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Ikea prepara chegada ao Brasil e pegará mercado difícil

Fernando Caulyt15 de novembro de 2013

Gigante moveleira estuda mercado desde 2009 e deve desembarcar em breve no país. Com um mercado competitivo, caos tributário e dificuldades logísticas, Brasil vai ser prova de fogo para o modelo de negócios dos suecos.

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Foto: picture alliance / dpa

Um dos maiores players mundiais do setor de móveis e decoração e conhecida pelo design arrojado e preços baixos, a sueca Ikea está prestes a desembarcar no Brasil. Mas, mesmo sendo um dos pesos pesados mundiais, a empresa deverá encontrar algumas dificuldades no país, como um mercado competitivo, e terá que mostrar diferenciais para conquistar o consumidor brasileiro.

De cabides para roupas e utensílios domésticos a dormitórios ou cozinhas completas, as 345 lojas da rede espalhadas por 42 países são um "parque de diversões" para o cliente, que nelas consegue encontrar tudo o que precisa para montar ou arrumar a casa. E é com esse modelo de negócios que a empresa pretende conquistar os brasileiros.

"O mercado é muito pulverizado, com inúmeras indústrias pequenas e médias e incontáveis varejistas especializados escoando a produção, o que configura uma intricada e complexa rede, na qual um grande grupo terá alguma dificuldade para penetrar", opina Job Rodrigues, gerente do Departamento de Bens de Consumo, Comércio e Serviços do BNDES.

Para Rodrigues, o mercado brasileiro não tem muita "gordura para queimar" quanto o assunto é preço – nesse ponto, a competição está esgotada. O desafio é competir nos quesitos diferenciação e segmentação sem desrespeitar os rígidos limites de preço impostos pelo mercado.

"Poder de fogo"

A Ikea se tornou um gigante oferecendo o famoso design escandinavo a preços baixos. Somente no ano fiscal de 2013, encerrado em agosto, o grupo faturou 29,2 bilhões de euros pelo mundo. O maior crescimento no ano fiscal de 2012 foi registrado em países como China, Rússia e Polônia. E, por causa desse sucesso em países emergentes, a empresa deverá apostar alto no Brasil, onde já possui um escritório desde 2009 em Curitiba.

Ikea (Hofheim-Wallau)
Móveis com os típicos nomes suecos numa loja da IkeaFoto: picture-alliance/dpa

Exatamente por possuir esse poder de fogo, com centenas de lojas e fornecedores espalhados pelo mundo, há o receio de que a empresa pressione os preços dos fornecedores e lojistas brasileiros ainda mais para baixo, mesmo que analistas digam não haver mais espaço para isso.

"É preocupante porque haverá um nivelamento de preços para baixo e, no Brasil, com o alto custo de produção, devido a problemas de logística e impostos nas alturas, isso deverá desencadear uma série de medidas com ações junto ao governo federal para a indústria poder investir em capital humano, infraestrutura, tecnologia e inovação fabril", afirma Osni Verona, presidente da Associação dos Moveleiros do Oeste de Santa Catarina (Amoesc) e do Sindicato das Indústrias Madereiras e Similares do Vale do Uruguai (Simovale).

Por meio de sua assessoria de imprensa, a empresa sueca informou que o grupo considera o Brasil como um possível mercado e que ainda realiza estudos preliminares, mas prefere não informar maiores detalhes estratégicos, tais como data de inauguração e localização da primeira loja.

Alvo nas classes média e baixa

O mercado aposta que o principal foco da rede de móveis deverá estar nas classes média e baixa, já que a empresa sueca busca no Brasil fornecedores que possam produzir barato e em grande escala.

"Para os consumidores de móveis, essa é uma oportunidade de ter acesso a produtos alinhados às tendências mundiais de consumo", afirma Ivo Cansan, presidente da Associação da Indústria de Móveis do Rio Grande do Sul (Movergs). "A nova classe C terá mais oportunidades de adquirir mobiliário com padrões internacionais e fabricados pela nossa indústria."

Ikea Filiale Frankreich
Lojas enormes com amplo espaço para estacionamento fazem parte do modelo dos suecosFoto: AP

Até o momento, a Ikea fechou contrato com quatro fornecedores de Santa Catarina e um do Rio Grande do Sul, cujos móveis – produzidos com madeiras de pinus e eucalipto – são exportados para mercados já atendidos pela marca sueca. A criação de uma rede local de fornecedores é um dos primeiros passos da empresa para planejar a abertura de lojas no país, o que não deverá demorar muito para acontecer.

Quanto aos lojistas, a expectativa do mercado é que os grandes magazines – como Ponto Frio, Ricardo Eletro, Insinuante e Casas Bahia, que geralmente apresentam produtos de ponta, preços acessíveis e financiamento a longo prazo – sejam os principais concorrentes da Ikea no Brasil.

"O mercado brasileiro está em crescimento constante. Portanto, temos sempre oportunidade para novos empreendimentos", diz Lipel Custódio, diretor da Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimóvel). "Acreditamos que toda concorrência é muito saudável e, por isso, a Ikea poderá estimular e aquecer a concorrência nacional."

Modelo empresarial à prova

O modelo de negócios da Ikea deverá ser colocado à prova no Brasil e a conquista dos brasileiros promete ser difícil. Nos países onde opera, a empresa sueca é conhecida por vender móveis desmontados, que devem ser transportados e montados pelo próprio cliente. Entrega e montagem pela empresa são possíveis, mas têm custo adicional. Esse modelo destoa da tradicional entrega e montagem do produto na residência, que é considerada um grande valor do varejo brasileiro.

A empresa também deverá ter dificuldades para achar terrenos com boa localização em grandes e médias cidades brasileiras para a construção de suas enormes lojas. Elas sempre ficam próximas a rodovias, o que facilita a logística da empresa e o acesso dos clientes.

"Talvez não seja tão fácil encontrar um terreno nas características desejadas pela empresa numa grande cidade como São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Belo Horizonte. Há um investimento considerável nesta operação", afirma Marcelo Prado, diretor do Instituto de Estudos e Marketing Industrial (Iemi).

Bildergalerie IKEA Weltweit China
Filial da Ikea na China: rede de lojas sueca faturou 29,2 bilhões de euros no ano fiscal de 2013Foto: AP

Outro ponto preocupante é a legislação tributária brasileira, uma das mais complexas do mundo. "O caos tributário que vivemos está espantando a maioria das redes de varejo, como a H&M [rede sueca de lojas de roupas], que estuda o mercado, se encanta e depois se ilude."

Para Rodrigues, do BNDES, a empresa não deve demorar para perceber as dificuldades, o que inclui a resistência dos brasileiros a compras sem uma boa solução de frete e montagem. "Isso pode ser até tolerado por consumidores das classes C e D, mas só sob condições especiais de preço."