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Governo alemão calou perante ditadura argentina, afirma "Der Spiegel"

José Gayarre (bws)20 de maio de 2014

Segundo a revista, governo do então chanceler federal Helmut Schmidt não teria se empenhado no esclarecimento de crimes cometidos contra cidadãos alemães para não prejudicar relações entre os dois países.

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Foto: AP

De acordo com documentos citados esta semana pela revista Der Spiegel, o governo do ex-chanceler federal alemão Helmut Schmidt teria silenciado perante crimes cometidos pela ditadura militar na Argentina (1976-1983), sem pressionar pelo esclarecimento deles, incluindo os cometidos contra cidadãos alemães ou de origem germânica.

A revista teve acesso a documentos recentemente desclassificados pelo Ministério do Exterior da Alemanha e que indicam que o governo Schmidt (1974-1982) teria optado por uma "diplomacia do silêncio", mesmo ciente dos horrores praticados pelo regime argentino.

Conforme a reportagem, o então embaixador alemão em Buenos Aires, Jörg Kastl, teria se referido à junta militar no país americano como "o único caminho praticável", ao que parece diante da possibilidade de surgimento de outra ditadura ou de uma "aventura autoritária de esquerda" durante a Guerra Fria. O chefe para América Latina do Ministério do Exterior escreveu que a Alemanha estava interessada na continuidade do governo do ditador Jorge Rafael Videla. O semanário ainda afirma que o então vice-ministro do Exterior, Karl Mörsch, teria dito que os militares argentinos certamente não eram "ditadores cínicos".

O advogado Wolfgang Kaleck, porta-voz da Coalizão contra a Impunidade – organização dedicada a esclarecer crimes da ditadura – elogiou a revista pela publicação da reportagem. De acordo com a organização, o governo em Bonn não fez muito em favor das vítimas alemãs da ditadura argentina.

Para o jornalista Esteban Cuya, membro do Centro de Direitos Humanos de Nurembergue, o governo alemão teria informações sobre o golpe de Estado na Argentina três ou quatro semanas antes de ele ocorrer. E, durante o regime, diante do conhecimento de que algumas vítimas alemãs haviam desaparecido ou sido assassinadas, teria inicialmente tomado a decisão política de não informar as famílias com precisão.

De acordo com a matéria, se em público Schmidt reiterava que o respeito pelos direitos humanos e a proteção dos cidadãos alemães na Argentina eram prioridades do governo, internamente valia a posição do então chefe para América Latina, Karl-Alexander Hampe, de que a defesa dos direitos humanos não podia ir tão longe a ponto de causar danos permanentes à relação entre Argentina e Alemanha.

Também Kaleck vê nas relações comerciais um dos motivos para evitar esse "dano". Segundo ele, as relações comerciais entre os dois países cresceram durante a ditadura. Para Cuya, grandes contratos de empresas alemãs estavam em jogo. Não apenas no setor de armas, como afirma a Spiegel, mas também contratos de televisão para a transmissão a cores da Copa de 1978.

A reportagem afirma que cerca de 30 mil pessoas desapareceram durante a ditadura argentina. Entre elas, ao menos 74 seriam alemãs ou de descendência alemã.