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Lincoln: "Copa da Alemanha é outra história"

Gabriel Fortes1 de maio de 2005

Meia não se abate com a queda do Schalke na reta final da Bundesliga; ele garante a motivação do time para a decisão do torneio nacional, contra o Bayern de Munique, na capital Berlim.

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Brasileiro 'estuda' companheiros para colocá-los na cara do golFoto: dpa

Ele tem 26 anos de idade e quatro de Alemanha. Jovem com experiência? Sim, o suficiente para se tornar o "cérebro" do Schalke dentro e fora de campo. O suficiente, também, para manter o ânimo entre os jogadores com a Bundesliga praticamente perdida.

Lincoln, brasileiro que em 2001 trocou o Atlético–MG pelo Kaiserslautern, hoje traz a camisa 10 do time de Gelsenkirchen. É o motor que impulsiona as jogadas ofensivas da equipe, e o homem que estuda, quando não está de chuteiras, as características de seus companheiros: "Quero melhorar para colocá-los na cara do gol sempre".

"Sempre", daqui para a frente visando principalmente a Copa da Alemanha. O meia não encara a chance de vencer o Bayern de Munique na final do dia 28 de maio, em Berlim, como a oportunidade de apagar o deslize do time na final do Campeonato Alemão. "São coisas diferentes".

Pacato e caseiro, como faz questão de frisar, o atleta fez dos seus redutos na Alemanha uma pequena parte do Brasil. Ainda solteiro, vive com dois primos e mensalmente "importa" familiares e amigos para a Europa.

Sobre os seus interesses profissionais, Lincoln demonstra consciência e não está iludido. Apesar do sucesso em solo germânico, o jogador evita projetar uma carreira dentro da seleção brasileira.

Claro, uma convocação cairia como uma luva no momento. Por quê? Ele conta neste contato exclusivo que teve com a DW-WORLD na quinta-feira (28/04), durante uma pausa nos treinamentos especiais realizados na Holanda.

DW-WORLD – Como você encara essa queda do Schalke nas últimas rodadas da Bundesliga? Como é possível explicar isso?

Lincoln – Se você for pensar bem... É claro que tivemos algumas derrotas nos últimos meses. Este é o lado ruim. Mas pelo lado bom, estamos o campeonato inteirinho lutando pela primeira ou segunda posições. E nós estamos na segunda posição. Então, com todas as dificuldades que estamos tendo desde o começo, e mesmo com estas derrotas, permanecemos em segundo. Tem o lado ruim, já que brigávamos de igual para igual e pelo título, mas vejo pelo lado bom. Perder é ruim, mas estivemos bem durante o campeonato inteiro.

Mas nos últimos cinco jogos o Bayern venceu todas as partidas e vocês perderam quatro. Acha que a equipe vacilou na hora errada, justamente na reta final?

Não é que deixamos para errar no final. Não tem lógica isso, porque ninguém quer perder. E o Bayern venceu do Mönchengladbach (Borussia) por 2 a 1 aos 88 minutos, aos 86 ou 89 do Hannover por 1 a 0, e nós tivemos a infelicidade de perder. O nosso time foi montado esta temporada, estamos nos organizando. Temos um bom time, mas quando alguém fica de fora a gente sente um pouco.

Lincoln und Ailton von Schalke 04
Aílton abraça Lincoln: gols do atacante não foram suficientes na temporada 2004/2005Foto: AP

Na sua opinião, o que faltou ao Schalke na Bundesliga?

Eu acho que faltou um pouco de tudo. Um pouco de sorte, e lógico que não se pode perder. Um time que quer ser campeão não pode perder de maneira nenhuma os seus jogos em casa. Principalmente nos pontos corridos. Temos que jogar com o intuito de somar três pontos em casa e, fora, três ou um. Quem quer ser campeão precisa pensar assim. E o nosso pensamento estava, e está assim. Não acabou nada ainda. O Bayern se distanciou, provavelmente será o campeão, mas isso serve de lição. Nos dá aprendizado para a próxima temporada.

Um eventual título da Copa da Alemanha, justamente sobre o Bayern, na final que será disputada em Berlim, seria a saída para apagar a má impressão?

Não. Eu não vejo assim. Nenhuma situação serve para cobrir outra. A realidade do Campeonato Alemão é essa: jogamos bem o ano inteiro e agora tivemos a infelicidade de perder alguns jogos que fizeram o Bayern se distanciar. Agora, a Copa da Alemanha já é uma outra história em que nós temos totais condições de vencer. É uma final, um clássico com um Bayern de um lado e um Schalke de outro. Tem tudo para ser um ótimo jogo e eu não penso que é uma chance de apagar uma outra situação.

O que este título significaria para o Schalke?

Eu acho que significa muita coisa. Todo título é muito significativo. Independentemente de contra quem foi, ou onde. A Copa da Alemanha é disputadíssima, todos sabem disso. As equipes entram com um espírito de luta muito grande e eu ficaria muito feliz de conquistá-la. Eu quero ganhar, e todos no Schalke também.

Você chegou à Alemanha em 2001, brilhou atuando pelo Kaiserslautern e foi comprado pelo Schalke antes do término do contrato. Que avaliação você faz do seu futebol nestes quatro anos de Alemanha?

Tinha contrato por quatro anos lá e fiquei três. Eu acho que aprendi muito vindo do Atlético–MG direto para o Kaiserslautern. A Bundesliga é um dos campeonatos mais difíceis da Europa, do mundo. A cada ano eu aprendo muito, e no futebol isso é ótimo. A cada treino e a cada jogo sinto uma evolução. Este é o meu caso. Nestes quatro anos de Europa, e quase um de Schalke, posso dizer que aprendi muito. Sou muito feliz aqui e estou muito valorizado, ciente de que tenho ajudado o time. A minha avaliação é bem positiva.

Que tipos de dificuldades, dentro e fora de campo, você encontrou quando chegou por aqui?

Tive algumas contusões, principalmente no Kaiserslautern, quando praticamente não consegui jogar a minha terceira temporada aqui. Dentro de campo foram também dificuldades de adaptação ao esquema tático. Fora dele foi a cultura em si. Hoje eu conheço muito bem e estou praticamente adaptado ao país. É natural que no começo seja tudo diferente, estranhei muito a língua e a comida.

No meio-campo do Schalke, você se tornou peça fundamental para um esquema tático que dali para a frente conta com Sand, Asamoah e Aílton, um quarteto que oferece muito perigo ao adversário. Até onde você ainda pode evoluir?

Eu acho que dá para eu crescer, sim. Tenho buscado isso. Eu costumo e tento estudar cada um dos meus companheiros, os seus estilos e a sua maneira de jogar. Eu sou um jogador de passe, de assistências e os estou conhecendo melhor a cada dia, para conseguir colocá-los em frente ao gol. Montamos o time para esta temporada e conseguimos uma evolução muito grande. Tenho certeza de que na próxima, com a chegada de dois, três grandes jogadores, o nosso time vai ficar muito melhor.

A seleção brasileira hoje em dia conta com poucos jogadores do meio para frente que atuam na Alemanha. Temos mais defensores, e apenas o Zé Roberto, que atua mais adiantado. Por que, já que meias e atacantes têm se destacado tanto por aqui?

Isso teria que perguntar para o treinador. Mas eu procuro olhar da maneira mais fácil. O Brasil a todo momento revela jogadores, e o Parreira com certeza, ultimamente, não vem precisando buscar aqui na Alemanha jogadores que atuam do meio para a frente. Mas eu tenho certeza também de que ele está por dentro de tudo o que acontece por aqui. Temos bons jogadores que atuam nestas posições avançadas, isso é óbvio. Não estou querendo me colocar em lugar nenhum, mas eu venho fazendo um campeonato com regularidade, jogando bem constantemente. O Brasil estará muito bem servido independentemente de quem for convocado.

Levando em consideração a sua pouca idade, acha que a seleção ainda é uma realidade na sua carreira?

Com certeza. Seria injusto da minha parte falar que não. A todo jogo e a todo treino eu penso em um dia vestir a camisa da seleção. Mas se isso não acontecer, não ficarei louco. Sou profissional, conheço o meu potencial e jogo num clube grande. Tenho uma responsabilidade grande aqui, eles têm uma dependência grande de mim hoje em dia. Sou organizador das jogadas, e tenho a minha cabeça voltada para o Schalke. Se vier uma oportunidade, uma convocação, certamente virá no melhor momento da minha carreira. Estou vivendo isso agora. E se não vier, continuarei fazendo o meu trabalho da melhor maneira possível. Isso não me incomoda. Sou alegre, levo isso para dentro de campo e isso me ajuda.

Antes de assinar com o Schalke, quando você estava deixando o Kaiserslautern, a Juventus, da Itália, demonstrou um interesse sobre o seu futebol. Você consideraria uma troca de país? Isso faz parte dos seus planos?

Brasilianer Cassio Soares Lincoln vom 1. FC kaiserslautern
Interesse italiano em Lincoln começou na época de KaiserslauternFoto: AP

A verdade é que a Juventus tinha interesse em mim desde a minha época no Kaiserslautern. E quando ficaram sabendo que eu sairia do clube, me procuraram, mas não foi concreto. Depois sondaram novamente. Eu fico feliz por ser um grande clube da Europa, mas eu estou muito feliz aqui. Vivo o meu melhor momento e se vier a oportunidade de trocar de clube, vou sentar e analisar se será bom para mim e para o Schalke. Na verdade eu nem fico pensando muito nisso, gosto de viver o presente. Estou dando o melhor de mim nos treinos aqui sem ficar imaginando coisas. Quando cheguei ao Schalke fizemos um contrato até 2007, mas com cinco meses de clube eles me chamaram para uma prorrogação por mais um ano.

Como é a sua vida aqui na Alemanha?

A minha vida é bem tranqüila aqui. Sou caseiro, e a única coisa que eu não aceito é ficar sozinho na Alemanha. Dois primos meus, o Tide e o Éder, moram comigo aqui. Mas todo mês eu recebo visita do Brasil. São primos, amigos, amigas, minha mãe, sobrinhos, irmã. Minha vida no Brasil era essa. Gosto de ficar sempre com a família e com os amigos. Ainda não sou casado, e procuro viver aqui a mesma vida que levava no Brasil. Isso me deixa mais feliz, fico mais tranqüilo. Me torno mais forte ao lado de pessoas que querem o meu bem.