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Lula enfrentará desafios e expectativas demais

25 de outubro de 2002

O futuro presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai enfrentar desafios grandes demais e a situação que vai herdar permitirá uma margem de manobra muito limitada, conforme artigo do jornal alemão Südddeutsche Zeitung.

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Luiz Inacio Lula da Silva em pose de vencedorFoto: AP

"O desafio que o novo presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, vai enfrentar é, no mínimo, grande demais, como o próprio país do Amazonas. As expectativas dos 175 milhões de brasileiros quanto a uma virada no mercado de trabalho e na política social são também extremamente grandes.

Ao mesmo tempo, as elites econômicas, que prefeririam José Serra na presidência, vão reagir de forma extremamente crítica a cada ação de Lula. E um fracasso do novo presidente seria fatal não só para o Brasil já estagnado. Uma crise na maior economia sul-americana prolongaria a profunda recessão em que já se encontram a Argentina e a Venezuela e sufocaria a conjuntura em países da região economicamente meio saudáveis, como o Peru.

A maioria dos brasileiros está decepcionada depois de oito anos do presidente Fernando Henrique Cardoso: seu governo de centro-direita combateu a antiga inflação galopante, mas, ao mesmo tempo, quase duplicou o desemprego para 8,3%. Lula espera criar 15 milhões de empregos. A conjuntura atualmente estagnada deve ser ativada com grandes investimentos.

O Partido dos Trabalhadores quer combater a fome e a violência com a criação de uma rede social. Mas Lula revelou pouco, em seu programa eleitoral, sobre como deverá ser financiado este projeto necessário mas muito dispendioso. De forma que os mercados financeiros de São Paulo permanecem amedrontados. "Os investidores estão temerosos que um governo de Lula ceda à pressão populista", disse Dalton Gardimam, diretor do banco Credit Lyonnais, em São Paulo.

Para não prejudicar a vitória eleitoral do Lula, os sindicatos e o movimento radical dos agricultores sem terra MTS, tradicionais aliados do PT, permaneceram quietos nos últimos meses, numa atitude fora do comum. Mas depois de uma vitória do ex-líder sindical Lula, eles vão lutar por aumentos reais de salários, que se encontram em baixa há anos, e por uma rápida reforma agrária.

O medo de um governo de esquerda ceder de forma demasiada às exigências populares e de continuar aumentando a dívida pública já equivalente a 58% do PIB (Produto Interno Bruto) gerou quedas enormes nas bolsas de valores e desvalorização do real em 40%, nos últimos meses.

Com a situação deixada por Fernando Henrique Cardoso, a margem de manobra de Lula será muito limitada: o empréstimo do Fundo Monetário Internacional anunciado em agosto condicionou uma injeção financeira de US$ 30,4 bilhões à obtenção de um superávit orçamentário antes do pagamento dos juros, que deverá ser de 3,75% do PIB, também no próximo ano.

Ao mesmo tempo, a "lei de responsabilidade fiscal" proíbe gastos maiores do que os impostos arrecadados. A bancada do PT de Lula no Congresso Nacional saiu fortalecida da eleição de seis de outubro, mas não chega a formar uma maioria junto com os outros partidos de esquerda e precisará da cooperação de partidos da atual coalizão de centro-direita. Isto pode paralizar uma reforma agrária e de aposentadoria durante muito tempo, mas também pode impedir mudanças radicais".