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Israel tenta frear extremismo judaico

Peter Hille (mp)4 de agosto de 2015

Morte de bebê palestino em incêndio criminoso e de uma adolescente a facadas em parada gay choca o país. Governo promete combater toda forma de terrorismo, mas raízes do ódio a árabes e homossexuais são mais profundas.

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Foto: Reuters/A. O. Qusini

“A violência corrói a base da democracia israelense. Ela tem que ser condenada e isolada.” Pouco depois de o então primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin, dizer essas palavras, em novembro de 1995, ele foi assassinado a tiros pelo judeu radical ultraortodoxo Yigal Amir. O país entrou, então, numa crise profunda.

Hoje, muitos israelenses lembram daqueles dias, quando a divisão entre os extremistas de direita e os liberais se acentuou ao ponto de parecer intransponível. Na quinta-feira passada (30/07), um judeu ultraortodoxo esfaqueou participantes de uma parada gay em Jerusalém. Uma das vítimas, uma adolescente de 16 anos, não resistiu aos ferimentos e morreu.

Colonos judeus radicais são suspeitos de atearem fogo, também na semana passada, na casa de uma família palestina perto de Nablus, na Cisjordânia, matando uma criança pequena. O irmão e os pais dela ainda estão em estado crítico.

“Não há um único político em Israel em todo o espectro, da extrema esquerda à extrema direita, que apoie esses dois atos terríveis de assassinato”, afirma o sociólogo Gideon Aran, da Universidade Hebraica de Jerusalém.

Segundo Aran, mesmo assim há alguns políticos radicais de extrema direita que incitam o ódio com slogans racistas – contra árabes ou homossexuais, por exemplo. E nesse contexto, afirma o sociólogo, há uma afinidade quase involuntária com os políticos convencionais de direita mais sensíveis – inclusive dentro da coalizão que governa Israel.

Governo inclinado à direita

O governo atual de Israel inclina-se consideravelmente à direita como nenhum outro nos quase 70 anos de história do país. No domingo, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu anunciou que vai “lutar com todas a forças contra o fenômeno do ódio, fanatismo e terrorismo de qualquer lado”.

Mas ele também foi acusado de incitar subliminarmente o ressentimento contra os árabes. No dia da sua reeleição, em 17 de março, advertiu sobre a quantidade de árabes que “foram às urnas” e, posteriormente, enfrentou críticas internacionais por seus comentários.

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Polícia prende suspeito de atentado à parada gayFoto: picture-alliance/photoshot

Seus parceiros de coalizão, os ultranacionalistas do partido Lar Judaico, contudo, mantêm uma postura homofóbica e contra os árabes. A atual ministra da Justiça, Ayelet Shaked, causou furor internacional no ano passado quando se referiu às crianças palestinas como “pequenas cobras” em sua conta no Facebook e declarou que era justificado o bombardeio de civis.

O deputado Bezalel Smotrich, correligionário de Shaked, classificou a resposta da mídia israelense ao atentado na parada gay – ao qual ele chamou de uma "para da besta" – de “caça às bruxas bizarra e não democrática".

Ultraortodoxos divididos

Mesmo violentos, círculos ultrareligiosos condenam os ataques aos participantes da parada gay.

“Indivíduos radicais de direita no judaísmo ou em Israel fazem uma distinção muito clara entre cometer crimes contra judeus e não judeus”, diz o sociólogo Gideon Aran. “Muitos não cometeriam atos contra um judeu. Esta lei não escrita tem sido respeitada por anos.”

Por isso, o ataque à parada gay em Jerusalém dividiu os judeus ultraortodoxos haredi: “A maioria deles, contudo, condena os atos e se sente culpada e responsável, pelo menos de acordo com seus pronunciamentos públicos.”

Os colonos judeus ultranacionalistas compartilham da mesma visão. “A grande maioria condena o assassinato do bebê em Duma. Mas existem alguns aqui que apoiam quem cometeu os atentados.” Aran acredita que o movimento dos colonos será enfraquecido pela violência, uma vez que judeus de direita moderados podem se afastar.

Além disso, o governo israelense anunciou que vai reprimir o terrorismo palestino e judaico. A chamada "detenção administrativa", uma prática antes reservada para palestinos suspeitos de terrorismo, foi ampliada também para judeus. Ela permite que os suspeitos sejam detidos por tempo indeterminado sem uma acusação formal.