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Jovem cinema brasileiro mostra sua vivacidade em Berlim

8 de fevereiro de 2013

Com temas relacionados aos jovens dentro e fora do país, três diretores brasileiros foram selecionados para o programa Generation, que apresenta o melhor da produção mundial de temática jovem na Berlinale.

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Foto: Berlinale 2013

Apesar dos poucos longas selecionados nas mostras da Berlinale deste ano, o curta-metragem brasileiro não tem do que reclamar. Três filmes com diferentes e marcantes características foram selecionados para a mostra Generation, voltada a crianças e adolescentes.

O público em Berlim poderá ver o mundo através dos olhos de diretores brasileiros em filmes que mostram um olhar estrangeiro sobre a história universal, um amor que pode se abalar com uma surpresa e uma animação que mostra como vivem homens e animais nas cidades grandes.

Papagaio solitário  

Berlinale 2013 O Destimação
"Destimação" mostra solidão da vida na cidade grandeFoto: Berlinale 2013

O encontro de um garoto com um papagaio ranzinza num apartamento sujo e escuro é o mote do curta Destimação. O pássaro é seduzido pelas belas imagens de uma caixa de luz e atrapalha a convivência melancólica da casa. No desenrolar dos treze minutos da animação estão entrelaçadas questões como o tráfico de animais, os bichinhos de estimação e a solidão de algumas vidas metropolitanas. 

"O curta não é só uma crítica ao modo como as crianças vivem nas grandes cidades, mas também a como os adultos às vezes adotam os apartamentos como uma forma segura e isolada de viver, na medida em que os espaços públicos de convivência somem", disse o diretor Ricardo de Podestá em entrevista à DW Brasil.

O filme foi produzido em computação gráfica, do cenário à animação dos personagens. "Trabalhamos com o traço bem solto, sem muita preocupação com a simetria, inspirados no grafite. Os cenários têm uma série de referências a desenhos animados antigos, brincando com distorções de perspectivas e profundidade", explicou Podestá.

Sem diálogos, a sonoplastia segue a mesma textura dos cenários, misturando sons feitos com a boca, elementos e efeitos digitais. A trilha sonora foi feita com trompete, que marca o ritmo entre a melancolia e o humor.

Curta pioneiro

Berlinale 2013 Xe tải của bố Xe tai cua bo My Father's Truck
"O caminhão do meu pai" contou com uma equipe de profissionais do Brasil, Vietnã, EUA e TailândiaFoto: Berlinale 2013

O Caminhão do Meu Pai conta a história de uma menina vietnamita de dez anos que, após ter um dia ruim na escola, pede para passar o dia com seu pai, um caminhoneiro. Pelas estradas do Vietnã, ele transporta agricultores pelos campos de arroz. Ao descobrir que seu pai tem outras atividades, a menina também percebe que nem tudo na vida parece ser o que é.

O curta é a primeira coprodução entre o Brasil e o Vietnã e foi totalmente rodado no país asiático. O diretor e roteirista Mauricio Osaki contou com uma equipe de profissionais do Brasil, Vietnã, Estados Unidos e Tailândia, o que foi imprescindível para vencer o desafio de rodar com um elenco que falava apenas vietnamita.

A decisão de rodar no país surgiu da experiência que o diretor teve ao mudar para a Cingapura. Em uma visita ao Vietnã em 2011, ele encontrou similaridades com as memórias que tinha de sua infância no Brasil.

"Quando criança, costumava viajar de carro com meus pais e ficava fascinado pelo cenário cheio de vida, as pessoas e as histórias interessante que vinham à minha mente", disse o diretor. Sensação que ele teve ao dirigir pelas estradas e cidades do Vietnã.

Originalmente, o curta deveria contar a história de pai e filho. Osaki mudou de ideia quando conheceu a pequena Mai Vy, que unia a sensibilidade e força fundamentais para o papel. Uma mudança da qual o diretor não se arrepende.

Gente como a gente

Berlinale 2013 O Pacote
"O Pacote" aborda a dificuldade de se iniciar uma relação amorosa sob a sombra do vírus do HIVFoto: Berlinale 2013

A ideia para o curta O Pacote nasceu quando o diretor Rafael Aidar leu no jornal uma pesquisa do Ministério da Saúde que dizia que, mesmo com acesso a informação, o número de infectados com o HIV não parava de crescer, principalmente entre jovens gays. "Fiquei surpreendido e chocado com a banalização da doença", disse o diretor à DW Brasil. "Também conheço pessoas soropositivas e sei a angústia e o medo que é revelar sua condição."

Juntar um fato real com uma comoção pessoal é o que move O Pacote. "Não queria atingir a um só público, mas trazer uma mensagem universal de aceitação e tolerância, contando a história de maneira sutil, respeitosa e delicada", explicou o diretor. O curta se passa em um bairro da periferia de São Paulo, onde o jovem Leandro ingressa em uma nova escola. Logo ele conhece Jefferson. Os dois começam a ficar muito próximos até que decidem ficar juntos. A relação é posta à prova quando Jefferson revela que é HIV positivo.

O elenco, segundo o diretor, foi primordial para contar uma história que atingisse diferentes públicos, classes sociais e identidades sexuais. "Dois pontos muito trabalhados foram a construção dos personagens e a química entre eles. Um fato que colabora com a identificação do público: os atores têm cara de gente comum, que vemos na rua, no dia a dia. Pensei nisso desde sempre e me sinto abençoado pelo elenco incrível que atraí para o filme," disse Aidar.

O curta ainda não foi exibido no Brasil e tem sua estreia mundial na Berlinale. "Estamos motivados a desembrulhar O Pacote no mundo todo para compartilhar uma mensagem universal: não importa o pacote que cada um carrega. Todos nós temos o direito de amar e ser amados e nos sentirmos incluídos e aceito."

Autor: Marco Sanchez
Revisão: Francis França