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Interpol arma-se contra bioterrorismo

Ingun Arnold/rr2 de março de 2005

Em conferência na França, policiais de 120 países discutem ameaças reais e imaginárias de ataques com armas biológicas. Especialista alemão critica sensacionalismo da imprensa ao tratar do assunto.

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Armas biológicas ocupam terceira posição na lista das maiores ameaças biológicasFoto: AP

O bioterrorismo pressupõe duas condições: uma quantidade suficiente de vírus e bactérias fatais, realmente eficazes, se utilizadas em grande escala, e o desejo de matar um grande número de pessoas. Um cenário um tanto irreal.

"Armas biológicas precisam ter força de penetração – tanto psicológica quanto econômica e militarmente. Mas isso elas não têm", argumenta o professor Sucharit Bhakdi, diretor do Instituto de Microbiologia Medicinal e Higiene da Universidade de Mainz. Ele adverte que freqüentemente os meios de comunicação exageram ao abordarem a suposta ameça do terrorismo biológico.

Bhakdi salienta que os perigos não raramente são "fictícios" ou supervalorizados "pela mídia e pela opinião pública". Um exemplo seria o antrax, encontrado em diversas cartas enviadas nos Estados Unidos: cinco pessoas morreram vítimas de infecção pulmonar, mas 12 ou 13 foram curadas. A variante cutânea, que não mata, foi registrada entre 20 e 30 pessoas, e entre 50 e 100 pessoas se contaminaram com a bactéria, sem, no entanto, manifestar sintomas de doença. Isso seria muito pouco para "uma ameaça séria".

Mas a Interpol – Organização Internacional de Polícia Criminal – vê a coisa com outros olhos. "Desde os ataques com antrax nos EUA, sabemos que uma quantidade pequena de material biológico pode ter conseqüências globais", explicou o secretário-geral da organização, Ronald Noble. Por isso, foi criada uma divisão de bioterrorismo e organizada uma conferência internacional, que acontece nesta terça e quarta-feira (01 e 02/03) na cidade francesa de Lyon. Dela participam mais de 400 delegações, formadas por policiais de alto escalão de 120 países.

Só grandes quantidades são perigosas

Mas micróbios poderosos, capazes de se espalhar com a rapidez necessária e provocar doenças fatais, são difíceis de se obter. A maioria não é adequada para armas biológicas, nem mesmo o antrax. E desenvolvê-los não é tarefa que qualquer um possa fazer na garagem de casa. "Criar esporos do antrax capazes de serem usados como arma de guerra requer conhecimento científico e equipamento especial, como provavelmente apenas os americanos possuem", argumenta Bhakdi.

Bioterror
Foto: AP

Além do mais, o desenvolvimento de vírus e bactérias para armas de guerra foi proibido pela Convenção de Armas Biológicas de 1972, de modo que o fornecimento de micróbios para fins científicos é severamente controlado: apenas laboratórios científicos reconhecidos obtêm acesso a eles após um rígido controle.

O maior problema é conseguir integrar tais micróbios na indústria armamentista. No caso do antrax, por exemplo, a dose mínima necessária para que uma pessoa se infecte pelos pulmões é relativamente alta – são necessários entre oito mil e 50 mil bacilos. "Em comparação a outras armas químicas, o antrax é uma arma inútil", disse Bhakdi. Se as bactérias fossem espalhadas sobre um grande território, bastaria um vento para acabar com os planos.

No momento, a maior ameaça continua sendo o vírus da varíola, o único que nunca foi considerado internacionalmente exterminado. Ele é altamente contagioso e a maioria das pessoas com menos de 30 anos não foi vacinada. Mas Bahkdi julga desnecessário armazenar a vacina. "A Alemanha guardou 100 milhões de doses em um local secreto", conta, "o que custa meio milhão de euros". Para ele, a verba poderia ter sido utilizada de maneira mais sensata, pois "também se pode proteger até a falência".

Interpol treinará policiais e médicos

Hoje em dia, só é possível comprovar a contaminação com tais micróbios em laboratório. Ainda não há equipamentos portáteis e médicos e enfermeiros ainda precisam ser treinados para poder reconhecer, sistematizar e tratar sintomas anormais. Além disso, seria preciso desenvolver uma eficiente rede de informações com um banco de dados central.

"Devemos liberar nossas fantasias e nos prepararmos para todo o possível", esclareceu Noble. Nos próximos anos, a Interpol organizará três workshops para treinar policiais e médicos em conjunto. O primeiro está planejado para acontecer ainda este ano na África do Sul. O segundo será um ano mais tarde no Chile e o terceiro, na China.

Armas biológicas não são maior problema

Apesar de tanto medo e dos muitos perigos, armas biológicas ocupam apenas a terceira posição da lista das maiores ameaças biológicas – sejam elas fruto de programas nacionais de desenvolvimento armamentista ou montadas por terroristas em garagens clandestinas. "O que está se criando é um cenário ameaçador baseado na ignorância das pessoas", argumenta Bhakdi.

A primeira posição da lista é ocupada por gripes pandêmicas e pela Aids, que já causou 22 milhões de mortes em todo o mundo. Em segundo lugar, estão doenças altamente contagiosas e que ressurgem de tempos em tempos, como a causada pelo vírus ebola, assim como casos de sabotagem industrial ou acidentes de laboratórios, nos quais germes desaparecem, e a resistência crescente da população mundial contra antibióticos.