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Berlim critica oferta dos EUA para tomar pesquisa de vacina

16 de março de 2020

"Não vamos derrotar o vírus agindo um contra o outro", diz ministro de Merkel após jornal revelar que Trump tentou assegurar direitos de potencial vacina contra novo coronavírus que vem sendo desenvolvida na Alemanha.

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Kroatien Treffen EU-Außenminister in Zagreb Heiko Maas
Além de Heiko Maas (foto), o ministro da Economia, Peter Altmaier, também criticou americanosFoto: Imago Images/photothek/J. Schmitz

O governo alemão criticou nesta segunda-feira (16/03) a ofensiva financeira do presidente dos EUA, Donald Trump, para adquirir uma potencial vacina contra o novo coronavírus, em desenvolvimento pela empresa alemã CureVac. O caso foi revelado no domingo pelo jornal alemão Welt am Sonntag, que apontou que Trump ofereceu uma grande quantia de dinheiro aos cientistas alemães para garantir o direito exclusivo sobre a vacina, em detrimento de uma colaboração internacional.

"Pesquisadores alemães desempenham uma posição de liderança no desenvolvimento de remédios e vacinas no âmbito de colaborações internacionais. Não podemos permitir que outros busquem a exclusividade dos resultados dessas pesquisas", disse hoje o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, ao grupo de mídia Funke.

Maass também salientou que a Alemanha procura uma maior cooperação para combater o novo coronavírus. "Nós só vamos derrotar esse vírus em conjunto, e não agindo um contra o outro", completou Maas.

No domingo, o jornal citou uma fonte anônima próxima do governo alemão dizendo que Trump está fazendo de tudo para obter o agente imunizador: o presidente teria oferecido "1 bilhão de dólares" para garantir que a vacina seja "apenas para os Estados Unidos".

Antes de Maas, o ministro da Economia, Peter Altmaier, já havia reagido à reportagem do Welt, que traz a manchete "Trump vs Berlim" em sua capa, afirmando que a "Alemanha não está à venda".

Altmaier ainda elogiou a empresa por não ser tentada pela oferta americana. "Foi uma ótima decisão", disse ele em um programa de televisão na noite de domingo. Ele também disse que o governo alemão "garantirá que a ajuda necessária esteja disponível" para a empresa no desenvolvimento da vacina. E ele alertou que o governo alemão deve intervir caso ocorra alguma tentativa de tomada hostil da empresa. "Quando se trata de infraestrutura importante e de interesses nacionais e europeus", disse ele, "agiremos se for necessário".

O bilionário alemão Dietmar Hopp, que detém a maior parte das ações da CureVac, também criticou a ofensiva de Trump, apontando que falta solidariedade ao presidente americano. "Assim que – e esperamos que seja em breve – conseguirmos desenvolver uma vacina eficaz contra o coronavírus, ela deve alcançar, proteger e ajudar as pessoas, não apenas num aspecto regional, mas, seguindo o espírito de solidariedade, em todo o mundo", disse Hopp.

Reações

O caso provocou fúria entre os partidos alemães "O que importa agora é a cooperação internacional, não o interesse nacional próprio", disse o deputado conservador Erwin Rüddel, membro do comitê de saúde do Parlamento alemão.

Christian Lindner, líder do Partido Liberal Democrático (FDP), acusou o presidente dos EUA de usar a questão para fins eleitorais, já que concorre à reeleição neste ano. "Obviamente, Trump usará todos os meios disponíveis numa campanha eleitoral", afirmou.

Por outro lado, uma autoridade dos Estados Unidos alegou à agência de notícias AFP que a reportagem do jornal alemão foi "exagerada". "O governo dos EUA conversou com muitas (mais de 25) empresas que afirmam poder ajudar com uma vacina. A maioria dessas companhias já recebeu financiamento inicial de investidores americanos", disse.

O funcionário também negou que Washington esteja tentando comprar uma vacina para mantê-la exclusivamente no país. "Continuaremos a conversar com qualquer empresa que diz poder ajudar. E qualquer solução encontrada será compartilhada com o mundo."

A CureVac, fundada em 2000, está sediada na cidade de Tübingen, no sudoeste alemão, e possui laboratórios em Frankfurt e em Boston, nos Estados Unidos.

A empresa trabalha hoje na fabricação de uma vacina contra o vírus Sars-Cov-2 em colaboração com o Instituto Paul Ehrlich, vinculado ao Ministério da Saúde alemão. A expectativa é ter uma vacina experimental até junho ou julho e, em seguida, obter aprovação para testes em pessoas.

Na semana passada, a CureVac surpreendeu ao anunciar que substituiu o então CEO Daniel Menichella por Ingmar Hoerr, apenas algumas semanas após Menichella se encontrar com Trump.

"Estamos muito confiantes de que seremos capazes de desenvolver uma potente candidata a vacina dentro de alguns meses", afirmara Menichella logo após o encontro em Washington, que também contou com o vice-presidente Mike Pence e representantes de empresas farmacêuticas.

Desde que o Sars-Cov-2 surgiu pela primeira vez em dezembro, mas de 162 mil casos foram registrados em mais de 130 países e territórios, com o número de mortos superando 6 mil. Quase 75 mil pessoas se recuperaram, a maioria na China.

O próprio Trump esteve próximo de algumas pessoas que testaram positivo para o coronavírus, incluindo o secretário de Comunicação do governo brasileiro, Fabio Wajngarten. O presidente realizou exames, que, segundo a Casa Branca, deram negativo.

JPS/ots

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