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Individualismo dificulta reforma política, diz brasilianista

Clarissa Neher de Oxford
15 de maio de 2017

Em debate ao lado de Jacques Wagner e Ciro Gomes, cientista político Timothy Power afirma que mentalidade dos parlamentares deve impedir reforma ideal, que incluiria mudanças como lista fechada e fim do cargo de vice.

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Timothy Power
Timothy Power no Brazil Forum, em OxfordFoto: Cynthia Vanzella/Divulgacao Brazil Forum

Ao abordarem o futuro da democracia após o impeachment e a Operação Lava Jato, a maioria dos participantes da última mesa de debate da conferência Brazil Forum, em Oxford, defendeu neste domingo (14/05) a necessidade de uma reforma política no Brasil.

Na opinião do diretor do Programa de Estudos Brasileiros da Universidade de Oxford, Timothy Power, a reforma ideal deveria acabar com os cargos de vice e estabelecer o financiamento público de campanha e a lista fechada – com voto focado em partidos, e não em candidatos –, a coincidência de todas as eleições e a paridade de gênero. O cientista político destacou, porém, que a mentalidade individualista que impera entre parlamentares deve impedir que tal reforma aconteça.

Leia mais: Entenda os principais pontos da reforma política

De acordo com Power, uma pesquisa que ele realiza com parlamentares eleitos no Brasil desde a década de 1990 mostrou, numa tendência constante, que 80% dos deputados e senadores eleitos consideram ser os responsáveis pela própria eleição, dando pouca importância aos partidos.

Power defendeu ainda o fortalecimento do presidencialismo de coalizão no Brasil, com o objetivo de facilitar a coordenação política o máximo possível.

Reforma semelhante à ideal apresentada por Power foi respalda por Jaques Wagner, ex-ministro da Casa Civil. Para o petista, uma mudança no sistema deve acabar com a coligação proporcional e com a propaganda eleitoral continuada na televisão, assim como ampliar o mandato para cinco anos, além de extinguir o cargo de vice.

"Vice só serve para tramar. Vice é gasto de dinheiro, fórum de intriga e de constituição de golpe", disse, ressaltando que, com as tecnologias que permitem o deslocamento rápido pelo mundo, não haveria mais a necessidade de alguém para substituir o eleito para o cargo. O ex-ministro admitiu que o PT falhou ao não fazer uma proposta de reforma política em 2013.

Ameaça à democracia

Wagner destacou que há uma ameaça ao futuro da democracia no mundo inteiro, causada pela discrepância social. "Não existe democracia formal e institucional se a democracia social e o acesso à prosperidade não acontecer", destacou.

O ex-ministro defendeu o voto popular. "Democracia é voto na urna, com erros ou acertos, a população corrige, as pessoas sabem escolher. Podemos não gostar da sua escolha."

Além de Power e Wagner, o ex-governador do Ceará Ciro Gomes também participou do debate, defendendo uma maior responsabilização do Congresso. "Temos um órgão que detém o monopólio do desenho institucional do país e não tem nenhuma responsabilidade pela sanidade dos negócios do Estado e a qualidade do viver da sociedade e das políticas públicas", acrescentou.

O ex-governador defendeu ainda mais participação da população na política com a realização de plebiscitos e referendos. "No Brasil, se inventou que plebiscito e referendo são chavismo. A elite é que é egoísta e acha que consultar o povo é chavismo", ressaltou.