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Lembrança do Holocausto acirra debate xenófobo

(ca)24 de abril de 2006

Após o ministro alemão do Interior declarar que "há também pessoas louras de olhos azuis vítimas de violência", o secretário do Interior de Brandemburgo lembra as vítimas dos campos de prisioneiros soviéticos.

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Monumento em memória das vítimas do campo de concentração de SachsenhausenFoto: AP

Com o ataque brutal a um engenheiro alemão de origem etíope na cidade de Potsdam, capital do Estado de Brandemburgo, no domingo de Páscoa, acirra-se o debate em torno da xenofobia na Alemanha.

O ministro alemão do Interior, o democrata-cristão Wolfgang Schäuble, já corrigiu a declaração que havia dado, na última quinta-feira (20/04), de que não estaria claro que o ataque teria um cunho racista e que "há também pessoas louras de olhos azuis vítimas de violência".

E agora são as declarações do secretário do Interior de Brandemburgo, Jörg Schönbohm, que colocam mais lenha na fogueira do debate sobre atos de violência contra estrangeiros em território alemão, envolvendo desta vez a lembrança das vítimas do Holocausto.

Discussão política na tevê!

Fremdenfeindlicher Mordversuch in Potsdam Gedenken Blumen
Flores no local do crime em PotsdamFoto: AP

Como já se tornou costume na Alemanha, debates políticos não se realizam somente nos parlamentos mas também em rodas de discussões em programas de televisão. No programa noturno da ARD, no último domingo (23/04), estavam presentes, entre outros, o secretário do Interior de Brandemburgo, Jörg Schönbohm da CDU, e Gregor Gysi, chefe da bancada do Partido de Esquerda.

Colocando mais lenha na fogueira acesa por seu colega de partido, Wolfgang Schäuble, o secretário do Interior de Brandemburgo criticou perante as câmeras de televisão a decisão do Procurador Geral da República, Kay Nehm, de tratar o caso como questão de segurança interna.

Para Jörg Schönbohm, o delito não só "poderia ter sido esclarecido em Brandemburgo, como também deveria ter sido esclarecido em Brandemburgo", colocando ainda em questão o fato de a segurança interna da Alemanha estar ameaçada: "Primeiro deve ser esclarecido se realmente existe uma participação da extrema direita no caso".

Racismo é questão de segurança interna

Fremdenfeindlicher Mordversuch in Potsdam Opfer Ermyas M
Ermyas M. ainda se encontra em risco de vidaFoto: picture-alliance / dpa/dpaweb

Segundo a Spiegel Online, Kay Nehm teria justificado, no último domingo, como constitucional a decisão de levar o caso à Procuradoria Geral da República.

Como Procurador Geral da República, ele seria o responsável pelas investigações quando "um delito de morte está determinado ou inclinado a causar prejuízos à segurança interna da Alemanha".

Segundo Nehm, este seria o caso da agressão ao engenheiro de Potsdam, cujos indícios conhecidos até agora levam a crer que os critérios que justifiquem uma intervenção em nível federal sejam preenchidos.

Nehm confirmou que os testes de DNA em cacos de vidro de uma garrafa de cerveja, encontrada no local do crime, pertencem ao suspeito de 30 anos preso em Potsdam e que a voz gravada no celular da esposa da vítima, para quem o engenheiro ligou durante a agressão, pertence a outro provável agressor de 29 anos, que também está preso. Na gravação, o engenheiro era chamado de "negro de m..." pelo agressor.

Ermyas M., o engenheiro agredido, já consegue respirar sem a ajuda de aparelhos, o que não significa que não corra mais risco de vida, afirmou a porta-voz da clínica onde a vítima está hospitalizada.

Debate estende-se ao Holocausto

Entretanto, as confusões em torno das declarações do secretário do Interior de Brandemburgo, Jörg Schönbohm, não pararam por aí e o debate se estendeu agora às vítimas do Holocausto.

Jörg Schönbohm
Jörg Schönbohm provoca protestos com suas declaraçõesFoto: AP

Em uma cerimônia em memória dos 61 anos da libertação do campo de concentração de Sachsenhausen, na cidade de Oranienburg, nos arredores de Berlim, Jörg Schönbohm provocou a indignação dos cerca de 50 sobreviventes ali presentes ao afirmar que "nós queremos nos lembrar de todos aqueles que aqui sofreram".

O secretário referia-se aos 60 mil presos feitos pelos soviéticos após a libertação do campo de Sachsenhausen, que foi transformado em um campo soviético de prisioneiros entre 1945 e 1950. "Aqui também praticou-se tortura e morte após 1945", afirmou o secretário.

Após a cerimônia do último domingo (23/04), os sobreviventes consideraram insolentes as declarações do secretário Schönbohm, lembrando que muito dos presos feitos pelos soviéticos também torturaram e mataram no campo de concentração de Sachsenhausen durante o regime nazista.

O Partido de Esquerda exigiu que Schönbohm se desculpasse publicamente pela declaração e a crítica dos sobreviventes de Sachsenhausen lembra o que escreveu Jean Améry, escritor já falecido e sobrevivente de Auschwitz: "A anistia deve servir à vítima e não ao verdugo".