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Literatura

Homenagem à escritora Christa Reinig

Ricardo Domeneck
20 de fevereiro de 2018

Você já ouviu falar da berlinense Christa Reinig? Não se preocupe. Mesmo entre os alemães ela é pouco conhecida. Colunista Ricardo Domeneck presta pequena homenagem à autora e explica por que ela deveria ser mais lida.

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Schriftstellerin Christa Reinig
Christa Reinig viveu na Alemanha Oriental, mas não demorou para entrar em conflito com o regime comunistaFoto: picture-alliance/dpa/DB

Depois de conhecermos os escritores mais famosos de um país, é sempre um prazer se lançar à caça daqueles pequenos tesouros que muitas vezes ficam escondidos em sebos. No Brasil, após ler os maiores romances de João Guimarães Rosa, Clarice Lispector ou Graciliano Ramos, foi um prazer ir descobrindo autores através de amigos ou empoeirados a esmo por livrarias, como estavam na década de 1990 os livros de Hilda Hilst, Lúcio Cardoso ou Manoel Carlos Karam.

Tenho tido ótimas descobertas aqui na Alemanha nos últimos tempos, e já comentei aqui o trabalho de Horst Bienek, por exemplo. Outra excelente descoberta foi Christa Reinig (1926-2008). Ela não é completamente desconhecida, e seu trabalho pode ser encontrado em antologias. A autora viveu na Alemanha Oriental, onde teve seu trabalho encorajado por Bertolt Brecht, mas não demorou para que ela entrasse em conflito com o regime comunista do país. Em 1964, após ter sua viagem negada vários vezes, a autora conseguiu ir a Bremen para receber o Bremer Literaturpreis (Prêmio de Literatura de Bremen). A autora não retornaria à Alemanha Oriental, estabelecendo-se em Munique.

Várias publicações seguiram-se então em seu novo país, a Alemanha Ocidental. Romances, contos, ensaios, poemas. Os primeiros que li parecem-me algo único na poesia alemã: poemas curtos, diretos e sardônicos. Alguns são como entradas em um diário:

Montag

Meine durstigen Finger

baden in deinem Haar

ziehen überflüssige sheitel

als wären da läuse

Segunda-feira

Meus dedos sedentos

banham-se no seu cabelo

repartem a esmo os fios

como se houvesse lêndeas

São textos líricos, mas com aquela dose de humor que encontramos em poetas brasileiros como Oswald de Andrade ou Angélica Freitas. Soa tudo tão próximo e familiar. Fiquei me perguntando se seria justamente este humor o que incomoda os alemães? Será o fato de vir de uma mulher, e lésbica? Afinal, este lirismo com dose de sátira pode ser encontrado em homens como Bertolt Brecht e Thomas Brasch. Não importa. Eu pretendo seguir lendo Christa Reinig. E recomendo seus poemas minimalistas e fortes, até mesmo para os que estão aprendendo alemão.

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Na coluna  Bibliothek, publicada às terças-feiras, o escritor Ricardo Domeneck discute a produção literária em língua alemã, fala sobre livros recentes e antigos, faz recomendações de leitura e, de vez em quando, algumas incursões à relação literária entre o alemão e o português. A coluna Bibliothek sucede o Blog Contra a Capa.

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