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Irã entre euforia e cautela na era pós-sanções

Shora Azarnoush e Loveday Wright (md)25 de janeiro de 2016

Presidente iraniano inicia giro pela Europa em busca de fortalecer economia. Mas após entrada em vigor do acordo nuclear, será necessário tempo até que país esteja pronto para fazer negócios em escala internacional.

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Foto: picture alliance/dpa/A. Taherkenareh

O presidente iraniano, Hassan Rouhani, começou nesta segunda-feira (25/01) uma viagem de quatro dias pela Europa – a primeira dele ao continente desde que a União Europeia e os Estados Unidos suspenderam as sanções à República Islâmica.

Durante anos, o Irã vinha lutando contra o impacto dessas sanções, impostas numa tentativa de impedir que Teerã desenvolva uma bomba atômica. Com as principais retaliações agora suspensas, há entusiasmo entre potenciais investidores e empresas iranianas sobre uma nova abertura do mercado.

"A economia do Irã desaqueceu tanto, devido às sanções e a outros problemas, que qualquer abertura, não importa o quão pequena, vai fazer uma diferença positiva", avalia Farhad Alavi, advogado irano-americano e sócio-gerente do Akrivis Law Group, sediado em Washington e especializado em leis de sanções comerciais. "Há muita euforia em torno do assunto, mas vai demorar um pouco até nós testemunharmos uma mudança real na situação econômica e comercial do Irã."

No papel, o Irã é, em muitos aspectos, o sonho de um investidor. Com a segunda maior população no Oriente Médio, depois do Egito, o país oferece um enorme mercado potencial.

Além da riqueza de recursos naturais, possui uma força de trabalho jovem, com experiência em computação e altamente bem formada. De acordo com estimativas do Banco Mundial, o Irã tem o segundo maior número de usuários de internet na região, apenas atrás da vizinha Turquia.

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Cerca de 60% da população iraniana têm menos de 30 anosFoto: MEHR

No entanto, as pobres opções de transporte e de alojamento representam um problema para os investidores internacionais, assim como a complexa estrutura econômica do país – com grandes partes da economia nas mãos do governo.

A suspensão das sanções não vai resolver automaticamente problemas locais, como a corrupção e a falta de transparência da legislação – fatores que terão de ser resolvidos, se o governo iraniano quiser cumprir sua meta ambiciosa de 8% de crescimento anual para os próximos cinco anos.

Desafios financeiros e políticos

"O Irã não tem praticamente dívida externa alguma. Por isso, o país é um cliente dos sonhos para os bancos internacionais", afirma Michael Tockuss, diretor executivo da Câmara de Comércio Alemanha-Irã, em um comunicado de imprensa.

Mas é o setor bancário que representa um dos maiores desafios para o comércio internacional. Após o acordo nuclear, o Departamento de Tesouro dos EUA emitiu orientações lembrando os americanos de que "pessoas americanas – incluindo empresas dos EUA – continuam amplamente proibidas de participarem de operações ou negócios com o Irã ou com seu governo".

Isso também significa que a utilização de serviços de pagamento baseados nos Estados Unidos – seja cartões de crédito ou serviços online como o PayPal – não serão, na maioria dos casos, uma opção ao se negociar com o Irã.

"Os bancos ainda não se sentem seguros o suficiente para voltarem ao Irã, por causa tanto da ambiguidade da lei como da instabilidade da situação", diz o advogado irano-americano Alavi, que tem recebido uma enxurrada de perguntas sobre como fazer negócios no Irã desde o acordo histórico.

As tensões políticas também são um problema. "E se o atual rumo político entre os dois países sofrer uma reviravolta após as eleições presidenciais dos EUA?", questiona Alavi. O Partido Republicano, que controla o Congresso dos Estados Unidos, se opôs ferozmente ao acordo.

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Irã e EUA têm tido relações difíceis há mais de 60 anosFoto: Linda Dorigo/Transterra Media

Mas de acordo com a agência de notícias Reuters, os bancos internacionais estão se preparando para restabelecer os laços com os seus homólogos iranianos, usando o sistema de transações europeu Swift. Mas é provável que leve pelo menos duas semanas até serem criadas as conexões que darão aos credores iranianos acesso ao mundo bancário mundial pela primeira vez, desde que restrições financeiras internacionais foram impostas, em 2012.

Novas oportunidades, novas ambições

Na Alemanha, há um grande entusiasmo sobre a possibilidade de uma retomada do comércio entre os dois países, que já foi muito forte. Antes das sanções, a Alemanha era o segundo maior parceiro comercial do Irã, depois dos Emirados Árabes Unidos, de acordo com a Câmara de Comércio e Indústria iraniana.

Mas quando a UE concordou com as sanções, e a Alemanha se retirou, a China logo preencheu a lacuna no mercado iraniano. Hoje, o maior exportador na Europa terá de competir com os baixos preços oferecidos pelos chineses indianos para reconquistar seu lugar.

Ainda assim, a Confederação Alemã das Câmaras de Indústria e Comércio (DIHK) espera que as exportações para o Irã aumentem para 5 bilhões de euros (US $ 5,4 bilhões) nos próximos anos. A DIHK acredita, ainda, que, a longo prazo, este valor seja dobrado.

Iran Deutschland Beziehungen Bundeswirtschaftsminister Sigmar Gabriel
Ministro alemão da Economia, Sigmar Gabriel, foi o primeiro político ocidental a ir ao Irã após o acordo nuclearFoto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler

Por sua parte, Rohani visa impulsionar o setor privado, atraindo anualmente cerca de 50 bilhões de dólares em investimentos estrangeiros. No entanto, alguns estão preocupados que as ambições do Irã estejam em desacordo com as dos seus potenciais parceiros no exterior.

"A Alemanha está colocando mais esforços na exportação de mercadorias para o Irã do que em investir em produção dentro do país", ressalta Golverdi Golestani, um empresário baseado em Teerã e ex-presidente da associação de fabricantes de autopeças do país. "Já o Irã está ansioso para expandir a produção doméstica, para criar empregos para seus jovens e polir sua própria indústria."

Para o advogado Alavi, isso também é uma questão de tempo. "A lei pode mudar da noite para o dia, mas teremos de esperar por pelo menos mais dois anos ou mais – no melhor dos casos – para que ocorra uma implementação real", afirma.

Por agora, quem quiser fazer negócios com o Irã terá que agir com cuidado e ser paciente. Mas, apesar das dificuldades de ordem prática, os efeitos psicológicos positivos da suspensão das sanções são significativos.