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Herói de "Hotel Ruanda" condenado a 25 anos de prisão

20 de setembro de 2021

Retratado em filme hollywoodiano em 2004, ex-hoteleiro Paul Rusesabagina salvou centenas de vidas durante o genocídio de Ruanda. Após prisão irregular, foi sentenciado por suposto envolvimento com atividades terroristas.

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Ativista ruandense Paul Rusesabagina algemado acompanhado por policial
Paul Rusesabagina foi detido e processado depois que seu avião para Burundi aterrissou em RuandaFoto: Clement Uwiringiyimana/REUTERS

Um tribunal de Ruanda condenou Paul Rusesabagina a 25 anos de prisão nesta segunda-feira (20/09), por acusações relacionadas a terrorismo. Segundo as autoridades, o famoso opositor do governo local teria apoiado, a partir do exterior, um grupo rebelde em solo ruandense.

Atualmente com 67 anos e cidadão belga, Rusesabagina é celebrado como salvador de centenas de vidas durante o genocídio de 1994, no contexto da guerra civil ruandense. Suas ações inspiraram o filme Hotel Ruanda.

A Bélgica criticou o processo e a sentença: "Ao fim desses procedimentos legais, e apesar repetidos apelos da Bélgica sobre o assunto, deve-se notar que o Sr. Rusesabagina não se beneficiou de um julgamento correto", declarou o Ministério do Exterior em Bruxelas.

Militar retira algemas de um de vários homens de máscara protetora e uniforme cor-de-rosa, sentados em cadeiras
Rusesabagina foi julgado por envolvimento em terrorismo junto com 20 outros acusadosFoto: Simon WohlfahrtAFP/Getty Images

Genocídio, Hollywood, ativismo político

Paul Rusesabagina ganhou fama global após o lançamento de Hotel Ruanda, de Terry George, em 2004. A película hollywoodiana inspirou-se em seu papel como gerente do Hotel des Mille Collines, em Quigali, onde abrigou centenas de hóspedes da perseguição étnica que resultou em 800 mil mortos, sobretudo da etnia tutsi, entre abril e julho de 1994.

Crítico do regime de Paul Kagame, líder da Frente Patriótica Ruandense (RPF), que saíra vencedora da guerra civil, Rusesabagina deixou Ruanda em 1996, morando primeiro na Bélgica, depois nos Estados Unidos. Do exterior, criou uma plataforma global para advogar reformas políticas em Quigali, fundando o Movimento Ruandense pela Mudança Democrática (MRCD), do qual a Frente de Libertação Nacional (FLN) é considerada o braço armado.

O ex-hoteleiro foi preso em agosto de 2020 sob circunstâncias suspeitas, depois que um avião que tomara dos Emirados Árabes Unidos com destino Burundi aterrissou, em vez disso, na capital ruandense, Quigali. Ele foi incriminado de nove delitos, inclusive filiação a organização terrorista, financiamento de terrorismo, assassinato e assalto a mão armada.

As acusações se referem a atentados perpetrados ao longo de 2018 pela FLN, que mataram pelo menos nove civis. Rusesabagina teria supostamente coordenado a partir do exterior as vendas de armas envolvidas, usando a plataforma WhatsApp. Ele e seus familiares têm negado repetidamente qualquer envolvimento nos crimes.

"Processo mais político do que legal"

O julgamento de Rusesabagina e 20 outros réus começou em fevereiro, seis meses após sua prisão. Sua filha, Carine Kanimba, promete seguir lutando por libertação: "Esse veredito não significa nada, os sentimentos permanecem os mesmos para nós", disse à DW. "Meu pai foi detido ilegalmente antes desse veredito, ele ainda está detido ilegalmente."

Segundo Kanimba, seu pai foi sequestrado e segue sem acesso a uma equipe jurídica internacional. "Vamos continuar a campanha, esperamos que se tomem outras medidas políticas, meu pai é um preso político, precisamos de uma solução para esse problema."

Vincent Lurquin, advogado de Rusesabagina em Bruxelas teve permissão negada para representá-lo em Ruanda. "É um julgamento que já estava escrito de antemão. Então, estamos diante de um processo que parece mais formal, mais político, do que legal", afimou o jurista. "Não estamos dizendo que não haja nada nos registros, não estamos pedindo para que ele seja absolvido. Só pedimos que seja sentenciado de acordo com as regras normais da lei jurídica, o que não é o caso."

av (Reuters,AFP,ots)