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Agressões online desestimulam novos árbitros na Alemanha

Olaf Jansen
20 de outubro de 2022

Xingamentos a juízes em redes sociais são apontados como o principal motivo para jovens perderem o interesse pela carreira de árbitro de futebol no país europeu.

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A imagem mostra o árbitro Felix Zwayer de roupa preta e escudo da Fifa, segurando uma bola com a mão direita. Com a mão esquerda, ele encosta no jogador Jude Bellingham, do Borussia Dortmund, que veste o uniforme preto e amarelo.
O árbitro Felix Zawyer e o atleta Jude Bellingham discutem durante clássico entre o Borussia Dortmund e o Bayern de MuniqueFoto: Norbert Schmidt/picture alliance

O árbitro Felix Zwayer já experimentou o ódio nas redes sociais. O fato ocorreu na temporada passada, depois que ele apitou a partida entre Borussia Dortmund e Bayern de Munique pela Bundesliga, o Campeonato Alemão. Uma decisão controversa na marcação de um pênalti gerou discussões, e Jude Bellingham, atleta do Dortmund, acusou indiretamente Zwayer de corrupção, aludindo ao escândalo de apostas que ocorreu no país em 2005. O juiz, de 41 anos, não é ativo nas mídias sociais, mas recebeu e-mails anônimos com mensagens de ódio e, conforme a polícia, havia até uma ameaça de morte circulando na internet.

Esse não é um caso isolado. Árbitros têm se tornado cada vez mais alvos de hostilidades online. A possibilidade de debater publicamente gera abusos de trolls anônimos, que atacam, provocam e insultam. Em consequência, o corpo de arbitragem da Federação Alemã de Futebol enfrenta um claro declínio no número de novos árbitros.

"Quando eu comecei, em 1994, havia cerca de 80 mil árbitros na Alemanha. Hoje há a metade disso. Como vamos conquistar os jovens se, um final de semana após o outro, há uma completa indignação com os árbitros? Isso não é atraente. Os jovens não estão dispostos a encarar isso", diz Zwayer, que avalia que a barreira psicológica para se tornar árbitro ficou muito alta devido às discussões na internet.

Árbitro é cercado por integrantes da comissão técnica, jogadores e diretores durante jogo da Bundesliga
Jogadores, comissão técnica e diretores do Bayern reclamam de uma decisão da arbitragem em jogo contra o Freiburg Foto: Philipp von Ditfurth/dpa/picture alliance

Jogos amadores sem arbitragem?

Para o ex-árbitro Lutz-Michael Fröhlich, diretor da DFB Schiri (uma subsidiária da Federação Alemã com foco na arbitragem), o setor sofre um imenso problema de imagem. "Na dúvida, a culpa é do árbitro. O árbitro é como um estraga-prazeres, essa é a percepção geral. Há uma falta de apoio e reconhecimento por seu trabalho e empenho", diz.

Por isso, Fröhlich defende que jogadores e treinadores façam também comentários positivos sobre os árbitros em público. O que ocorre no futebol profissional – como no caso Bellingham – encontra seguidores também no futebol amador. "O que vemos aos domingos nas ligas regionais ou com os jovens é muitas vezes um reflexo do que acontece na primeira divisão", reforça. A situação já é dramática nas categorias de base. "Em breve, se o número de árbitros continuar em plena decadência, muitos jogos amadores e juvenis terão de ser disputados sem eles", assegura.

O problema não se limita às fronteiras alemãs, garante a ex-árbitra Bibiana Steinhaus-Webb , a primeira mulher a apitar jogos da Bundesliga masculina, em 2017. Ela vê a mesma tendência em toda a Europa. "Lutamos contra a falta de jovens árbitros em todos os lugares. Será uma grande tarefa, para as associações, tornar a arbitragem atraente no futuro."

Bibiana Steinhaus-Webb
Ex-árbitra Bibiana Steinhaus-Webb diz que a Inglaterra tem bons exemplosFoto: Ole Spata/dpa/picture alliance

Insultos passíveis de processo

Também para Steinhaus-Webb a má imagem dos árbitros é sobretudo consequência das hostilidades alimentadas nas redes sociais. Ela menciona como exemplo do que se pode fazer a Inglaterra, onde desde 2020 há um departamento da federação de futebol focado em abuso online e que pressiona pela criação de leis. "Esse esforço tem sido bem-sucedido e deveria servir de exemplo para outras federações", diz a ex-árbitra, que há mais de um ano trabalha como diretora do departamento feminino da associação britânica de árbitros Professional Game Match Official Limited (PGMOL).

A iniciativa abuso online busca identificar perpetradores escondidos em contas anônimas nas mídias sociais e responsabilizá-los por posts difamatórios. "Esses insultos devem ser passíveis de processo e punição. Ninguém aceitaria tais insultos na rua, então por que declarações idênticas devem ser aceitas na rede?"

Principalmente se for para conquistar jovens para a carreira de árbitro, em especial no futebol feminino, é que as ações contra infratores na internet são indispensáveis. "Tivemos uma grande evolução no futebol feminino na Inglaterra com o Campeonato Europeu Feminino 2022, que foi bem utilizado para recrutar jovens árbitras femininas. À margem dos jogos, ocorreram campanhas promocionais, e um número significativo de jovens interessadas foi encontrado", relata.

Na Austrália, ajuda da inteligência artificial

O futebol australiano provou que não se deve ficar de braços cruzados e aceitar insultos publicados na internet. As ligas profissionais masculina e feminina e o sindicato dos jogadores têm, desde o início de 2022, usado novos softwares de inteligência artificial para filtrar e remover automaticamente comentários racistas, homofóbicos, sexistas e outros tipos de insultos.

A importância de ser atuante contra violações de regras nas redes sociais na Alemanha é comprovada por dados do Departamento Federal de Estatísticas de 2021: no país, as redes são utilizadas por pelo menos 78% dos jovens entre 16 a 24 anos. Cada vez mais, esse público busca, no Instagram, no Tik Tok e em outras redes, informações que sejam relevantes.

E isso também se aplica aos jovens que avaliam seguir a carreira de árbitro. "Enquanto os árbitros, em nível amador ou nas ligas profissionais, forem constantemente criticados e, às vezes, até insultados online, vai continuar difícil inspirar e motivar os jovens para esse honroso ofício", comenta Fröhlich.