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Levante contra a guerra

Marcio Weichert31 de março de 2003

Em queda nas pesquisas de opinião, apoio da CDU e CSU à guerra no Iraque é cada vez mais questionado por seus próprios membros. Popularidade da líder da oposição cai a seu nível mais baixo. Schröder recupera-se.

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Merkel foi a Washington, em fevereiro, expressar o apoio democrata-cristão a BushFoto: AP

Os dois partidos irmãos CDU e CSU ainda ganhariam as eleições federais alemãs, se elas fossem realizadas nestes dias, mas desde o início de fevereiro o governo social-democrata e verde vem recuperando terreno. De acordo com o programa Politbarometer, da emissora ZDF, a União Democrata-Cristã e a União Social-Cristã teriam 50% dos votos, contra 30% do Partido Social Democrático (SPD) e 11% do Partido Verde. Em menos de dois meses, os partidos governistas reduziram a vantagem conservadora de 26 para nove pontos percentuais.

Possivelmente não são apenas as posições divergentes da situação e da oposição quanto à guerra no Iraque que estão fazendo os eleitores migrar. No entanto, não se pode negar sua influência. Num momento em que o conflito no Golfo Pérsico é o assunto principal nos meios de comunicação, e sendo 75% da população do país – inclusive 57% dos eleitores da CDU e CSU – contra a intervenção anglo-americana, era de se esperar que mais cedo ou mais tarde esta realidade se refletisse nas pesquisas de popularidade dos partidos políticos alemães.

Anti-Kriegs-Demo
Manifestação em Berlim, dia 29 de março; 75% dos alemães são contra a guerraFoto: AP

Se até o estouro das primeiras bombas, os partidos conservadores pareciam solidamente unidos no apoio a Washington e contra a postura pacifista do governo alemão, proliferam agora os questionamentos sobre a legitimidade da guerra sem mandato da ONU. Eles aumentaram especialmente após Angela Merkel, presidente da CDU, defender mais uma vez, em entrevista da tevê e através de uma carta aos cidadãos, sua solidariedade ao presidente americano George W. Bush.

Merkel: Saddam é culpado pela guerra

"Chegamos a um ponto em que a guerra era inevitável. Caso não se agisse, os danos seriam ainda maiores", disse Merkel no programa Gabi Bauer, da emissora ARD. A fidelidade aos EUA explica-se, segundo ela, porque a Alemanha e os Estados Unidos comungam dos mesmos valores. A líder democrata-cristã lamenta extremamente as conseqüências para a população civil iraquiana, mas não se poderia culpar agora os EUA e a Grã-Bretanha pelo conflito. Saddam Hussein teria desobedecido 17 resoluções das Nações Unidas. "Trata-se de uma derrota da política e da diplomacia. Mas uma coisa esta guerra não é: uma guerra preventiva", afirmou.

A presidente da CDU e líder da bancada conjunta com a CSU no parlamento alemão admitiu, entretanto, que todos cometeram grandes erros nos últimos meses, inclusive os Estados Unidos. "O governo americano despertou, com suas palavras, a impressão de que não depende de ninguém. Isto foi absolutamente errado", avaliou Merkel.

Em sua carta aos cidadãos, ela ressalta ser irresponsável "descartar o emprego de violência militar como último recurso", referindo-se à posição do chanceler federal Gerhard Schröder. "Como último recurso, ela é e continuará sendo inevitável em alguns conflitos, como neste", acrescenta.

Críticos: não à política do "sim e amém"

Os argumentos de Merkel não convencem a todos nas fileiras conservadoras. Os deputados Peter Gauweiler (CSU) e Willy Wimmer (CDU) foram pioneiros na rebelião contra a linha de seus partidos. Ainda antes da guerra, os dois foram a Bagdá proclamar sua solidariedade com os cristãos iraquianos. Para Gauweiler, a presidente democrata-cristã deixou-se levar "por razões táticas" e isolou-se dos eleitores.

Em artigo nesta segunda-feira no Bild, o jornal de maior circulação na Alemanha, o parlamentar bávaro exige uma mudança radical de seu partido e da CDU quanto à guerra. "Esta não é nossa guerra", escreveu o social-cristão. A relação dos conservadores alemães com os EUA não pode ser de "sim e amém".

Igualmente contestadoras soam as palavras do deputado Karl Lamers (CDU) no diário Rheinische Post. "Não entendo por que Angela Merkel segue incondicionalmente os americanos. Assim vamos virar um penduricalho passivo, em vez de sujeitos da ação política", diz o democrata-cristão. Em sua opinião, os EUA queriam a guerra em qualquer caso. "A afirmação de que os americanos estariam ameaçados pelo Iraque é absurda", diz o deputado.

Expoentes insatisfeitos

Rita Süßmuth
Süssmuth sente falta do espírito cristão em seu partido

Insatisfeita está também Rita Süssmuth, ex-presidente do parlamento alemão. A deputada da CDU acusa Merkel de defender uma política que não reflete o pensamento da base partidária. "Trata-se de uma guerra sem mandato da ONU. Isto enfraquece o direito internacional", sentencia a democrata-cristã, que também tem divergido dos líderes de seu partido quando o tema é imigração. Süssmuth adverte seus correligionários a levarem a sério a posição dos opositores da guerra. A deputada disse sentir falta da mensagem cristã de paz de seu partido.

Governador do Sarre, Peter Müller igualmente diverge da presidente de seu partido. "Se não há situação de emergência, uma intervenção militar precisa de mandato das Nações Unidas", considera o democrata-cristão. E, para ele, na questão iraquiana ainda se estava longe de esgotar todos os meios para se pressionar Saddam Hussein.

Maioria ainda com Merkel

Diante dos questionamentos, Angela Merkel tem recebido o apoio de outras lideranças de seu partido. Para o porta-voz de política externa da bancada conservadora, Friedbert Pflüger, as divergências na CDU e na CSU têm sido exageradas. A grande maioria estaria ao lado de Merkel. Segundo o governador da Turíngia, Berhard Vogel, toda a Executiva Nacional da União Democrata-Cristã apóia a presidente, à exceção do governador do Sarre.

Em entrevista ao Die Zeit, o vice-líder da bancada federal da CDU/CSU saiu igualmente em defesa de Merkel, mas tergiversando. "Na verdade, todos somos contra esta guerra. Nós também não a queríamos. E se ela fosse inevitável, não deveria ser sem uma decisão do Conselho de Segurança da ONU", afirma Wolfgang Schäuble.

Guerra seria mal menor

Para o fato de que Bush partiu para a guerra mesmo sem mandato das Nações Unidas e mesmo assim seu partido continuar a seu lado, Schäuble tem uma explicação: "Amigos também cometem erros, e graves, mas nem isto nos faz mudar de lado. Ainda pior (que a guerra) seria uma derrota dos Estados Unidos, também para a paz e nossa segurança."

Kompetenzteam: Wolfgang Schäuble, Porträt
Schäuble acha que desistir da guerra agora encorajaria os regimes "irresponsáveis"Foto: DPA

O ex-presidente interino da CDU vai em frente na defesa do que ele considera mal menor contra o risco de um maior: "Imagine que os americanos tivessem – qualquer que seja o motivo – que recuar, Saddam Hussein continuasse no poder e triunfasse. Isto seria catastrófico para a estabilidade e as perspectivas de paz, não só no Oriente Médio. Seria um encorajamento para todos os regimes irresponsáveis do mundo – dos quais infelizmente ainda existem muitos – e para o terrorismo mundial. Isto pioraria nossa segurança na Europa e na Alemanha."

Situação difícil

Laurenz Meyer, secretário-geral da CDU, não esconde que a situação é incômoda para seu partido e a presidente Angela Merkel. Todos estamos "com enormes dores de barriga" por conta da guerra no Iraque, admite. Mas Meyer acha correto o apoio a Washington, com vistas ao futuro. As relações transatlânticas seriam um dos pilares da política externa alemã e uma aliança com a França e a Bélgica não seria a mais adequada para estimular a unidade européia.

Stoiber: intervenção legítima

Enquanto entre os democrata-cristãos lamenta-se a iniciativa de Bush de atacar o Iraque sem mandato da ONU, o presidente da CSU e governador da Baviera, Edmund Stoiber, não vê motivos para isto. Segundo o ex-candidato a chanceler, a resolução 1441 das Nações Unidas já previa "conseqüências sérias" caso Saddam Hussein não cooperasse para a destruição de suas armas de extermínio. Stoiber não vê qualquer infração ao direito internacional na intervenção militar.

Gangorra da popularidade

Seja como for, sobe junto à opinião pública alemã a popularidade daqueles que condenam claramente a guerra, de acordo com o Politbarometer, que igualmente avalia o grau de aprovação dos eleitores aos dez mais importantes políticos do momento. À exceção da ministra da Saúde, Ulla Schmidt, todos os membros do governo viram seus índices melhorar na pesquisa divulgada sexta-feira.

Em alta, o ministro do Exterior, Joschka Fischer (Partido Verde), mantém a liderança do ranking, enquanto o chanceler federal Gerhard Schröder (SPD) saltou para a quarta colocação, voltando a ter avaliação positiva. Por sua vez, a presidente da CDU, Angela Merkel, caiu para a sétima posição, registrando sua pior nota desde que passou a ser cotada na pesquisa.