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Frankfurt quer se tornar centro de transações em moeda chinesa

Danhong Zhang (ca)28 de março de 2014

Durante visita do presidente chinês, federações econômicas e financeiras da Alemanha fazem campanha para que metrópole se torne centro de negócios em moeda chinesa.

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Foto: picture-alliance/dpa

"Frankfurt, como centro financeiro da zona do euro e da Alemanha, é símbolo de estabilidade política e econômica e, por isso, seria um polo vantajoso", escreveram recentemente os presidentes de diversas federações econômicas e financeiras alemãs, incluindo o co-CEO do Deutsche Bank, Jürgen Fitschen, ao presidente chinês, Xi Jinping, que visita a Alemanha nesta sexta-feira (28/03).

O estado alemão de Hessen, onde se localiza Frankfurt, já manteve conversações com o Banco Central e com o Ministério do Comércio chineses. As esperanças da metrópole alemã, sede do Banco Central Europeu (BCE), estão num acordo fechado em outubro do ano passado entre o BCE e o Banco Popular da China.

O acordo garante ao BCE uma reserva de moeda chinesa (renminbi ou, popularmente, yuan) equivalente a 42 bilhões de euros nos próximos três anos. Isso significa que o BCE poderia intervir em caso de baixa liquidez do yuan, explica o economista Horst Löchel, da Frankfurt School of Finance.

Mas um gargalo como esse só acontece num ambiente de investimentos em larga escala, e há sinais de que isso pode vir a ocorrer. Empresas alemãs já podem abrir, em Frankfurt, uma conta bancária em yuan e efetuar nessa moeda seus negócios com a China. Um sétimo do comércio entre a Alemanha e o país asiático já está sendo contabilizado em yuan, diz o economista Markus Taube, da Universidade de Duisburg.

A abertura ao yuan reflete o crescente poder de mercado da China. "É claro que é sempre melhor quando se pode calcular na própria moeda", comenta Taube.

Concorrência com Londres

Fora da Ásia, só em Londres é possível comprar, em yuan, títulos não baseados em negócios da chamada economia real. "Londres está muito mais integrada no mundo financeiro. Além disso, no passado, a China se apoiou em Hong Kong, e lá os primeiros passos foram tomados", explica Taube.

Assim, em 2007 foram emitidos na ex-colônia britânica os primeiros títulos da dívida em yuan, também denominados "títulos Dim Sum". "Por isso existe uma certa afinidade, que poderia fazer com que a China eventualmente tendesse mais para o lado de Londres."

Para Löchel, os dois centros financeiros não estão necessariamente concorrendo. "Londres é o maior mercado de capitais do mundo. Mas quanto ao mercado de ações de empresas, como também quanto a toda a liquidação de pagamentos internacionais referentes a bens e serviços, Frankfurt está à frente."

Além disso, Frankfurt se apoia na economia mais forte da Europa. A Alemanha é o maior parceiro comercial dos chineses na Europa, e a China é o principal parceiro comercial da Alemanha na Ásia. Essas relações estreitas poderiam se reforçar ainda mais se o Estado chinês ou empresas chinesas pudessem emitir títulos em Frankfurt, arrecadando capital. Dessa forma, as empresas alemãs poderiam financiar seus investimentos diretos na China.

Outra política econômica

Ainda resta um longo caminho até que o yuan se torne livremente negociável, competindo com o dólar como moeda internacional. Quanto à abertura do setor financeiro, até agora a China tem sido cautelosa demais, aponta Taube. "A compreensão de mercado dos chineses não é necessariamente a mesma que a nossa. A China ainda acredita que pode manter o mercado numa espécie de gaiola."

Foi graças a esse curso prudente, no entanto, que a China passou relativamente incólume pela crise financeira. Por outro lado, a crise atual está forçando Pequim a promover a internacionalização do yuan mais rapidamente para se libertar da dependência do banco central americano: a política ultraliberal do Fed desvalorizou os 3 trilhões de dólares em reservas chinesas.

Precisamente por esse motivo, a nova liderança decidiu afrouxar ainda mais as rédeas da moeda, para acelerar a mudança do modelo de crescimento, ou seja, "para se distanciar das exportações baratas e apostar mais no consumo interno, reduzindo assim a dependência das exportações como um todo, de forma a evitar os efeitos negativos de novas valorizações do yuan sobre o crescimento chinês", diz Löchel.

Ao mesmo tempo, a China vai tentar manter o equilíbrio, permitindo investimentos significativos em yuan sem expor a moeda a especulações cambiais – o que, por sua vez, dá a Frankfurt um argumento forte para se tornar um mercado para a moeda chinesa

Segundo reportagem da revista de economia Wirtschaftswoche, ainda é incerto se uma declaração de intenções nesse sentido será assinada durante a visita de Xi: observadores no centro financeiro de Frankfurt temem que a visita do Dalai Lama à cidade, planejada para maio, venha a comprometer ou atrasar o projeto.