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'Ouro verde' da Baviera

Geraldo Hoffmann8 de agosto de 2007

A região de Hallertau, na Baviera, tem a maior área de cultivo de lúpulo do mundo. Um centro de pesquisas local garante a liderança alemã no mercado mundial do produto, indispensável à fabricação da cerveja.

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Colheita do lúpulo começa em meados de agostoFoto: AP

Uma espécie de parreiral gigante, de até sete metros de altura, cobre as colinas de verde na região de Hallertau, entre Ingolstadt e Munique, durante o verão europeu. Aqui cresce um produto agrícola em que a Alemanha é líder mundial: o lúpulo, também chamado de "ouro verde" da Baviera.

"Temos no mundo uma área de 50 mil hectares cultivada com lúpulo: um terço na Alemanha, um terço no noroeste dos Estados Unidos e o restante em outros países", diz Bernhard Engelhard, diretor do Centro de Pesquisas do Lúpulo em Hüll, perto de Wolnzach.

Hopfenanbau
Cultivo do lúpulo tem tradição milenar na região de HallertauFoto: DW/ Geraldo Hoffmann

Dos 19 mil ha plantados na Alemanha, 14.220 ha estão na região de Hallertau. Em meados de agosto, inicia-se a colheita. Segundo Engelhard, dois terços da safra são exportados para cerca de 130 países, sendo que os maiores importadores são os EUA, o Japão e a Rússia.

O plantio dessa trepadeira (humulus lupulus), que foi eleita "planta medicinal de 2007" por pesquisadores da Universidade de Würzburg, é conhecido na região desde o século 8º. Vários fatores contribuíram para o surgimento na Baviera da maior área de cultivo do lúpulo do mundo.

"O lúpulo só cresce e floresce entre o 35º e o 55º de latitude Norte e Sul, pois nessa faixa os longos dias do verão preenchem as condições para o florescimento. Na Hallertau, o clima simplesmente é ideal e o solo também é apropriado", explica Fritz Ludwig Schmucker, diretor executivo da Sociedade para a Pesquisa do Lúpulo (GfH), em Hüll.

Pesquisa a serviço da cerveja

Gesellschaft für Hopfenforschung Hill
Fritz Schmucker, diretor do Centro de Pesquisa do LúpuloFoto: Simone Hoffmann

Também a pesquisa desempenha um papel importante, diz Engelhard. Em 1923, a peronospora (falsa ferrugem), uma espécie de fungo oriundo da Ásia, atacou as lavouras da região e a produtividade caiu de cerca de 750 kg/ha para 120 kg/ha. O lúpulo estava ameaçado de extinção na Alemanha.

"As cervejarias temiam não obter mais lúpulo suficiente. Por isso, criaram um instituto de pesquisa com a incumbência de desenvolver métodos para combater essa doença da maneira mais rápida e eficiente possível", lembra Engelhard.

Foi assim que nasceu em 1926 o Centro de Pesquisa do Lúpulo (CPL). No mesmo ano, foi instalada uma estação experimental que, inicialmente, instruiu os produtores a usar corretamente os inseticidas. "Até 1975, a cada duas semanas, o lúpulo era pulverizado com veneno. Através do desenvolvimento de espécies resistentes, foi possível reduzir isso a três aplicações de agrotóxicos por ano", conta Schmucker.

Alertas via SMS

Para restringir ao mínimo o uso de produtos químicos no combate às pragas, o CPL desenvolveu um sistema de alerta. Em sete pontos da Hallertau, o ar é aspirado diuturnamente e, todas as manhãs, analisado sobre a presença de esporos. Quando é ultrapassado um determinado limite, o centro envia uma alerta via fax ou SMS aos produtores, sugerindo, por exemplo: "Hoje, passar veneno contra peronospera".

Hopfenanbau in der Hallertau, Bayern
Agricultores plantam as espécies encomendadas pelas cervejariasFoto: Simone Hoffmann

Com isso, o uso de agrotóxicos pôde ser reduzido ainda mais. "Em relação ao quilo de ácido alfa (extraído do lúpulo e usado na produção de cerveja), usa-se hoje apenas 4% do veneno que era usado há 30 anos contra a chamada falsa ferrugem. Isso é uma considerável contribuição à proteção do meio ambiente", diz Schmucker. O modelo de prognóstico desenvolvido em Hüll é usado também na viticultura e está sendo testado em outras culturas.

Pequenos agricultores

O sucesso da pesquisa do lúpulo é atestado também por um outro número. Em três décadas, de 1975 a 2005, a média de horas trabalhadas por hectare/ano caiu 70%, de 650 para 200 horas, em parte também pelo uso de máquinas desenvolvidas em Hüll.

Apesar disso, a cultura do lúpulo continua dando muito trabalho, como explica Bernhard Engelhard. "Na Alemanha, precisa-se de 2 mil mudas por hectare. No primeiro ano, elas em regra não produzem lúpulo. Isso significa que o produtor precisa financiar dois anos antes de ter um retorno."

O lúpulo é uma planta duradoura, que, à semelhança da videira, brota na primavera e cresce. "A mesma planta pode ser cultivada sem problemas por até 15 anos. Há exemplos de pés de lúpulo que chegaram a ter 70 anos de idade", diz Engelhard.

O plantio é feito principalmente por pequenos agricultores. O tamanho médio das propriedades rurais que cultivam lúpulo na região de Hallertau é de 11 hectares. "Os agricultores fecham contratos de três a cinco anos a preços fixos com as cervejarias e só plantam a espécie encomendada", explica Schmucker. A produção até 2010 já está quase completamente vendida.

Produto escasso

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Lúpulo seco: safras até 2010 estão praticamente vendidasFoto: DW/ Geraldo Hoffmann

Por causa dos baixos preços pagos aos produtores, a área cultivada em todo o mundo foi reduzida nos últimos anos. Depois de uma safra relativamente fraca em 2006 e do ingresso da China como compradora no mercado mundial de lúpulo, o preço do ingrediente da cerveja triplicou no ano passado. "Agora, os agricultores novamente conseguem cobrir seus custos de produção", diz Engelhard.

Em Hüll, considera-se no mínimo estranho que as cervejarias usem isso como argumento para aumentar o preço da cerveja. "Os custos do lúpulo por hectolitro de cerveja caíram à metade nos últimos 15 anos e giram em torno de 0,25 cent por garrafa. O lúpulo é mais barato do que a etiqueta ou a tampa da garrafa. Seu preço dificilmente pode servir de argumento para o aumento do preço da cerveja", explica o produtor Anton Lutz.

Nicho de mercado

Embora seja comercializado no mercado mundial, o lúpulo é um produto de nicho. Segundo Lutz, são usados apenas cinco gramas de ácido alfa por hectolitro de cerveja, cuja produção mundial aumentou 6% para 1,7 bilhão de hectolitros no ano passado. Isso representa um aumento de 100 milhões de hectolitros em relação ao ano anterior, segundo um relatório do setor.

Hopfenblüte
Ácido alfa, usado na fabricação da cerveja, é extraído da flor do lúpuloFoto: DW/ Geraldo Hoffmann

"O aumento da produção da cerveja acontece nos países em que não se deseja cerveja amarga – na China, no Brasil, ou melhor, na Ásia, na América do Sul e no Leste Europeu. Com as cervejas pils, tipicamente alemãs, não podemos obter grandes sucessos nessas regiões", diz Fritz Schmucker.

Para garantir o futuro e a competitividade internacional do lúpulo alemão, o CPL desenvolve novas espécies da planta. "Temos culturas que atendem às exigências do mercado em todo o mundo. Setenta por cento da área cultivada na Alemanha é de espécies que nós desenvolvemos. São espécies, por exemplo, aromáticas ou de alta concentração de ácido alfa", explica Engelhard.

Um orgulho especial dos cerca de 30 funcionários do Centro de Pesquisa do Lúpulo é a nova espécie Herkules. "Ela é resistente a doenças e tem uma produtividade superior a qualquer outra", diz Schmucker. "Em 1975, obtinha-se cerca de 50 kg de ácido alfa de um hectare de lúpulo. Com a nova espécie Herkules, são 400 kg por hectare. Não há nenhuma planta cultivada comparável que tenha tido um aumento de produtividade dessa ordem em tão pouco tempo", afirma.

Nova meta: lúpulo anão

O desenvolvimento de uma nova espécie de lúpulo demora de 15 a 18 anos. Parte-se de 100 mil a 150 mil mudas, que são pulverizadas com o fungo causador da verdadeira e da falsa ferrugem. Deste total, mil são levadas ao chamado "jardim-de-infância". Somente as que sobrevivem à infecção artificial continuam sendo testadas. "Nos 80 anos de história do CPL, só registramos 20 novas espécies", conta Schmucker.

Zwerghopfen
Primeiros testes de cultivo do lúpulo anão em HüllFoto: DW/ Geraldo Hoffmann

Nesse processo, também são usados métodos da biotecnologia, como por exemplo o diagnóstico genético para ajudar na seleção, análises genealógicas das plantas-tronco e experiências na área de transferência de genes. Uma meta para o futuro é criar um lúpulo anão, que possa ser cultivado em parreiras de três metros de alturas em vez dos atuais sete metros. "Com isso, se economizaria trabalho e se poderia aplicar os agrotóxicos de forma mais ecológica", explica Engelhard.

Além disso, os pesquisadores em Hüll tentam desenvolver um lúpulo de multiuso, cujos componentes correspondam às exigências das cervejarias, mas que também possa ser usado para fins alternativos, por exemplo nas indústrias farmacêutica, alimentícia e de cosméticos.

"Nesse campo nós vemos um grande potencial", diz Schmucker. Diante da mudança climática, também estão sendo desenvolvidas espécies resistentes ao calor e à seca. Porque, com o aquecimento global, a sede mundial de cerveja não deve diminuir.