra): "Com a morte de João Paulo II termina o longo sofrimento do maior papa de todos os tempos. Finalmente, a cortina caiu após um drama em um pontificado que marcou uma época, não somente na história do pontificado, mas também no Cristianismo. Suas palavras e atos serão lembrados enquanto a Igreja Católica Romana existir. É apenas uma questão de tempo até que seu nome entre para o hall dos santos, para o qual João Paulo II contribuiu como nenhum outro papa."

El Mundo (Espanha): "Nunca uma pessoa foi tão honrada após sua morte como o papa João Paulo II. Do poderoso dirigente como George W. Bush, passando pelo ditador Fidel Castro até os fundamentalistas do Taliban – praticamente todas as personalidades da política mundial elogiam muito o pontificado do recém-falecido chefe da Igreja. Cada um tem seus motivos. Nós estamos diante de um verdadeiro fenômeno de globalização. João Paulo II foi o papa da era da globalização."

Corriere della Sera (Itália): "Karol Wojtyla entrou para a história; uma história da qual ele fará parte a partir de agora como uma das duas ou três maiores personalidades religiosas, políticas, culturais e morais do século 20. (...) Wojtyla foi o papa dos diálogos inter-religiosos, que estendeu a mão ao mundo judeu e ao islâmico e que reconheceu os erros do lado cristão. Algo muito atípico e inédito na história do mundo. Talvez isso tenha provocado incompreensão em seu mundo, mas trouxe-lhe ao mesmo tempo um grande respeito daqueles pertencentes a outras religiões que não a católica e também dos ateus."

Gazeta Wyborcza (Polônia): "Nós vivemos na época de João Paulo II – assim será denominado o último quarto de século – a época do papa que mudou a Igreja Católica, a Polônia, o mundo e, finalmente, que mudou cada um de nós. (...) Ele conheceu pessoalmente os dois demônios do século 20 – os totalitarismos nazista e comunista. As sombras de Auschwitz e Kolyma acompanharam sua pregação sem cessar... Hoje estamos tristes. A maior autoridade da Polônia nunca mais voltará."

Kommersant (Rússia): "Durante o pontificado de João Paulo II foi canonizado um número recorde de 500 santos. Foi justamente João Paulo II que pediu perdão pelas atrocidades da Inquisição na Idade Média. Ele procurou ativamente o diálogo inter-religioso entre judeus e muçulmanos. E teve um papel importante na queda do sistema socialista. Exatamente por isso, sofreu um atentado em 1981, do qual, segundo especialistas ocidentais, a KGB estaria por trás. Enquanto muito fazia pela imagem da Igreja Católica, João Paulo II continuou um conservador nas questões primordiais do catolicismo."

Le Figaro (França): "O papa parece ser um gigante do século 20, assim como de Gaulle ou Churchill. João Paulo II tinha o poder de dirigir-se não só aos fiéis de sua Igreja, mas a todas as pessoas. Suas palavras encontraram fora do Cristianismo tanta ressonância quanto dentro dele. Só para citar um exemplo: seus comentários em seu país natal, a Polônia, sobre o regime comunista, foram registradas como as de um rebelde. Ele contribuiu mais que qualquer político para a queda de uma tragédia do século passado. (...) Por isso era a mensagem desse peregrino de Deus, desse papa da palavra, tão universal. Todos podiam recebê-la. Ele foi além dos membros de sua Igreja, chegando a todas as pessoas."