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"Israel ata as próprias mãos politicamente"

Kersten Knipp (ca)2 de julho de 2014

O ativista israelense Shir Hever vê o assassinato dos três adolescentes em conexão com a evolução no conflito do Oriente Médio: Israel tenta instrumentalizar politicamente o crime para fazer escalar a violência, acusa.

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Foto: Reuters

O economista Shir Hever é um ativista israelense. Ele se ocupa em especial dos aspectos econômicos da ocupação dos territórios palestinos por Israel, e trabalha para a organização palestino-israelense Alternative Information Center (AIC).

Em entrevista à Deutsche Welle, Hever diz temer que as mudanças táticas na política israelense em relação aos palestinos – após a morte dos jovensGilad Shaer, Naftali Frankel e Eyal Yifrach, sob circunstâncias ainda não esclarecidas – possam prejudicar ainda mais a reputação internacional de Israel, além de resultar em novas mortes e prisões. E aconselha os palestinos a procurarem agora o apoio da comunidade internacional.

DW: Na Cisjordânia, três jovens colonos israelenses foram assassinados. Como se explica esse crime?

Shir Hever: Na Cisjordânia reinam a ocupação e a violência. Não há somente a violência das tropas de ocupação, mas também, em direção inversa, a violência dos palestinos contra as forças de ocupação. Em tal situação, não é de admirar que se chegasse a esse assassinato. Não é a primeira vez que palestinos matam israelenses. No entanto, até agora foram mortos mais palestinos que israelenses.

Shir Hever israelischer Ökonom
Shir Hever aconselha palestinos a buscar contato com comunidade internacionalFoto: privat

Após o desaparecimento dos três adolescentes, o Exército israelense avançou sobre a Cisjordânia. Essa medida é justificada pela obrigação que Israel tem, de salvar a vida de seus cidadãos?

O Estado israelense tem o compromisso de proteger seus cidadãos. Também por esse motivo o direito internacional proíbe que uma potência ocupadora promova o assentamento de civis nos territórios ocupados. Meses atrás, o chefe da polícia secreta israelense já havia expressado o temor de que cidadãos israelenses pudessem ser raptados na Cisjordânia. Ainda assim, o governo israelense se recusou a libertar prisioneiros palestinos.

A invasão militar da Cisjordânia não foi uma busca sistemática aos três israelenses desaparecidos, mas um ato de punição. Os militares avançaram sobre todas as grandes cidades. Centenas de palestinos foram presos, suas propriedades foram danificadas, sete pessoas foram mortas. Se o governo israelense queria proteger os seus cidadãos, então por que utilizou o desaparecimento como pretexto para atacar a Autoridade Palestina?

Pode-se realmente afirmar que se trata de uma agressão? Afinal de contas, houve três mortes.

Depois que os três israelenses desapareceram, o presidente palestino, Mahmoud Abbas, condenou o suposto sequestro e expressou sua esperança de que os adolescentes fossem encontrados em breve. Apesar disso, o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, mandou atacar a Cisjordânia. Depois que sete palestinos foram mortos nessa operação, Abbas exigiu que Netanyahu se manifestasse sobre as vítimas. Netanyahu se recusou, alegando que teriam sido mortas no contexto da autodefesa israelense. Isso mostra que se trata de uma agressão israelense contra os palestinos.

Além disso, até hoje falta qualquer evidência para atribuir o crime ao Hamas. A acusação tem por finalidade preparar a opinião pública israelense e internacional para uma ofensiva militar contra a Faixa de Gaza. Paralelamente, Netanyahu aproveita essa acusação para reverter a formação de um governo palestino de unidade. Ao mesmo tempo, pretende fazer a violência escalar de tal forma que a imagem dos palestinos perante a opinião pública internacional fique prejudicada. Tudo isso ele faz, embora até hoje o Hamas não tenha assumido a autoria dos assassinatos. Pelo contrário, o grupo nega qualquer envolvimento.

Você mencionou o governo palestino de unidade. Por que ele é rejeitado pelos israelenses?

Trata-se de uma estratégia israelense muito antiga: dividir para conquistar. Na Faixa de Gaza, os palestinos são mantidos como numa prisão, até mesmo os alimentos são racionados por Israel. E os palestinos na Cisjordânia estão sempre sob a ameaça de ter que viver sob as mesmas condições que os d de Gaza, se não obedecerem aos israelenses e ficarem quietos.

Isso permite a Israel semear o medo entre os palestinos. Porém se estes se unem com o objetivo comum de acabar com a ocupação e conquistar sua liberdade, isso deixa Israel bastante preocupado. Por isso tenta-se impedir a formação desse governo.

Como vê a última ação de Israel? Existem diferenças em relação aos procedimentos anteriores?

Sim. Desde que os três colonos desapareceram, apresentam-se mudanças táticas muito perigosas. O governo israelense sempre se mostrou disposto a agir com violência contra os palestinos. Ele faz ameaças e acusações sem ter provas. Mas agora o governo deixa a violência escalar de tal forma que a situação pode sair do controle.

Nesta terça-feira [01/07], em Jerusalém, palestinos foram atacados por jovens israelenses violentos, sem que a polícia interviesse. O governo também deixa que isso aconteça. O resultado disso é que ele perde cada vez mais a capacidade de ação política.

De que maneira?

Vê-se isso, por exemplo, nas leis para os prisioneiros palestinos. Foi aprovada uma lei que proíbe o governo de libertar prisioneiros que sejam declarados ameaça à segurança de Israel. Naturalmente isso se refere a detentos palestinos. A lei visa impedir futuras trocas de prisioneiros. Quando, por iniciativa própria, o governo se ata as mãos para fazer escalar o conflito, isso é muito perigoso. Eu temo que essa política vá fazer a reputação internacional de Israel cair ainda mais. Mas, acima de tudo, ela poderá acarretar mais mortos e prisioneiros.

Como os palestinos poderiam responder agora?

O governo de Mahmoud Abbas foi fortemente criticado pelos próprios palestinos. Eles o acusam de cooperar com os ocupadores. Nos últimos meses, especialmente após o fracasso das negociações de paz, Abbas se comportou de forma politicamente muito inteligente – por exemplo, condenando publicamente o Holocausto. Por sua política, ele recebeu muito apoio internacional.

Mas agora ele se encontra numa situação bem difícil. Pois, ao invadir a Cisjordânia, os israelenses instaram a Autoridade Palestina à cooperação: Abbas foi obrigado a ajudar Israel a atacar o próprio povo dele. Ao mesmo tempo, membros do gabinete israelense acusaram Abbas de ser responsável pelo sequestro e assassinato dos três colonos. Isso o coloca numa situação muito difícil. O mais sábio para os palestinos seria agora buscar contato com a comunidade internacional. Pois essa é a única coisa que poderia protegê-los.