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Luta contra aids é pela dignidade e os direitos humanos

Mirjam Gehrke / av17 de julho de 2004

A presença latino-americana na Conferência Internacional da Aids de Bangcoc foi tímida. A DW-WORLD informou-se sobre a alarmante situação do vírus HIV na América Latina e os progressos do combate no Brasil.

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Protesto contra a indústria farmacêutica em BangcocFoto: AP

"Desde a última conferência, há dois anos em Barcelona, o número de infectados aumentou. Creio que um sinal de alarma emerge desta conferência: a política tem que atuar". Este foi o balanço crítico do ex-deputado e ex-membro do governo brasileiro Paulo Teixeira, presente à Conferência Internacional da Aids, concluída nesta quinta-feira (15), na capital tailandesa Bangcoc.

As cifras atuais sobre a expansão da epidemia do vírus HIV e da síndrome de imunodeficiência adquirida na América Latina e Caribe lhe dão razões para ser cético. De um total de 38 milhões de pacientes soropositivos, 2,3 milhões vivem na região. Com mais de 250 mil novas infecções em 2003, ela ocupa o segundo lugar em crescimento da aids, na comparação mundial.

Enquanto na América Central e Caribe a síndrome afeta sobretudo as mulheres heterossexuais, no Cone Sul as principais vítimas são homens homossexuais e toxicômanos que se injetam. A incidência da aids entre a população entre os 15 e 24 anos de idade alcança níveis de 1,5% a 3%.

Mulheres num continente machista

O segundo grande tema da luta contra a aids na América Latina é a situação feminina. A presidente da Associação Mundial de Mulheres com HIV e Aids é Gracia Violeta Ross, uma boliviana de 27 anos. Também portadora do vírus, ela se propôs batalhar pela igualdade de direitos.

Uma luta difícil, reconhece: "A América Latina é um continente machista com cultura machista. A mulher é altamente vulnerável à aids, por não ter acesso à informação, nem poder desenvolver técnicas de prevenção".

A jovem ativista comoveu os delegados com seu testemunho pessoal, durante a cerimônia de encerramento da conferência. Ela fala dos preconceitos de que são alvo tantas mulheres latino-americanas. "Pensa-se que uma mulher sexualmente esclarecida é uma mulher fácil. A cultura define estritamente seu papel, enquanto confere ao homem a liberdade de ter parceiras sexuais variadas."

A saída pelos genéricos

"Devemos garantir a todos os pacientes o acesso a medicamentos", afirma Paulo Teixeira, "mas é preciso também falar sobre as patentes. Os altos custos e os remédios licenciados excluem muitos da terapia necessária".

A luta contra a aids é, ao mesmo tempo, uma luta contra a pobreza, pelos direitos humanos e pela dignidade de todos os cidadãos O Brasil deu importantes passos nesta direção: a Constituição garante a todo brasileiro soropositivo ou aidético o fornecimento gratuito de medicamentos.

Isto só foi possível graças à decisão adotada em 1998 de produzir genéricos no país, a 20% do custo dos remédios importados. Assim se pôde reduzir de 15 mil para três mil dólares o custo anual da terapia. Dos 14 medicamentos atualmente empregados no Brasil, oito são de produção nacional.

"O Brasil aposta na produção de genéricos" comenta Paulo Teixeira, "Fechamos acordo com outros países para compartilhar essa experiência. E demos passos importantes na discussão sobre a transgressão das patentes internacionais."

América do Sul em 2008?

Para Violeta Ross, é sumamente importante o intercâmbio de experiências, em todos os níveis. Ela lamenta a escassa presença latino-americana em Bangcoc: "Talvez tenhamos sido tímidos demais, mas não representamos claramente nossa região. A conferência pertenceu à Ásia e seus problemas. Mas peço que a edição de 2008 se realize na América do Sul – no Brasil, Argentina ou talvez no Chile."