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Influência de imigrantes modifica idioma alemão

28 de julho de 2012

Linguistas confirmam que erros de estrangeiros simplificam o idioma. Analistas mais conservadores condenam "visão positiva" sobre mudanças na lingua, mas processo estaria acontecendo há séculos.

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Teilnehmer von einem Integrationskurs "Deutsch als Fremdsprache" Intensiv 1 an der Volkshochschule Leipzig erhalten von Dozentin Katrin Rosjat (l) nach erfolreichen Abschluß der ersten 200 Unterrichtsstunden die Teilnahmebestätigung, aufgenommen am 11.11.2010. Der vom Bundesamt für Migration und Flüchtlinge (BAMF) geförderte Kurs gehört zu drei Leistungsstufen mit insgesamt 645 Stunden, die von den ausländischen Teilnehmern innerhalb eines Jahres absolviert werden können. Deutschlandweit nehmen gegenwärtig 140.000 Menschen an rund 16.000 Intergrationskursen teil. Tausende weitere Personen warten zur Zeit auf eine Teilnahme. Foto: Waltraud Grubitzsch
Foto: picture-alliance/ZB

Leipzig é um bom lugar para encontrar o professor Uwe Hinrichs, que dá aulas na universidade local sobre o alemão como língua materna. Ou, para ser mais exato: sobre a influência dos diferentes idiomas sobre o alemão. Por outro lado, a cidade no leste do país é, antes de tudo, um local pouco apropriado para tais estudos, pois lá falta um elemento básico para Hinrichs: imigrantes.

Na chamada "minimetrópole saxônica", a quota de estrangeiros em relação ao total da população está abaixo de 10%, muito menos do que nos grandes centros multiculturais do país, como Berlim, Hamburgo, Munique, Frankfurt, Mannheim ou Düsseldorf. Por sorte, o linguista mora na capital, e lá pode realizar suas pesquisas.

Nominativo, genitivo, dativo ou acusativo?

Sua teoria é: ao aprender alemão, é quase inevitável os estrangeiros cometerem erros, pois se trata de um idioma difícil. Com o passar do tempo, os nativos assimilam lentamente esses erros à sua prática de comunicação, e a língua alemã se modifica. Isso afeta, sobretudo, a linguagem coloquial, e não tanto o alemão escrito.

Uwe Hinrichs, professor da Universidade de Leipzig
Uwe Hinrichs, professor da Universidade de LeipzigFoto: Uwe Hinrichs

O primeiro obstáculo, mesmo para numerosos alemães, sãos os quatro casos gramaticais – nominativo, genitivo, dativo e acusativo. Ou seja: de acordo com sua função sintática dentro da oração – se são sujeito, objeto direto ou indireto, etc. – os pronomes, adjetivos e alguns substantivos recebem um sufixo distintivo.

Com a repetição dos erros no dia-a-dia, explica Hinrichs, a troca de um caso pelo outro se estabelece como regra ou eles vão caindo em desuso, sendo substituídos por preposições. A grande dificuldade para os imigrantes no emprego dos casos gramaticais é o choque com as características de suas línguas maternas: nem o português, inglês ou francês conhecem esse tipo de estrutura, por exemplo.

No Leste e Sudeste europeu, em contrapartida, há uma abundância de casos: o russo possui seis, o polonês, croata e eslovaco, sete. Outro campo problemático são os artigos, pois a maioria das línguas dos imigrantes não os possuem. "Muito dizem: 'Eu compro carro', ou 'Ele está correndo o perigo'", exemplifica Hinrichs.

De uma língua para a outra

Fonte de confusão é também o assim chamado code switching, quando imigrantes simplesmente misturam dois idiomas, por vezes até mesmo dentro de uma mesma frase. Exemplo: Doktor bugün Röntgenbilder’lere bakmamış– mistura de turco e alemão significando, literalmente, "Doutor hoje os raios X provavelmente nem viu".

"Esse switching se estabeleceu em metrópoles como Mannheim, Frankfurt, Düsseldorf. É uma marca registrada de grupos jovens que passam do alemão para o turco, ou para o russo. Quanto mais bilíngue o código, maior o número de erros gramaticais", explica o pesquisador.

Outros linguistas alemães também observam essa tendência. Harald Haarmann, que vive e atua na Finlândia, já publicou mais de 40 livros sobre o desenvolvimento dos idiomas, a história da escrita e sobre influências culturais na evolução linguística. Ele confirma a tese de seu colega de Leipzig.

"Faz sentido procurar a fonte para a mudança na prática linguística entre os falantes de origem estrangeira, Os hábitos linguísticos desembocam por um determinado canal na linguagem coloquial. Um exemplo é o kanakendeutsch ["alemão de gringo"], originalmente falado pelos imigrantes dos Bálcãs e da Turquia."

Essa linguagem viveu seu ápice na década de 1990, sendo crescentemente cultivada nos pátios de escola, também pelas crianças alemãs. "A educação escolar pode certamente oferecer uma resistência, mas a pressão externa da comunidade acaba sendo mais forte", considera Haarmann.

"Traidor da pátria"

No início de 2012, Uwe Hinrichs expôs suas teorias na conceituada revista der Spiegel, sendo imediatamente atacado. Os "defensores do Santo Graal" do idioma gemânico o tacharam de traidor da pátria, que entregava o alemão nas mãos da decadência. Outros o apresentaram como linguista de esquerda, que "traçava o quadro embelezado da fantástica Alemanha multicultural".

"Ambas as alegações são bobagem", rebate o professor de Leipzig, afirmando que só pretende refletir a realidade. "Os alemães precisam encarar os efeitos da imigração de forma diversa e mais intensa do que como vêm fazendo. Só agora se começa lentamente a perceber que também há um aspecto linguístico", argumenta Hinrichs.

Nunca um idioma pôde se manter imune à confluência de vários outros idiomas, sem que houvesse mudanças linguísticas abrangentes. "Isso aconteceu no Império Romano, Inglaterra e nos Bálcãs. Por que seria diferente no caso do alemão?"

Diferentes origens, um idioma principal
Diferentes origens, um idioma principalFoto: picture-alliance/chromorange

A caminho de um alemão mais fácil?

Haarmann comenta que os "defensores do Graal" estão "sempre fixados numa determinada fase da evolução", toda transformação é fonte de apreensão para eles, que deixam de ver os aspectos positivos. E, no entanto, o contato com representantes de diferentes culturas e línguas pode ser "fonte de mobilização de forças criativas na criação cultural", afirma.

"Não se deve ficar escutando os sapos da lagoa, que ficam resmungando, reclamando dos problemas instransponíveis com os estrangeiros, profetizando a decadência da cultura linguística germânica. Sapos não têm senso de perspectiva", critica o pesquisador.

Haarmann insiste que muito mais importante é ver os contatos culturais e o enriquecimento da própria língua com um potencial a ser empregado de forma produtiva. Nenhum idioma consegue passar sem modernização.

Hinrichs também fala de uma dinâmica natural. "Aquilo de que não precisamos indispensavelmente, deixamos de lado em algum momento", diz. A grande vantagem é que o alemão vai se simplificando estruturalmente, aproximando-se do francês, inglês e holandês.

"Quem tiver que aprender alemão daqui a 30, 40 anos, provavelmente não terá que se aborrecer com todos esses casos gramaticais." Uma visão que agrada possivelmente aos imigrantes, mas também a um ou outro aluno alemão.

Autoria: Ronny Arnold (av)
Revisão: Marcio Pessôa